Economia

Para FMI, Brasil precisa ‘manter casa macroeconômica em ordem’

Diretor do departamento de Estudos Econômicos Mundiais do organismo disse que o Banco Central demonstrou determinação na condução da política de juros no combate à inflação

WASHINGTON - Após, em dobradinha com o ajuste fiscal, ter exagerado na dose em 2011, o que ajudou a desacelerar a economia, a política monetária brasileira caminha na direção correta e reconquistou credibilidade, na avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI). Às vésperas de mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o diretor do departamento de Estudos Econômicos Mundiais do organismo, Thomas Heibling, disse que o Banco Central (BC) demonstrou determinação em reafirmar as diretrizes da condução da política de juros no combate à inflação.

Com a escalada da variação de preços nos últimos anos, houve dúvidas no mercado se o Brasil estava abandonando informalmente o regime de metas de inflação e focando primordialmente na taxa de crescimento. Isso foi um dos motivos pelos quais as expectativas para o comportamento do IPCA desancoraram no passado recente.

- O Brasil, ao apertar a política monetária em um ambiente no qual a inflação se movia em direção ao teto da banda (da meta de 4,5%, que pode variar dois pontos percentuais para mais ou menos), mostrou sua determinação em manter o arcabouço da política monetária e restabelecer, ou estabelecer, o fato de que este arcabouço está valendo e tem credibilidade. Isso está sob o guarda-chuva da mensagem central de “mantenha sua casa macroeconômica em ordem” e foi confirmado - disse Heibling, que não fez comentários sobre a política fiscal na entrevista sobre as novas projeções do Fundo, embora arrumar as contas públicas e reduzir o endividamento federal sejam duas recomendações do organismo ao Brasil no relatório “World Economic Outlook.

Para o diretor, em retrospectiva, as políticas fiscal e monetária brasileiras talvez tenha sido conservadoras em demasia em 2011, contribuindo para a desaceleração acentuada da atividade - depois de expandir-se 7,5% em 2010, o Brasil apresentou alta de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano seguinte. Em 2012, houve quase estagnação, com crescimento de 0,9%. Tanto em 2013 quanto em 2014, segundo o FMI, a atividade crescerá 2,5%.

Mas Helbling minimizou as perdas, afirmando que “tem sido um ambiente difícil de navegar”:

- De um lado, eu acho que o Banco Central, em 2011, reconhecendo que a economia estava superaquecendo, começou a apertar a política monetária. Ao mesmo tempo, a crise na zona do euro estava se revelando, e outros ambientes externos menos favoráveis, os mercados de commodities tomaram direção diferente. Então, foi um ambiente difícil para acertar a política macroeconômica.

Atualmente, o desafio é a instabilidade do mercado financeiro internacional, provocada sobretudo pela expectativa de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) vai começar a reduzir o programa de estímulo (quantitative easing – QE) em algum momento ainda em 2013. O Brasil sofreu fuga de capitais, o que provocou significativa desvalorização do real frente ao dólar. Mas Heibling demonstrou tranquilidade com o manejo brasileiro da situação:

- Os ingredientes têm estado lá. Uma boa resposta para a alteração de fluxos de capitais é deixar a taxa de câmbio se ajustar e isso claramente aconteceu no Brasil.

Em termos de recomendação geral, Heibling afirmou que o Brasil precisa reduzir gargalos na área de infraestrutura e diminuir o descompasso entre os investimentos públicos e privados.

- Na medida em que isso for resolvido, eu acho que não haverá armadilha (ao crescimento econômico) - avaliou Helbling.