Rio

Após recapeamento, ruas da cidade têm problemas de nivelamento

Motoristas reclamam de prejuízos com os veículos

Desnível na praia. Em plena Avenida Delfim Moreira, no Leblon, na altura do número 450, há dois bueiros mais baixos que o asfalto, trazendo transtorno para motoristas
Foto: Marcelo Piu / Fotos de Marcelo Piu
Desnível na praia. Em plena Avenida Delfim Moreira, no Leblon, na altura do número 450, há dois bueiros mais baixos que o asfalto, trazendo transtorno para motoristas Foto: Marcelo Piu / Fotos de Marcelo Piu

RIO - Rua Humaitá, em frente ao número 261, por volta das 17h da última quarta-feira: duas rodas do carro de um motorista caem no buraco criado pelo desnível entre o bueiro e o asfalto. Em seguida, um palavrão.

— Estou aqui há dez minutos e já vi vários carros caindo no buraco. As pessoas reclamam bastante. Da mesma maneira como cobram que os motoristas não estacionem em locais proibidos, acho que devem cobrar da prefeitura que veja isso logo. Não dá para deixar um desnivelamento tão grande — comenta o motorista Vitor Manoel Ferreira, de 52 anos.

Várias outras ruas da Zona Sul recapeadas recentemente pela Secretaria municipal de Conservação e Serviços Públicos apresentam esse problema: receberam asfalto, mas os bueiros ficaram desnivelados, causando transtornos e pondo em risco a segurança de motoristas e, especialmente, motociclistas.

Somente na Rua Muniz Barreto, em Botafogo, a equipe de reportagem do GLOBO encontrou sete pontos com problema de desnível. Logo no início da via, motoristas que vêm da Rua Pinheiro Machado encontram um bueiro desnivelado logo à frente de uma bifurcação. A cerca de 50 metros adiante, uma canaleta para escoamento de água está bem abaixo do nível do asfalto. Ela fica no acesso do estacionamento do Colégio Imaculada Conceição.

— Acho que deveriam vir aqui no fim de semana e refazer. Os carros sacolejam na entrada — conta Ivan Rodrigues, de 47 anos, segurança do colégio.

O engenheiro e urbanista Antônio Eulálio Pedrosa Araújo, conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea/RJ) e do Clube de Engenharia, faz críticas ao trabalho. Para ele, o desnível deveria ser corrigido na hora em que o asfalto é compactado na pista.

— O que deve ser feito é o seguinte: faz-se a fresagem, retira-se o asfalto velho para reciclagem, passa-se emulsão asfáltica para a aderência da nova camada, lança-se o asfalto novo e aí entra a máquina compactadora para nivelar. O nivelamento dos bueiros, tanto dos centrais, que são das concessionárias, como dos laterais, de águas pluviais, faz-se na hora — explica o engenheiro.

‘Buracos põem vidas em risco’

O secretário municipal de Conservação, Marcus Belchior, discorda. Segundo ele, são necessárias de duas a quatro semanas para que o asfalto seque e se possa acertar o desnível. Ele diz que “não é engenheiro porque não tem Crea” (o certificado do conselho regulador da profissão), mas garante ter conhecimento suficiente.

— Quem tem a expertise do assunto somos nós. A Usina de Asfalto da prefeitura, hoje, está entre as melhores do mundo. É capaz de produzir qualquer tipo de asfalto para qualquer ambiente, qualquer clima. É necessário um tempo para a secagem do asfalto. O problema é que a demanda é grande, e quando o desnível de uma rua já pode ser reparado surgem emergências e precisamos deslocar equipes. Dizer que está 100%, não podemos. Mas estamos reagindo — argumenta.

O recapeamento das ruas da cidade é de responsabilidade da prefeitura, que contrata empreiteiras para as obras. Segundo Belchior, há um contrato de R$ 1,2 milhão para o nivelamento de bueiros em toda a cidade.

Mas o engenheiro Antônio Eulálio ressalta que os desníveis são perigosos e podem provocar acidentes.

— Alguém pode perder a vida por causa disso. É muito importante essa obra. O serviço público não presta um bom serviço. Faz o mínimo e acha que está fazendo o máximo. Acha-se acima do bem e do mal. Quando se faz o projeto, é preciso incluir o nivelamento — afirma. — A máquina que faz a fresagem deixa dois centímetros dos bueiros à mostra. Uma camada de sete centímetros de asfalto é colocada na pista. A compactadora passa e diminui a camada para cinco centímetros. O que sobra é preciso nivelar.

A equipe do GLOBO encontrou dois bueiros desnivelados próximos ao cruzamento de Muniz Barreto com Marquês de Olinda. E mais dois em frente aos números 621 e 810 da Muniz Barreto. Na esquina com Visconde de Ouro Preto, dois problemas: outro desnivelamento e uma poça d’água no acesso de cadeirantes à calçada. Também há bueiros desnivelados na Rua São Clemente.

— Esses buracos põem nossas vidas em risco. Se tentamos desviar, algum carro pode nos atropelar. O melhor a fazer é cair no buraco e segurar o tranco. Essas coisas não deveriam acontecer — reclama o enfermeiro da Marinha Alcemir Ávila Porto, de 46 anos, em uma moto de 250 cilindradas.

Secretaria vai vistoriar pontos citados

Na Rua Jardim Botânico, onde o trânsito é sempre intenso, a equipe do GLOBO encontrou pelo menos sete bueiros desnivelados. Segundo Belchior, o bairro está nos planos de ações de nivelamento. Na Avenida Delfim Moreira, no Leblon, foram observados três pontos com problema de nivelamento. Em Copacabana, há bueiros desnivelados na esquina das ruas Prado Júnior e Barata Ribeiro, e na Avenida Princesa Isabel, junto ao túnel. E na Rua Frei Caneca, no Centro, há um bueiro desnivelado em frente ao Batalhão de Choque, e um imenso buraco junto ao sinal.

Em nota, a prefeitura informou que fará vistorias nos trechos citados para programar atendimento. Segundo a secretaria, em novembro foram reparados trechos nas estradas do Sapê e do Portela, em Madureira; do Itararé, em Ramos; na estrada do Engenho e na Avenida Ministro Ari Franco, em Bangu; e na Rua Pacheco da Rocha, em Bento Ribeiro. Nas próximas semanas, estão previstos serviços nas ruas Doutor Satamini, Heitor Beltrão e Conde de Bonfim, na Tijuca, bem como na Voluntários da Pátria, em Botafogo.