Política

Dilma: privatização da Petrobras é inadmissível

Presidente discursou em inauguração da fábrica de amônia que recebeu o nome de José Alencar, em homenagem ao ex-vice-presidente da República, sem mencionar os recentes escândalos envolvendo a Estatal

A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de abertura da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobras, em Uberaba
Foto:
Roberto Stuckert Filho
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Presidência
A presidente Dilma Rousseff durante cerimônia de abertura da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobras, em Uberaba Foto: Roberto Stuckert Filho / Presidência

UBERABA, Minas Gerais - Na véspera de enfrentar uma CPI no Congresso Nacional e sem mencionar os recentes escândalos envolvendo a Petrobras, a presidente Dilma Rousseff (PT) declarou neste sábado que é inadmissível privatizar a estatal como já foi cogitado no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) durante inauguração da fábrica de amônia em Uberaba, no Triângulo Mineiro. A candidata à reeleição do PT focou seu discurso com veementes defesas da Petrobras, afirmando que foi só a partir da chegada do PT ao poder que a empresa recebeu pesados investimentos. Neste sábado, a revista Época revelou que contrato entre Petrobras e Odebrecht foi aprovado após doação à campanha de Dilma Roussef nas eleições de 2010.

Mais cedo, a presidente Dilma Rousseff participou da abertura da 80ª edição da Exposição Internacional de Gado Zebu (Expozebu) e recebeu vaias, um dia após a ratificação da candidatura à reeleição .

— Quando falo da imensa capacidade da Petrobras em investir, quero destacar que nos últimos anos, do governo do presidente Lula até meu governo, o total que a Petrobras investiu foi sete vezes maior. O que nós estamos vendo aqui hoje é uma prova disso. O lucro líquido da Petrobras também cresceu muito, passou de R$ 8 bilhões para R$ 23 bilhões. Tudo isso mostra que é inadmissível vender ou trocar de nome da Petrobras como nós jamais fizemos e repudiamos quem faz. É isso que queria dizer aqui hoje, a Petrobras investe a favor do Brasil — discursou.

Na próxima terça-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a CPI será instalada. No palanque junto com a presidente Dilma, o ministro de Minas e Energia, Édison Lobão, defendeu a estatal atacando a oposição.

— Ela (Petrobras) é hoje vítima de uma minoria, que fala mal dela. Mas enquanto eles falam mal, essa grande empresa nacional trabalha pelo país e por eles também — afirmou.

Antes de Dilma e Lobão discusarem, o presidente do Sindicato dos Petroleiros de Minas Gerais (Sindipetro), Leopoldino Martins deu o tom dos ataques a oposição, ao mesmo tempo que fazia forte defesa da estatal do petróleo. Martins rememorou crises enfrentadas pela Petrobras durante o governo FH, entre elas, o afundamento da plataforma P-36.

— A empresa foi esquartejada no governo passado. No governo Lula iniciamos a exploração do pré-sal. Hoje, no governo Dilma, contamos com grande capacidade tecnológica, não sofremos arrocho salarial e temos autonomia de negociar. Os algozes de ontem são os defensores de hoje. Estão tentando enganar o povo — destacou.

Com investimentos de R$ 2 bilhões, a fábrica de amônia recebeu o nome de José Alencar, em homenagem ao ex-vice-presidente da República, morto em 2001 após lutar contra um câncer. A fábrica ficará pronta, segundo o governo, no primeiro semestre de 2017. A presidente da Petrobras, Graça Foster, também estava na comitiva.

Vaias um dia após confirmação da candidatura à reeleição

Na manhã deste sábado, a presidente Dilma Rousseff foi vaiada por parte do público, composto principalmente por pecuaristas convidados pela Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), na abertura da 80ª edição da Exposição Internacional de Gado Zebu (Expozebu), também em Uberaba (MG). Dilma teve de enfrentar a demonstração de desaprovação dos presentes por três vezes na cidade em que morou na infância e que é um dos “currais eleitorais” do seu potencial adversário na eleição presidencial, o senador mineiro Aécio Neves (PSDB).

Na primeira vez que o nome da presidente foi anunciado pelo narrador, a vaia foi mais intensa e partiu do local onde estavam cerca de 1,5 mil produtores, que receberam comenda de mérito da ABCZ pelos 80 anos da maior feira de pecuária zebuína brasileira. No início e no fim do pronunciamento da presidente, ela também foi vaiada, mas em menor intensidade. Em contrapartida, o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) foi bastante aplaudido, quando teve o nome mencionado pelo cerimonial do evento.

Antes de discursar, a presidente Dilma Rousseff assinou dois decretos voltados para o setor agropecuário: o primeiro estabelece o registro genealógico de raças bovinas e o segundo, que define as normas gerais para o Programa de Regularização Ambiental (PRA) e o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que substitui o Programa Mais Ambiente Brasil.

— Na segunda-feira, estará publicado no Diário Oficial esse decreto que complementa as regras necessárias à implementação do Cadastro Ambiental Rural. Vamos dar início aos processos de recuperação ambiental previstos no novo Código Florestal. Todos os produtores rurais terão um ano para aderir ao programa e iniciar a regularização quanto às áreas de preservação e de reserva legal — afirmou a presidente.

Na sexta-feira, em São Paulo, durante a cerimônia de abertura do 14º Encontro Nacional do PT, uma votação simbólica puxada pelo presidente nacional do PT, Rui Falcão, formalizou a pré-candidatura de Dilma. Para os militantes, Falcão explicou que não há este ano “tarefa mais importante do que obter nas urnas um segundo mandato para a companheira Dilma”. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que discursou após Falcão, também fez questão de reafirmar seu apoio à candidatura à reeleição de Dilma.

Encontros e desencontros

A provável chapa pela aliança PT e PMDB para eleição deste ano em Minas Gerais compareceu ao evento. Além da presidente Dilma, estavam na tribuna de honra do Parque de Exposições Fernando Costa, o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Fernando Pimentel (PT), já definido como o nome da coligação para concorrer ao governo mineiro, e o empresário Josué Gomes da Silva (PMDB), cotado para ser lançado como concorrente ao Senado no Estado. Ele é filho do ex-vice presidente José Alencar (1931-2011), que também foi senador por Minas Gerais de 1999 até 2002.

Enquanto a provável chapa de petistas e peemedebistas mineiros estava completa na abertura da feira pecuária uberabense, integrantes da oposição estiveram ausentes da solenidade. Ao contrário do ano passado, quando Dilma e o senador Aécio Neves dividiram o palco de abertura da Expozebu, o tucano, que é pré-candidato do PSDB à Presidência da República, não compareceu a esta edição, embora esteja em Uberaba desde a sexta-feira. Neste sábado, ele iria prestigiar a tradicional feijoada do pecuarista Jonas Barcelos, oferecida na fazenda Mata Velha, às margens da BR-050. A ida da presidente à recepção do produtor rural também era esperada após o lançamento da pedra fundamental da fábrica de amônia da Petrobras, também no município mineiro.

Na semana passada, o ex-governador de Pernambuco e pré-candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos, havia divulgado agenda com a previsão de participar da abertura da Expozebu, mas o compromisso foi cancelado posteriormente.

Encontros e desencontros entre candidatos à Presidência na abertura da Expozebu têm sido frequentes. Em 2010, quando Dilma Rousseff ainda era ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata, a primeira vez que ela e o então pré-candidato pelo PSDB, José Serra, se encontraram em um evento público foi em Uberaba, também na Expozebu.