Economia

Consumo das famílias cresceu 1% no terceiro trimestre, maior alta desde o quarto trimestre de 2012

Apesar do avanço frente ao segundo trimestre, indicador desacelera no acumulado em quatro trimestres, de 3,2% para 2,8%

RIO - Importante motor da economia brasileira nos anos em que houve mais crescimento, o consumo das famílias voltou a subir no terceiro trimestre. O indicador teve alta de 1% entre julho e setembro, a maior desde o quarto trimestre de 2012, quando o aumento foi de 1,1%. Pelos dados anteriores à revisão do IBGE, a maior alta datava do primeiro trimestre do ano passado.

O desempenho trimestral do consumo das famílias, que representa cerca de 63% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), veio abaixo do patamar de 1% nos últimos balanços. No primeiro trimestre do ano, o índice ficou estável (0%). Já no segundo, teve variação de 0,3%.

Apesar da alta pontual, Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), destaca que o dado não aponta para uma retomada do aumento do consumo, que chegou a acumular alta de 6,9% em quatro trimestres em 2010. Nessa mesma comparação, o indicador recuou de 3,2%, no segundo trimestre de 2013, para 2,8%, no terceiro trimestre.

- Não podemos olhar só dados trimestrais. A foto (dado trimestral) é essa, mas o filme (dados de longo prazo) é diferente. Dados sem ajuste sazonal mostram que houve crescimento de 2,3%, que é um crescimento baixo comparado aos outros trimestres - analisa a especialista, cuja previsão para o indicador foi de alta de 1,1%, praticamente em linha com o resultado do IBGE.

Já para Alexandre de Ázara, economista-chefe do Banco Modal, o resultado surpreendeu. Ele esperava alta de apenas 0,4%, considerando a diminuição do crédito e o aperto dos juros. Para ele, o dado é positivo, porém, assim como outros economistas , considera preocupante o fraco desempenho dos investimentos.

- O PIB veio muito parecido com o que o consenso acreditava. A gente estava mais preocupado com consumo. Mas, para o Banco Central (que tem trabalhado em políticas econômicas para frear o consumo e conter a inflação), o resultado não muda muita coisa - aponta Ázara.

Entre as empresas de serviços, a sensação ainda é de demanda aquecida nos negócios. Marcos Madiano, administrador do Armazém do Café, lembra que, embora as famílias já não tenham mais renda suficiente para comprar bens duráveis no mesmo ritmo do ano passado, ainda há quantia disponível para alimentação fora de casa. Segundo ele, a rede, que conta com sete lojas no Rio, está registrando alta nos negócios neste ano.

- Ainda há uma gordura na renda das famílias. Com o crescimento da economia, o brasileiro passou a conviver com novas opções, com diferentes tipos de vinhos e cafés. As vendas estão aumentando, sim. Além disso, cortei os custos, reduzindo o estoque, por exemplo - disse Madiano.

CNC: apetite para comprar diminui

O resultado desta terça-feira fez a equipe da FGV revisar a projeção do PIB para este ano, que passou de 2,5% para 2,4%, por causa dos dados da agricultura. Em relação ao consumo, Silvia Matos acredita que o indicador terá alta de 2,5% em 2013. O resultado anual do indicador vem caindo desde 2009, quando o consumo fechou em alta de 6,9%.

- Se me perguntassem no início do ano, com perspectiva de Taxa Selic a 10%, inflação elevada, responderia que fecharia mais para 2% que 2,5%. Isso mostra uma resistência do consumo. Para o ano que vem, talvez seja preciso um remédio mais amargo, mais juros, talvez menor reajuste no salário mínimo - explica Silvia, preocupada com o efeito inflacionário do indicador.

Apesar do alerta da especialista, os dados mais recentes sobre intenção de compra da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indicam que o brasileiro está menos disposto a consumir, na comparação com o ano passado. O indicador de intenção de consumo da entidade recuou 3,9% em novembro, frente ao mesmo mês de 2012. Para Fabio Bentes, economista da CNC, o dobradinha juros altos e inflação persistente tem desestimulado consumidores.

- A principal razão foi ter observado a maior inflação do varejo em 10 anos. O varejo teve que repassar parte desses ajustes - analisa o especialista. Para ele, apesar do aperto nos juros dificultar o acesso ao crédito, as medidas contra a inflação beneficiarão o setor no longo prazo: - Combater a inflação é fundamental, mesmo que seja crescimento menor no curto prazo.

A CNC, que classificou o desempenho do comércio como “decepcionante”, espera que o consumo das famílias feche o ano em 2,7%, uma leve revisão dos 2,8% esperados antes da divulgação do IBGE. A entidade também revisou as projeções para o crescimento do PIB em 2013 (de 2,5% para 2,3%) e em 2014 (2,3% para 2,1%).