01/10/2015 06h00 - Atualizado em 01/10/2015 18h17

'Perdido em Marte' exalta ciência em filme leve e divertido; G1 já viu

Ridley Scott faz adaptação fiel e se distancia de 'Alien' e 'Blade Runner'.
Adaptação de best-seller mostra astronauta deixado no planeta vermelho.

Bruno Araujo Do G1, em São Paulo

O que você faria se fosse abandonado em uma cidade que não conhece? Provavelmente pediria ajuda em uma loja, talvez desse uma pesquisada no Google por direções. Mas e se não fosse uma cidade e sim um planeta? E olha que esse planeta é Marte: inabitado, impróprio para a vida e a três anos de distância da Terra. Senta e chora? Não para o astronauta Mark Watney.

Essa é a história de "Perdido em Marte", filme de Ridley Scott que estreia nesta quinta-feira (1º) no Brasil. E assim como o livro best-seller em que se baseia, a superprodução estrelada por Matt Damon é mais científica do que ficção, exaltando a importância da ciência como conhecimento e não apenas como contexto de uma história. Assista ao vídeo acima.

Mas é só para quem gosta de ficção científica? Ou dá para ver com o "date"?
"Perdido em Marte" é tão leve e divertido que nem parece dirigido por Ridley Scott, cineasta conhecido por seus filmes épicos e por duas das maiores produções de ficção científica de todos os tempos, "Alien" (1979) e "Blade Runner" (1982).

Após ser dado como morto em uma missão a Marte, Mark Watney não joga a toalha e espreme seus conhecimentos para sobreviver no planeta vermelho até a próxima expedição chegar, plantando batatas em solo infértil e até catalisando água.

Ao mesmo tempo, ele é o astronauta mais "gente como a gente" que você vai ver no cinema por um bom tempo. Apesar do peso de sua inteligência, Watney é bem-humorado e lida com seu abandono de forma muito espirituosa. É bem difícil não simpatizar com a causa, já que ele consegue tratar de sua condição com leveza e sarcasmo invejáveis. O cara está lá tirando sarro de estar perdido em Marte e você aí reclamando da fila do busão.

Matt Damon em cena do filme 'Perdido em Marte', de Ridley Scott (Foto: Giles Keyte/Fox Film/Divulgação)Matt Damon em cena do filme 'Perdido em Marte', de Ridley Scott (Foto: Giles Keyte/Fox Film/Divulgação)

Por outro lado, esse comportamento "good vibes" acaba sendo um pouco monótono quando levado para as telonas. Se no livro de Andy Weir é instigante acompanhar como (e não se) o astronauta vai resolver os problemas que brotam na sua frente, no filme falta um pouco de gravidade nos conflitos e dilemas pós-solidão em Marte. Isso torna o personagem meio raso quando comparado com os de "Prometheus" (2012), por exemplo, para se manter nas obras de Ridley Scott.

Felizmente, não acaba sendo o mais importante em meio ao embasamento astronômico, químico e físico que Weir usou para justificar todos os procedimentos da Nasa e as técnicas de Watney, e que permanece no filme. Isso faz de "Perdido em Marte" uma representação muito palpável de como será a chegada da humanidade ao planeta, atendendo amantes de ciência, curiosos por Marte e aqueles que gostam de uma história bem contada.

Mas Ridley Scott dirigiu "Alien" e "Blade Runner"! E aí?
Apesar de não estar brilhante, Ridley Scott é responsável por mostrar o que possívelmente é a representação mais racional (e bela) de Marte que já vimos, sem alienígenas verdes, construções tiradas da década de 1980 ou coisas do tipo. Scott usa a mão boa para paisagens panorâmicas e a eterna atenção a detalhes para criar um grande deserto vermelho, mas que tem lá a sua beleza justamente por ser esse grande mistério.

Matt Damon em 'Perdido em Marte' (Foto: Divulgação)Matt Damon em 'Perdido em Marte' (Foto: Divulgação)

Outro ponto positivo para Scott e o roteirista Drew Goddard ("O segredo da cabana") é que eles conseguem aliviar um pouco do blábláblá do Mark Watney original. Por ser organizado em formato de diário, o livro usa tantos termos técnicos que às vezes parece mais ser um enunciado de prova de exatas. E isso é mais bem resolvido no filme.

No papel de Watney, Matt Damon também não é genial, mas consegue representar bem essa ideia de astronauta-nerd-gente-boa. Porém, ele não deve ser lembrado para um Oscar pelo fato de o filme não apostar no lado psicológico do personagem, além de não ter rolado nenhuma daquelas mudanças físicas radicais que a Academia adora prestigiar.

Em uma cena, Watney até aparece mais magro por causa de sua alimentação, mas Damon nitidamente usou um dublê de corpo. Fica aqui também um asterisco para a sub-utilização de Kristen Wiig no filme. A atriz, uma das expoentes da comédia norte-americana, aparece pouco na tela e seu papel na produção nunca fica muito bem definido. Se ela serve para divertir, como um alívio cômico à sisudez da Nasa, representada pelo papel de Jeff Daniels, ou se ela é atarefada por ser a chefe de relações públicas da organização.

Matthew McConaughey, Anne Hathaway e David Oyelowo em cena de 'Interestelar', de Christopher Nolan (Foto: Divulgação)Matthew McConaughey, Anne Hathaway e David Oyelowo em cena de 'Interestelar', de Christopher Nolan (Foto: Divulgação)

Eu adorei "Interestelar", do Christopher Nolan. Vou gostar de "Perdido em Marte"?
É inevitável comparar o novo de Ridley Scott com as filosofias de buraco negro de Nolan. Primeiro por "Interestelar" ser um filme recente, do ano passado. Segundo por ele ser dirigido por um novo peso-pesado da ficção científica.

"Perdido em Marte" é um filme blockbuster, sem grandes aspirações elevadas de cinema, uma ficção científica para as massas que também consegue massagear o ego dos nerds por ciência. "Interestelar" é o contrário. É denso, filosófico, uma piração.

Mark Watney não tem a mesma intensidade de sacrifício que Cooper. E sua equipe da Nasa está longe dos mesmos nervos à flor da pele que Murphy, filha de Cooper interpretada em "Interestelar" por Jessica Chastain, que também atua em "Perdido em Marte"

Porém, o filme novo de Ridley Scott não exige que você faça anotações num caderninho para entender as teorias do diretor. Então fica aí a pensata.

 

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