Cultura

Quino ganha prêmio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades

Cartunista argentino ficou conhecido em todo o mundo pela personagem Mafalda, criada há 50 anos
O cartunista argentino Quino, criador da Mafalda (aqui, em foto de 2009), ao completar 80 anos Foto: AFP
O cartunista argentino Quino, criador da Mafalda (aqui, em foto de 2009), ao completar 80 anos Foto: AFP

MADRI — A menina filósofa nasceu da caneta de um ilustrador que pretendia fazer desenhos "mudos". Quino, o cartunista que recebeu nesta quarta-feira o Prêmio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades, adorava a arte silenciosa de Buster Keaton. Seguiu esse caminho até chegar a uma redação em Buenos Aires onde lhe disseram que o humor precisa de palavras.

Quino aceitou o conselho (ou a exigência) e encheu os desenhos de letras. Às vezes com diálogos socráticos, às vezes com as palavras certeiras, como quando Mafalda, menina que transformou Quino num cartunista universal, gritava:

"Parem o mundo, que eu quero descer!"

Joaquín Salvador Lavado, filho de imigrantes da Andaluzia nascido em Mendoza, na Argentina, em 1932, já não desenha mais. Em um desses golpes infelizes da vida, sua visão se enfraqueceu. Mas o que ele já fez é o bastante para torná-lo imortal. O Príncipe das Astúrias se junta a uma longa lista de prêmios para o humorista, que coincidem com a celebração do 50º aniversário de Mafalda.

Quino criou sua gigante de seis anos em 15 março de 1962 para uma campanha publicitária de  uma marca de eletrodomésticos que acabou não dando certo. Mas o pai da criança prefere definir como a data de nascimento 29 de setembro de 1964, quando a primeira tira foi publicada no semanário Primera Plana, de Buenos Aires.

A menina viveu apenas uma década no papel impresso. Quino abandonou a personagem em 1973, sem que ela nunca o tenha abandonado. Diferente de outros criadores perseguidos por suas criações, ele caminha contente ao lado de Mafalda.

Em sua galeria infantil, Quino destacou as grandezas e misérias do mundo. O materialismo desenfreado (Manolito: "Todos somos iguais, mas alguns têm dinheiro"), o otimismo (Miguelito: "O que eu quero é que a vida seja boa"), a descrença (Susanita: "Não é uma questão de ferir suscetibilidades, mas de matá-las"). Essa capacidade pesou na decisão do júri do Príncipe de Astúrias.

"Nos 50 anos do nascimento de Mafalda as lúcidas mensagens de Quino seguem atuais pois o autor soube combinar com sabedoria a simplificidade do desenho com a profundidade do seu pensamento", diz o texto oficial da premiação.

O prêmio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades, que dá ao vencedor uma escultura de Miró e 50 mil euros, recebeu 22 candidaturas de 14 países. Além de Quino, chegaram à final o jornalista mexicano Jacobo Zabludovsky e o filósofo espanhol Emilio Lledó.