Rio

Rua da Tijuca é liberada após cinco horas fechada para protesto de garis

Grevistas, que estavam em frente à sede da Comlurb, impediram garis de trabalhar no Aterro no início da manhã
A montanha de lixo próximo aos Arcos da Lapa, devido à greve dos garis Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
A montanha de lixo próximo aos Arcos da Lapa, devido à greve dos garis Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

RIO - Cerca de 200 garis grevistas participaram de um protesto e fecharam, por cerca de cinco horas, a Rua Major Ávila, na Tijuca, na tarde desta Quarta-feira de Cinzas. O grupo ficou na porta da sede da Comlurb, ocupando a via. Alguns distribuíram fitas laranjas aos motoristas que passavam pela via. Durante o protesto, uma equipe da TV Globo foi hostilizada pelos grevistas e deixou o local. Os grevistas ficaram nas proximidades da Rua Benjamin Franklin. Por volta das 19h, eles continuavam no local, mas na calçada.

Uma comissão formada por sete garis grevistas entrou na sede da companhia para ser recebida por um represente do órgão. De acordo com informações dos garis que estão na negociação, havia também um defensor público, representes do Ministério Público e do sindicato da categoria presentes neste encontro. A Comlurb, no entanto, negou a reunião com a comissão. A empresa informou que apenas cedeu o espaço para eles e afirmou que não há representantes da prefeitura acompanhando o encontro.

Os grevistas aguardavam um representante do sindicato da categoria para que fosse feita reunião com o presidente do órgão, já que a prefeitura só aceita negociar com sindicalistas. Eles farão assembleia no local para decidir os rumos do movimento. Um dos integrantes da comissão que está à frente da greve, Ivair de Souza, funcionário da Comlurb há 19 anos, afirmou que a primeira reivindicação do grupo para a volta ao trabalho é a readmissão dos 300 demitidos. Os grevistas aceitam continuar as negociações sobre aumento salarial enquanto estiverem trabalhando.

— A gente quer a readmissão dos 300 garis e a continuação das negociações. Podemos retornar ao trabalho, desde que o salário seja aumentado depois — afirmou Ivair justificando a paralisação: — Nós garis que limpamos a cidade não gostamos dessa situação. Nos sentimos mal em ver a cidade suja, mas precisamos que as pessoas acabem com as intransigências.

Garis que participam da manifestação afirmam que vão montar chapa de oposição ao sindicato.

Mais cedo, um grupo de 20 garis que trabalhava na manhã desta Quarta-feira de Cinzas na altura do Monumento aos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, foi coagido por um piquete de cerca de 50 grevistas. Eles foram chamados de “fura greve” e “traidores”. Ameaçados, os garis que estavam trabalhando entraram em uma Van da Comlurb. Em seguida, os grevistas quebraram os ancinhos, equipamentos usados para juntar folhas secas, de quem estava trabalhando. Com medo, os garis decidiram encerrar o serviço no local.

Gerente da Comlurb de Campo Grande, Everaldo dos Santos teria levado um soco na manhã desta quarta-feira de um gari grevista. De acordo com a prefeitura, ele está neste momento prestando depoimento na 35ª DP (Campo Grande). Em Botafogo, um grupo de garis mulheres passou mal após ser coagido por grevistas. Elas estão sendo atendidas na UPA do bairro e prestarão queixa na delegacia.

As montanhas de lixo podem ser vistas em vários pontos da Zona Sul, Lapa e região central da cidade. O entrulho deixado pelos garis em greve estão atrapalhando a vida de quem segue para o trabalho. A quantidade de detritos é tanta que, em alguns pontos, fica difícil andar pela calçada. Além disso, o mau cheiro também prejudica quem passa pelos locais.

No Centro, apesar da Avenida Presidente Vargas já ter sido liberada no sentido Candelária, na altura da Central do Brasil, a via continua fechada no sentido Praça da Bandeira. Além disso, as grades de metal que separam as pistas não foram retiradas. Com isso os pedestres não conseguem atravessar a rua e precisam caminhar até as travessias para veículos, onde cruzam a via de maneira arriscada.

Um oficial de Justiça percorreu, na manhã desta quarta-feira, as gerências da Comlurb para garantir que garis em atividade não sofressem intimidação dos grevistas. A medida foi determinada pelo desembargador federal José da Fonseca Martins Junior, do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) - 1ª Região, que, por meio de um mandando de intimação e cumprimento, determina que seja garantido o acesso e a segurança dos trabalhadores que se dirigem às unidades da Comlurb. O desembargador também aumentou de R$ 25 mil para R$ 50 mil o valor da multa diária por descumprimento para o Sindicato dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação do Município do Rio.

No mandando, o desembargador diz que o oficial de Justiça de ser acompanhado, “se necessário, por força policial, de modo a ser assegurado o pleno funcionamento das Gerências de Operação”. De acordo com a prefeitura, grevistas tentam impedir a ida de garis para as ruas, com confusões registradas nesta quarta-feira em Campo Grande e Copacabana.

Nesta terça-feira, um grupo de garis voltou a realizar protestos pelas ruas da cidade . Os funcionários, que discordam da posição do sindicato, continuam a greve e afirmam que só voltarão a trabalhar quando forem recebidos por algum representante da Comlurb ou da prefeitura. A movimentação cruzou a cidade e chegou até Ipanema.

A Comlurb informou na terça-feira, em nota, que iniciou o processo de demissão de cerca de 300 funcionários que não compareceram ao turno da noite desta segunda-feira. Segundo a empresa, a decisão está prevista no acordo feito entre a companhia e o sindicato que representa a categoria na tarde da última segunda-feira. Alguns manifestantes começaram a ser informados oficialmente sobre a demissão.

A Comlurb e o Sindicato dos Empregados das Empresas de Asseio e Conservação do Município do Rio de Janeiro anunciaram ter fechado, no início da tarde desta segunda-feira, acordo que garante 9% de aumento salarial para os cerca de 15 mil garis da cidade. Em nota divulgada pela empresa, a companhia informa que já vinha em um processo de negociação com o sindicato da categoria, como faz anualmente no período do acordo coletivo e que tinha até 31 de março para resolver o impasse.

No entanto, cerca de 350 grevistas que se reuniram nesta terça-feira em frente à prefeitura afirmaram ainda não ter fechado qualquer acordo e que o sindicato não os representa. A categoria pede a elevação do piso de R$ 874 para R$ 1.224,70, além do índice de insalubridade, além de aumento do vale-refeição para R$ 20, e o retorno das gratificações de triênio, licença-prêmio, entre outros benefícios, que eles alegam terem perdido.

Saara faz limpeza por conta própria das ruas da região

Sem os garis da Comlurb nas ruas, a organização da Saara convocou uma equipe de limpeza privada para limpar a região. O grupo, de oito trabalhadores, começou a varrição à meia-noite desta quarta-feira. Luiz Antônio Bap, coordenador de comunicação da Saara e diretor da rádio Saara, diz que, na manhã de hoje, todas as ruas já estavam limpas.

— Colocamos nossos próprios garis para limpar as ruas da Saara. Ao meio-dia, as lojas voltam a funcionar. Não podíamos abrir a Saara com essa sujeirada — disse Luiz Antônio. — A Saara é o único lugar do Centro que está limpinho.