Economia

Reajuste da gasolina será feito de olho na inflação

Governo não seguirá fórmula proposta por Petrobras
Sem metodologia. Mais do que aliviar o caixa da Petrobras, o governo quer imprimir a marca de que a inflação está estável ou em trajetória de queda Foto: Daniel Acker / Bloomberg
Sem metodologia. Mais do que aliviar o caixa da Petrobras, o governo quer imprimir a marca de que a inflação está estável ou em trajetória de queda Foto: Daniel Acker / Bloomberg

BRASÍLIA - O aumento da gasolina previsto para este ano não será definido com base na nova metodologia anunciada pela diretoria da Petrobras ao conselho de administração da companhia, na semana passada. O reajuste que o governo deverá aplicar ao preço dos combustíveis resultará de uma “conta de chegada” para que o impacto não leve a inflação medida pelo IPCA para um percentual acima de 5,84% no ano, o mesmo registrado em 2012.

Mais do que aliviar o caixa da Petrobras, o governo quer imprimir a marca de que a inflação está estável ou em trajetória de queda. No entanto, até setembro, o IPCA já acumula 3,79% e, nos últimos 12 meses, chega a 5,86%. Por exemplo, se os técnicos do governo chegarem nas próximas semanas à conclusão de que existe uma folga de 0,2 pontos percentuais entre a projeção do IPCA para o ano e esse teto, poderia ser aplicado ainda no fim de 2013 um reajuste nos combustíveis limitado a esse impacto.

Na avaliação de técnicos do governo, diante da projeção de defasagem de 6% no preço da gasolina em relação aos preços internacionais, a saída seria autorizar um reajuste menor agora e o resto ficaria para o ano que vem. A cúpula do governo concorda e apoia que a Petrobras tenha uma perspectiva de reajustes dos combustíveis mais clara e com critérios mais previsíveis, mas tem se sentido encurralada pela estatal desde que a nova metodologia foi apresentada pela diretoria da empresa ao conselho, no início da semana.

Diferentemente do óleo diesel, o peso da gasolina no IPCA é significativo, de quase 4%. Nesse sentido, se o reajuste for de 5%, o impacto direto do aumento no IPCA seria de 0,2 ponto percentual. Portanto, por essa simulação, se a projeção do IPCA feita pela área técnica do governo apontar a algo como 5,64% no fim do ano, haveria espaço para um reajuste de 5% na gasolina. Se a perspectiva for mais do que isso, a margem para o reajuste cai, e vice-versa.

Se o reajuste for aplicado em dezembro, não haveria tempo para impactos indiretos significativos do preço do combustível no índice de inflação oficial deste ano. Ou seja, quanto mais cedo ocorrer o aumento, menor o controle sobre o seu impacto indireto no IPCA.

- É mais fácil sair um reajuste menor agora e o resto ficar para o ano que vem - disse uma fonte do governo, referindo-se à defasagem de 6% reconhecida pelo Ministério de Minas e Energia e pela Petrobras no valor da gasolina em relação aos preços externos.

O governo se sente pressionado por declarações que atribui a pessoas ligadas à Petrobras sobre a definição da nova metodologia de reajustes automáticos. Nesta quinta-feira, uma fonte qualificou de “absurda” a hipótese de a metodologia de aumentos - ou quedas - do combustível acontecer livremente com base no preço da gasolina no mercado americano.

O governo por enquanto não aceita, por exemplo, que um petróleo explorado aqui e refinado também no Brasil seja vendido ao consumidor brasileiro por preços com base no mercado dos EUA, sem nenhum tipo de controle com vistas a moderar o seu impacto inflacionário.

Nessa linha, é pequena a probabilidade de a proposta de metodologia para reajustes da Petrobras ser aprovada exatamente conforme formulada pela diretoria da empresa, ainda que a presidente Dilma Rousseff e a equipe econômica aceitem e concordem com a definição de um método com previsibilidade e periodicidade para a aplicação de reajustes.

- Esses cálculos não são do governo, não será desse jeito - disse nesta quinta a fonte.