Um dos vigilantes do Instituto Royal que afirma ter sido feito refém e ameaçado de morte durante a invasão ao laboratório na madrugada desta quarta-feira (13), em São Roque (SP), contou ao G1 que viveu momentos de terror na ocasião. Ele estava no instituto junto a outros dois vigilantes quando um grupo de aproximadamente quarenta pessoas invadiu o local e retirou alguns ratos e camundongos usados em testes de fármacos, além de promover vandalismo no prédio. Na primeira invasão ao laboratório, os ativistas retiraram 178 cães da raça beagle e sete coelhos.
nas costas (Foto: Elisângela Marques/G1)
Ele conta que os três vigilantes, deitados o tempo todo de bruços, tiveram as mãos amarradas para trás com os cadarços dos sapatos. "Apanhamos muito. Chutes, socos, nos batiam com pedaços de pau, até as facas que estavam portando serviram para nos agredir. Pensei que ia morrer".
No rosto, a expressão é de medo. Em cada lembrança, os gestos demonstram que os momentos de terror ainda estão presentes. "Não dormi nessa noite. Tive pesadelos terríveis. As vozes deles ameaçando a cada momento que iam nos matar de uma forma diferente. Foi horrível", desabafa.
O vigilante conta que foram mais de 40 minutos de tortura. "Um grupo ficou nos batendo enquanto outro entrava no prédio e destruia tudo. Eles falaram que iam nos queimar vivos, Pegaram litros de acetona para jogar na gente. Nessa hora eu entrei em pânico", diz ele.
Além do medo, os três homens se sentiram muito humilhados, conta o vigia, já que o grupo chegou a gravar as agressões. "Eles filmaram toda a agressão e disseram que estava passando em tempo real. Imagina um trabalhador que está ganhando o pão da família de forma honesta ficar com a cara no chão, amarrado e apanhando sem parar. Foi muita humilhação", comenta ele.
O grupo também ameaçou colocar fogo no prédio. Segundo o vigilante, até iniciaram um incêndio em uma das salas, mas o fogo foi controlado pelas vítimas, assim que conseguiram se soltar. "Depois que bateram muito, foram acalmados por um casal que fazia parte do grupo. Creio que isso evitou o pior e eles foram embora. Os nós estavam um pouco frouxos e conseguimos nos soltar. Corremos, apagamos o fogo e chamamos a polícia", conta o vigilante.
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O funcionário informa que será difícil voltar ao trabalho depois da ação do grupo contra eles. "Para o instituto não quero voltar. Já informei isso a empresa que trabalho (uma empresa tercerizada que havia sido contratada pelo Instituto Royal). Estamos afastados uma semana do trabalho e não sei como vai ser quando voltar", conclui.
Por meio de uma rede social, o G1 entrou em contato com uma pessoa, que não quis se identificar e que esteve na invasão desta quarta-feira (13) ao Instituto Royal. Segundo esse contato, ele informou que não faz parte do grupo que agrediu os vigias e levou os roedores da empresa.
"Primeiramente somos uma mídia independente, não somos Black Blocs ou ativistas. Somos apenas fotógrafos. Eles não permitiram também vermos seus rostos, muitos menos suas identidades . Fomos convidados por eles para registrar o ato. Não soubemos de nada da ação, só entramos juntos com eles e registramos suas ações e não vimos nada do que foi dito pela mídia corporativa", explica.
(Foto: Elisângela Marques/G1)
A invasão desta quarta-feira foi a terceira ao Instituto Royal, segundo a diretora-geral Silvia Ortiz. "Na madrugada de 4 de novembro, invasores entraram no instituto e soltaram os cerca de 500 ratos que estavam divididos em seis salas. Os roedores foram soltos no pátio. Parte dos animais foi recuperada pelos funcionários. Além disso, três carros foram depredados", informou Silvia.
A segunda invasão também foi notoficada à polícia, de acordo com a diretora, que manteve sigilo a pedido do instituto. A diretoria optou por não divulgar a invasão porque a empresa já planejava o fechamento da unidade, que foi anunciado no dia 6 de novembro.
O Instituto Royal, em São Roque, ficou conhecido depois que um grupo de ativistas invadiu o prédio na madrugada de 18 de outubro e retirou os 178 cães da raça beagle usados em testes de produtos farmacêuticos.