Economia

Brasil não vive situação de pleno emprego e sofre falta de mão de obra de baixa qualificação, diz Ipea

Segundo Marcelo Neri, sobram vagas na agricultura, construção civil e no trabalho doméstico

RIO - O mercado de trabalho brasileiro teve um desempenho surpreendente no ano passado, sobretudo diante do fraco crescimento da economia, mas o país não vive uma situação de pleno emprego e nem um “apagão” de mão de obra qualificada. Estas são as principais conclusões do estudo divulgado nesta segunda-feira pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) e ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, e pelo coordenador de Pesquisas de Trabalho de Renda do Ipea, Gabriel Ulyssea.

- O mercado de trabalho em 2012 teve um desempenho surpreendente à luz do que aconteceu com a economia. Houve um crescimento de 6,5% da renda por pessoa em idade ativa no ano passado, muito acima do PIB e uma estabilização da desigualdade. E os dados também mostram que o grande apagão de mão de obra se dá nas ocupações pouco qualificadas, como por exemplo, agricultura, construção, civil, trabalho doméstico, então o grande apagão de mão de obra está na base da pirâmide educacional - afirmou Marcelo Neri.

Os dados levantados pelos pesquisadores com base nos números da Pesquisa Nacional Por Amostra de Domicílio mostram ao longo dos últimos dez anos mostram que essas são categorias que vem tendo os maiores ganhos de renda, por causa de reajustes salariais mais elevados e redução na oferta de mão de obra. Em 2012, os trabalhadores de salários mais altos tiveram ganhos ligeiramente mais altos, o que fez com que a desigualdade parasse de cair naquele ano.

- Os dados do IBGE não mostram que há escassez de obra qualificada. É possível que existam indústrias ou ocupações pontuais que tenham sofrido falta de especialistas ou técnicos em algumas áreas, mas de maneira geral no mercado de trabalho há uma expansão de oferta de trabalhadores qualificados, com ensino superior incompleto ou completo queda de diferenciais de salários desses profissionais no mercado. Então, a quantidade aumentando e o preço caindo não é compatível com uma ideia de escassez - explicou Gabriel Ulyssea.

Os pesquisadores também discordaram da ideia de que país estaria em pleno emprego, porque apesar da taxa de desemprego estar atingindo os menores percentuais da história, a participação também está muito baixa, ou seja, há uma grande parcela de pessoas em idade ativa que opta por não trabalhar, sobretudo entre as mulheres e jovens.

- Apesar da taxa de desemprego muito baixa, o que poderia ser motivo de preocupação, entre aqueles em idades produtivas que poderiam estar no mercado de trabalho, aqueles que de fato o fazem ainda são um percentual baixo. A gente poderia ampliar essa participação, especialmente entre as mulheres e os jovens, de 15 a 24 anos, e com isso, diminuir a pressão sobre o mercado de trabalho - diz Ulyssea.

Para o presidente do Ipea, os números levantados pelos IBGE não deixam dúvidas.

- Os números não permitem falar de pleno emprego emprego, os números até 2012. Agora talvez os salários estejam aumentando, o que talvez seja um sinal de pleno emprego, mas os números não corroboram a ideia de apagão de mão de obra qualificada e nem de pleno emprego - analisa Neri.