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Muzambinho-MG guarda com orgulho trave da final da Copa do Mundo de 50

Historiador e moradores relatam orgulhosos a chegada das traves à cidade,
mesmo diante da "maldição" após a perda do título do Brasil para o Uruguai

Por Muzambinho, MG

O que aconteceu debaixo das traves do Maracanã na final da Copa de 1950 é lembrado até hoje. A derrota por 2 a 1 para o Uruguai calou os mais de 200 mil torcedores presentes no estádio no Rio de Janeiro. O jogo ficou marcado como a mais trágica história do futebol brasileiro, e no final da década de 50 as traves viajaram mais de 500 quilômetros e foram parar em Muzambinho. Atualmente, a população de 20 mil habitantes ocuparia apenas 10% do Maracanã no dia daquela final, mas foi na pequena cidade do sul de Minas Gerais que as traves ganharam uma nova história (assista ao vídeo).

- O prefeito da época em Muzambinho tinha um concunhado que era um dos administrados do Maracanã, e através dele arrumou um jeito das traves virem para cá - recorda o ex-goleiro Amir Allen, ao citar as traves que seriam “amaldiçoadas”.

Quando as traves chegaram na cidade, elas foram colocadas no Estádio Municipal Professor Antônio Milhão. A fama das traves do Maracanã atraiu times do Brasil inteiro. Uma das partidas mais marcantes que o Muzambinho Esporte Clube encarou foi contra o Fluminense, e os donos da casa conseguiram um feito surpreendente.

- A gente dizia que o empate do Muzambinho com o Fluminense era como se ganhasse a Copa do Mundo - diz o contador Celinho Sales.

- Aquele jogo era difícil, porque o time do Fluminense era profissional. Eles fizeram 1 a 0 e depois teve um pênalti a nosso favor, e Adolfo Vieira “Corote” chutou e furou a rede, tão forte que esse moço chutava. Tivemos muitas vitórias e muitas alegrias com essas traves em Muzambinho - conta o ex-zagueiro Jairo Rondinelli.

Trave da Copa de 50 em Muzambinho (Foto: Reprodução/ SporTV)Trave chegou a ficar em estádio na zona rural de
Muzambinho (Foto: Reprodução/ SporTV)

Aos 89 anos, Corote ainda tem na memória o lance marcante diante do time comandado por Telê Santana. E admite que ficou nervoso na ocasião.

- Quando me chamaram para bater o pênalti fiquei até meio bambeado, mas eu tinha confiança em mim e fui e bati.

Celinho Sales lembra que após deixar o Estádio Antônio Milhão, as traves foram colocadas no Estádio Jair da Silva no Alto do Anjo. Mais tarde, o novo local também desejou traves com  contornos arredondados e as antigas tiveram que arrumar um novo endereço, e assim foram doadas para o estádio da zona rural, Seu Nivaldo Sandy.

- Era um prazer grande demais, porque na zona rural todo mundo vinha e falava: essas traves que vieram do Maracanã? O pessoal se sentia até emocionado também por jogar num campo que tinhas as traves do Maracanã - contou o produtor rural Antônio Carlos Sandy.

E foi nesse local que elas ficaram por mais de dez anos, até que um Eucalipto caiu e quebrou umas das balizas. Depois, elas se aposentaram do campo e se tornaram peça de museu.

Ghiggia com pedaço da trave da Copa de 50 (Foto: Reprodução/ SporTV)Ghiggia autografou no Uruguai um pedaço da trave
em que marcou gol do título (Reprodução/SporTV)

- Elas fazem parte da história do futebol brasileiro e deveriam ser preservadas. Elas estavam expostas ao tempo, em condições precárias, e se elas continuassem ali iam se perder - afirmou o historiador Fernando Magalhães.

Em 2000, 60 anos depois da final da Copa, uma das traves foi restaurada e levada para a Casa de Cultura de Muzambinho. Ela foi cortada para caber na casa. Um dos pedaços que não foi restaurado ficou na casa da família Sandy, outra parte pertence a Fernando Magalhães, outro muzambiense que, de tanto ouvir a história da Copa de 50, foi ao Uruguai conhecer Ghiggia, que deixou mais uma marca na trave, desta vez com sua assinatura.

- Aqui na cidade sempre se diz que eram as traves da Copa do Maracanã da Copa de 50 e ninguém nunca questionou isso - disse Fernando.

O historiador da cidade de Muzambinho acredita que a afirmação de que as traves teriam na verdade sido queimadas surgiu para apagar a memória sofrida do desfecho da final do Mundial de 50, principalmente para o goleiro brasileiro Barbosa, responsabilizado pelo gol da vitória uruguaia.

- Entre todas as histórias que se ouve a respeito dessa trave do Maracanã, a verdadeira é a nossa, isso posso te garantir - diz sem titubear Amir Allen.

- Se tivesse queimado eu não tinha ela na minha casa - completa Antônio Carlos Sandy.

Para ajudar a esclarecer a dúvida sobre a autenticidade da baliza, um pedaço da madeira está sendo analisado no Laboratório de Anatomia da Madeira, na Universidade Federal de Lavras, também no Sul de Minas Gerais.

Trave da Copa de 50 em Muzambinho (Foto: Reprodução/ SporTV)Parte das traves está num museu de Muzambinho, guardada com orgulho (Foto: Reprodução/ SporTV)