Economia

Senado dos EUA aprova projeto para reabrir governo e elevar teto da dívida

‘Brigamos a boa briga, apenas não ganhamos’, disse o republicano John Boehner, presidente da Câmara, admitindo derrota
O republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Deputados dos EUA Foto: Pete Marovich / Bloomberg
O republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Deputados dos EUA Foto: Pete Marovich / Bloomberg

WASHINGTON - No limite do prazo para evitar a possibilidade de um inédito calote dos EUA e após 16 dias de apagão administrativo, o Senado americano aprovou por volta de 21h15, por 81 votos a 18, acordo fechado pela manhã para reabrir o governo até o dia 15 de janeiro e elevar até 7 de fevereiro o teto de endividamento federal, que será alcançado à uma hora da manhã. A Câmara apreciará o texto em seguida, para enviá-lo à sanção do presidente Barack Obama.

A oposição foi obrigada a capitular diante da iminência de default e do estrago na popularidade do partido, mesmo diante da resistência da ala radical, que até o último minuto quis mudanças na reforma da saúde. Com os EUA praticamente afastando o risco de catástrofe econômica, os mercados comemoraram aliviados com forte alta das Bolsas e os republicanos - promotores da mais sangrenta e ameaçadora batalha fiscal americana em dois anos - saíram de mãos abanando, com apenas uma alteração superficial na chamada Obamacare.

Mais cedo, o presidente da Câmara dos EUA, republicano John Boehner, reconheceu derrota dos republicanos na atual batalha fiscal no Congresso e afirmou que "com certeza" colocará em votação em plenário, sem emendas, o acordo que o Senado aprovar para reabrir o governo, com portas parcialmente fechadas há 16 dias, e para elevar o teto da dívida federal, que será alcançado à meia-noite de hoje, o que poderia levar os EUA a não ter dinheiro para quitar integralmente suas faturas e eventualmente decretar calote. A decisão deixa os Estados Unidos muito próximos de sepultar o risco de um inédito default, que teria graves consequências para a economia global.

Pouco antes da votação no Senado, a Casa Branca emitiu uma nota, encorajando o trabalho dos parlamentares.

"O governo exorta que o Congresso atue rapidamente para passar a lei e proteger a confiança completa e o crédito dos Estados Unidos, encerrando a paralisação do governo", diz o comunicado.

Mesmo que a votação não seja concluída hoje ou não haja tempo hábil para o presidente Barack Obama assinar a lei, os EUA estariam tecnicamente livres do risco de calote. Isso porque o Tesouro tem US$ 30 bilhões em caixa, para cobrir um déficit diário médio de US$ 3 bilhões. Não há nenhum pagamento de grande valor programado para quinta e sexta, especialmente de juros ou principal da dívida. Eles começam a aparecer no cronograma dia 23.

Líder republicano: 'brigamos a boa briga'

Boehner reconheceu que não há outra alternativa para os deputados republicanos a não ser jogar a toalha na atual batalha, diante da iminência de um default. Para ele, há condições de encerrar o apagão administrativo já nesta quinta-feira.

- Brigamos a boa briga, apenas nós não ganhamos - disse Boehner em entrevista a uma emissora de rádio de Ohio, estado que representa na Câmara. - Continuaremos a batalha (contra a Obamacare e aumentos de impostos), mas bloquear o acordo fechado pelo Senado hoje não é uma boa tática para nós.

Os republicanos devem se focar agora na formatação do Orçamento deste ano e no plano fiscal de dez anos proposto pelos senadores, para evitar que os democratas consigam aumentar impostos e gastos. E em criar novos espaços para debater e obter mudanças na reforma da saúde.

- Vou encorajá-los (deputados republicanos) a votar com o Senado. Não há razão para que nossos membros votem não hoje - disse Boehner.

A decisão de Boehner vai acelerar o processo de tramitação e aprovação do acordo pelo Congresso. Mas também ameaça a sua permanência no cargo. A capitulação é uma afronta à ala radical do partido, arquiteta da estratégia fracassada de patrocinar o fechamento do governo e ameaçar empurrar o pais ao calote em troca da derrubada ou do adiamento da implantação da reforma da Saúde.

Com a decisão de encaminhar o voto, Boehner está abandonando uma regra informal da Casa, pela qual só vai a plenário o texto que tem o apoio da maioria do partido que comanda a Câmara, no caso, o Republicano. Na contabilidade de deputados democratas, Boehner teria menos de 100 dos 117 votos necessários na sua base. Há 232 deputados republicanos.

A líder da minoria, Nancy Pelosi, terá que entregar o máximo de votos democratas para que o acordo passe na casa. Dos 200 deputados democratas, entre 195 e 198 votos estão assegurados. Como o projeto precisa de 218 votos para passar na Câmara, o assunto parece estar tecnicamente encerrado.