Política

Flávio Bolsonaro acusa Paulo Melo de censura durante homenagem a militares na Alerj

Vídeo sobre a guerrilha, que seria exibido pelo deputado, saiu do ar durante a transmissão

Flávio Bolsonaro faz sessão para “enaltecer e agradecer os militares de 64”, na Alerj
Foto: O Globo / Paula Ferreira
Flávio Bolsonaro faz sessão para “enaltecer e agradecer os militares de 64”, na Alerj Foto: O Globo / Paula Ferreira

RIO — O Deputado Estadual Flávio Bolsonaro (PP) acusou o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), deputado Paulo Melo, de censura, durante uma sessão de homenagem a militares nesta segunda-feira. A cerimônia foi interrompida após um vídeo sobre ex-guerrilheiros de esquerda, feito pelo Deputado Federal Jair Bolsonaro (PP), sair do ar durante a transmissão pela TV Alerj.

Flávio Bolsonaro, que inicialmente havia parabenizado o presidente da casa pela iniciativa de autorizar a sessão solene em homenagem ao Golpe, se revoltou com o incidente :

— Como não estou conseguindo falar com ele (Paulo Melo), estou presumindo que, infelizmente, tenha havido uma ordem da presidência da casa para tirar do ar a nossa solenidade.

Durante mais de uma hora, Flávio Bolsonaro esperou pela restituição do vídeo que, de acordo com ele, serviria para mostrar quem são aqueles que as pessoas "insistem em chamar de heróis". Nos quase três minutos de vídeo, que chegaram a ser veiculados antes da interrupção, apareceram figuras como Fernando Gabeira e Franklin Martins contando sobre suas atuações na militância de esquerda.

— Quase duas horas de censura, fora do ar. Que essa pequena demonstração sirva de alerta.

A solenidade prosseguiu sem a retomada do filme, o deputado homenageou o grupo Terrorismo Nunca Mais, composto por militares da reserva e que surgiu em oposição ao Tortura Nunca Mais. O presidente da organização, General Valmir Fonseca Azevedo, foi quem recebeu a placa de reconhecimento. Além dele, o Tenente Coronel Lício Augusto Ribeiro, que lutou contra a guerrilha no Araguaia, também foi homenageado. Na cerimônia, os deputados e os homenageados se referiam aos guerrilheiros como "marginais" e "terroristas".

— Nunca bati em um pistoleiro. Hoje dizem que eu sou torturador — afirmou, irritado, o Tenente Coronel Lício Augusto Ribeiro.

Críticas duras à Comissão da Verdade permearam toda a solenidade. Flávio Bolsonaro se referiu ao grupo como "Comissão da Calúnia" e disse que apenas um dos lados está sendo ouvido nas investigações. Já o deputado Jair Bolsonaro, foi taxativo sobre as acusações de tortura reveladas em depoimentos à comissão:

— Quem entra numa guerra sabe de suas consequências. Quem foi treinar na China, na Coréia do Norte ou em Cuba, não foi lá estudar nada voltado aos Direitos Humanos e sim táticas de guerrilha, de terror, de tortura e de sequestro. Eles trouxeram isso para cá, provaram do próprio veneno.

Cerca de 50 pessoas compareceram à sessão, entre elas, organizadores da Marcha da Família com Deus Pela Liberdade, que seguram cartazes de protesto contra o socialismo e a favor das Forças Armadas.

O presidente da Assembleia, Paulo Melo, foi procurado pelo GLOBO para responder às acusações de Bolsonaro, mas não foi localizado. A assessoria da casa, se pronunciou por meio de nota dizendo que defende qualquer manifestação de pensamento, independente de orientações políticas. E declarou ainda que "tal liberdade se reflete no Parlamento, com seus parlamentares livres para expressar o que pensam sem restrições."