Ela Decoração

Designer faz móveis de seringueira

Fernando Jaeger está sempre pesquisando madeiras e valoriza o trabalho de marcenaria fina
Fernando Jaeger: design acessível e autoral Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Fernando Jaeger: design acessível e autoral Foto: Leo Martins / Agência O Globo

RIO - Desde que começou a trabalhar como designer, há 35 anos, o gaúcho Fernando Jaeger colocou na cabeça que queria fazer algo de qualidade, mas, ao mesmo tempo, acessível e sustentável. Nada mais na moda nos dias de hoje. Criada em 1994, sua grife valoriza a arte dos mestres marceneiros, mesclada ao olhar autoral e moderno do designer.

Fernando já rodou o Brasil em busca de novos tipos de madeira. Criador incansável, ele não para de pesquisar. No ano passado, se deparou, a convite de um grupo de produtores, com a seringueira, árvore plantada para a produção do látex e que tradicionalmente tinha a madeira usada apenas para a queima. Acabou criando a linha Nômade, com mesas de centro e lateral, e a mesa Loft. Até o fim de 2015, promete lançar uma nova peça com esse tipo de matéria-prima.

— Na Indonésia, ela já vem sendo usada para móveis. Por aqui, ainda é pouco conhecida no mercado de móveis, ainda existe uma certa desconfiança — explica.

Fernando Jaeger é dono de duas marcas. A primeira é a Atelier, de marcenaria fina e cujas peças são produzidas sempre sob medida. Já a segunda é a Pronto Para Levar, cujo design é mais acessível. Hoje são seis lojas: quatro em São Paulo e duas no Rio. Fernando explica que tudo o que faz é produzido aqui mesmo no Brasil, com uma equipe formada por mais de 80 funcionários, além de 12 indústrias e fornecedores nacionais. Para ele, a crise ainda não deu as caras.

— Focar na produção brasileira dá um trabalho danado, porque você tem que mudar a cabeça do marceneiro, do serralheiro. Mas alguns deles já estão comigo há mais de 30 anos e entendem perfeitamente o que eu prezo. Estamos produzindo bastante e colhendo frutos, já que muitos importados ficaram inviáveis com a alta do dólar. De janeiro a julho, crescemos 14,5%. É um número interessante, fruto do nosso trabalho, da nossa persistência.

A poltrona Felipe: madeira e fibra natural Foto: divulgação / Divulgação
A poltrona Felipe: madeira e fibra natural Foto: divulgação / Divulgação

Jaeger desenvolve as ideias e conta com as indústrias parceiras para a produção e a distribuição das peças nas suas seis lojas. Em 2014, ele vendeu 50.398 itens, o que gerou um total de R$ 37 milhões em vendas.

Na infância, Fernando já era designer, mesmo sem saber. Seu passatempo preferido era criar aviões, carros e motos nas folhas do caderno de escola. Anos depois, pensou em fazer Medicina porque diz que nem sabia da existência da faculdade de Design. Acabou descobrindo a tempo e veio para o Rio estudar Desenho Industrial, na UFRJ. Depois de formado, no início dos anos 80, foi trabalhar numa fábrica sediada em Vicente de Carvalho. A partir daí, tudo aconteceu.

A empresa criada por ele permanece familiar, com direito a cunhados na equipe também. O designer trabalha ainda com a mulher, Yaskara, e dois dos três filhos — Felipe, o mais velho, fotografa os catálogos, e Marina cuida do marketing e da área administrativa. Já Theo, o mais novo, cursa Artes Plásticas.

Em 2014, Fernando recebeu uma proposta tentadora de grandes investidores. A ideia seria expandir a marca por todo o Brasil, com mais de 30 lojas. Em seu lugar, muitos empresários balançariam. Mas o designer gaúcho não teve dúvidas ao decidir ficar exatamente como está.

— Não quero crescer e levar a minha produção para a China, como outras marcas fazem. Não me interessa afetar a qualidade dos meus produtos.

Além de Yaskara, com quem está casado há mais de 30 anos, há outra mulher importante na vida de Fernando Jaeger. É Regina Kato, sócia do designer nas duas lojas cariocas. Na verdade, Regina chegou primeiro na vida de Fernando Jaeger, já que eles se conheceram nos bancos da UFRJ. Aliás, foi Regina quem apresentou Fernando a Yaskara. Juntos, os dois colegas de faculdade abriram a primeira loja no Rio, em 2000. Dez anos depois, a dupla inaugurou a FJ Pronto pra Levar, em Laranjeiras.

Hoje, todos os tapetes comercializados pela loja são assinados por Regina. São mais de 30 modelos, cada um com seis variações de padronagem. O seu olhar, meio oriental-meio brasileiro, está sempre voltado para sua maior paixão: a marca Fernando Jaeger. Para Fernando, o estilo calmo e decidido de Regina aproxima a marca paulistana dos gostos, costumes e hábitos dos cariocas. Mas ela não gosta, definitivamente, de estar sob os holofotes.

— Nunca quis aparecer, porque o que interessa é a marca — encerra Regina.