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Nobre confirma saída de Kardec, ironiza jogador e ataca o São Paulo

Presidente do Verdão critica o Tricolor e ironiza atacante: "Ele estava no completo ostracismo até o ano passado e hoje é cotado para jogar Copa do Mundo"

Por São Paulo

 

O presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, convocou uma entrevista coletiva para a tarde desta segunda-feira, na Academia de Futebol, para explicar a negociação frustrada com Alan Kardec(assista à entrevista na íntegra ao lado). Sem acordo com o Verdão, o atacante vai assinar com o rival São Paulo nos próximos dias.

Num longo pronunciamento, antes mesmo de abrir para perguntas dos jornalistas, Nobre criticou o São Paulo por "falta de ética" e disse que a relação com a nova diretoria do clube tricolor, comandada por Carlos Miguel Aidar, será "péssima", como é "desde os anos 40". A assessoria do presidente do Tricolor disse que ele não irá responder às críticas do palmeirense.

Paulo Nobre se queixou do assédio do Tricolor a Kardec e criticou também o jogador, "que estava no ostracismo, no time B do Benfica, e agora é cotado para a Copa do Mundo".

Kardec estava no ostracismo no ano passado e hoje está cotado para a Copa do Mundo. Outros times me ligaram e falaram que tinham interesse, e ,quando eu encerrasse a negociação, iriam entrar. Agora, (agir) de maneira sorrateira é totalmente antiético. Os clubes são desunidos. Na hora de negociar contratos, somos fracos. De que adianta dar "passa-moleque" em alguém se você continua fraco? Quem ganhou a presidência no São Paulo (Aidar) é um dos mentores do Clube dos 13 e chega com essa atitude? A relação entre Palmeiras e São Paulo é péssima desde os anos 40 e com essa administração não será diferente. Somos éticos e não bonzinhos, e continuaremos com nossa política
Paulo Nobre, presidente do Palmeiras

  - Venho aqui comunicar que Alan Kardec não é mais do Palmeiras. É a única vez que vou falar de Kardec. Sábado fui comunicado pelo pai e pelo estafe do jogador que não tinha chance de ele ficar no clube, porque ele já tinha se apalavrado com o São Paulo desde a semana passada. Diante disso, perguntei se não havia possibilidade de o Palmeiras ter acesso à proposta e estudar cobrir. Ele disse que a única chance de continuar no Palmeiras seria romper com o pai, porque já tinha dado a palavra ao São Paulo, independentemente da proposta do Palmeiras. Não houve como continuar. Ele não continua porque não quer. Nós não mediríamos esforços para mantê-lo no clube. A minha obrigação é a responsabilidade financeira do clube. Participo de todas negociações e defendo cada real. Se hoje está difícil financeiramente é porque outras gestões gastaram o seu dinheiro e o de administrações futuras. No ano passado, administramos com 25% das finanças, e não atrasamos salários. Tentamos de todos os jeitos. A negociação ainda tinha 30 dias até o fim de maio. Ficou muito próximo e estava tranquilo que acertaria, mas um time entrou de forma antiética. Ele era do Palmeiras, sob contrato, e um dos principais titulares. Com negociação em curso, veio outro time (o São Paulo), fez proposta, e o estafe do jogador aceitou. Temos por política não contratar agente para depois falar com jogador. Nem discutimos remuneração com empresário. Quando isso aconteceu, o estafe não quis mais conversar conosco. Tentamos falar com o Alan, e só no sábado nos encontramos, e tive essa notícia. Outros presidentes me telefonaram. Kardec estava no ostracismo no ano passado e hoje está cotado para a Copa do Mundo. Outros times me ligaram e falaram que tinham interesse, e quando eu encerrasse a negociação iriam entrar. Agora, (agir) de maneira sorrateira é totalmente antiético. Os clubes são desunidos. Na hora de negociar contratos, somos fracos. De que adianta dar "passa-moleque" em alguém se você continua fraco? Quem ganhou a presidência no São Paulo (Aidar) é um dos mentores do Clube dos 13 e chega com essa atitude? A relação entre Palmeiras e São Paulo é péssima desde os anos 40 e com essa administração não será diferente. Somos éticos e não bonzinhos, e continuaremos com nossa política. 

Paulo Nobre Palmeiras (Foto: Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação)Paulo Nobre disse que o relacionamento com o rival é ruim (Foto: Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação)

Antes de abrir para perguntas dos jornalistas, Nobre terminou o discurso se dirigindo aos torcedores que o criticam por deixar Kardec sair para o rival.

- Ano passado fui muito criticado por parte da torcida por trazer o Kardec, que estava no Benfica B. Mas eu estava muito seguro. E hoje muitos criticam a saída dele. É nossa obrigação fortalecer o elenco, independentemente do Kardec.

Na sequência, Nobre passou a responder às perguntas dos jornalistas. A primeira foi sobre a demora nas negociações, não só com Kardec, mas como foi com Leandro e Gilson Kleina, por exemplo.

- Todas as negociações se alongam porque tratamos de muito dinheiro e não somos populistas. O grande erro da gestão Nobre é a preocupação e responsabilidade com dinheiro do clube. Foi compromisso de campanha reestruturar e ter cuidado financeiro com dinheiro. Não se faz em dois anos transformar o clube forte financeiramente. Essa é minha obrigação. Em todo contrato que envolver muito dinheiro vamos brigar por cada real pelo melhor do clube. Aqui não tem politica de sacanear ninguém. Sempre discutimos com lógica. Ainda tinha um mês para vencer o prazo com o Benfica. Se alongou, mas faz parte - disse o presidente do Verdão.

Alan Kardec Entrevista (Foto: Marcelo Hazan)Kardec, segundo Nobre, "estava no ostracismo e
hoje é cotado para a Copa" (Foto: Marcelo Hazan)

Veja abaixo os principais tópicos da entrevista coletiva de Paulo Nobre:

Ameaça de torcedores de cancelar o programa Avanti

- O programa é importantíssimo. Se tivéssemos 140 mil torcedores (no programa), poderia ser outra condição, mas o torcedor é apaixonado. Eu também sou, mas preciso conter meu lado torcedor. É natural o torcedor ficar decepcionado. Porém, com essa atitude, vai contra o seu clube. Cancelar o Avanti é um tiro no próprio pé. Não vai contra o Nobre, e sim contra o clube do coração.

Contratos por produtividade

- É responsabilidade e produtividade. Entrou porque muito jogador usa como argumento que merece (ganhar mais) por ser titular. Se for titular, digo que merece. Eu digo que se for titular ganha X por jogo, e aí tem todos brigando para ser titulares. É um conceito. Não quero corrigir o futebol brasileiro, mas a maioria dos clubes está quebrada porque gasta mais do que arrecada. Não tive dificuldade com produtividade, nem com Alan, e com o pai do Alan, que deu dicas sobre produtividade. Ele foi taxativo em dizer que esse não era o problema. Toda quebra de paradigma encontra dificuldade. É um conceito e quem jogar no Palmerieas tem de entender. Não é pra sacanear, é pra ser justo.

O Kardec foi muito positivo paro Palmeiras, ajudou o time a subir, mas e o Palmeiras na carreira do Kardec? De encostado no Benfica, para cotado para Copa do Mundo? Acho que tivemos papel importante.
Paulo Nobre

 Errou ao focar só em Kardec?

- Foi dada atenção especial, mas estamos cuidando de todas as negociações. No fim do ano passado, criticaram a produtividade porque era o único (clube) que não contratava. E mostramos em janeiro que não era verdade, porque contratamos vários jogadores. No momento de hoje do Palmeiras, serei sincero: se o Kardec não estivesse no ostracismo que estava, mesmo com a qualidade dele, ano passado ele não teria vindo, porque não teríamos condições de trazê-lo. O Kardec foi muito positivo para o Palmeiras, ajudou o time a subir, mas e o Palmeiras na carreira do Kardec? De encostado no Benfica, para cotado para Copa do Mundo? Acho que tivemos papel importante. Se traz por empréstimo gratuito economizando dinheiro, e conseguir um salário no padrão do clube, tem mais dificuldade, do que quem chega com grana comprando. Trabalhamos com inteligência e calma. Assim como contratamos em janeiro, já estamos com algumas contratações pontuais que acontecerão até o fim da parada para a Copa do Mundo.

Financeiramente, hoje, o Palmeiras se encontra numa fase fragilizada frente a administrações com filosofias diferentes das de hoje. Foram feitas apostas que não deram certo, e (o clube) entrou nessa espiral financeira que nos enfraqueceu, mas a grandeza e a camisa do Palmeiras são tão fortes que, mesmo diante dificuldades, montamos times competitivos
Paulo Nobre

Palmeiras é menor que o São Paulo financeiramente?

- Um time pequeno pode ser comprado pelo árabe, mas não será maior que os tradicionais. O Palmeiras é o clube com mais títulos nacionais na história, é campeão do século XX, tem torcida maior do que (a população de) alguns países, é gigante. Financeiramente, hoje, o Palmeiras se encontra numa fase fragilizada frente a administrações com filosofias diferentes das de hoje. Foram feitas apostas que não deram certo, e (o clube) entrou nessa espiral financeira que nos enfraqueceu, mas a grandeza e a camisa do Palmeiras são tão fortes que, mesmo diante dificuldades, montamos times competitivos. Será assim até o fim da minha gestão. Não se pode abandonar o futebol, precisa de time competitivo. É uma realidade que espero que nunca mais se repita. Devagar vai se estruturando financeiramente, para não ficar mais refém de ninguém. O Palmeiras não pode depender de dirigente, tem de andar com a própria perna. Pretendo recolocar o Palmeiras na organização, competitividade, seguindo à risca o que prometi.

Não fechou por causa de R$ 20 mil?

- O salário do Alan é dividido em três partes: fixa, variável e as luvas. Tratava o contrato como um todo, pelo valor total dessas três partes. Não podia deixar estourar. Jogávamos com eles: mais fixo? Menos variável e luva. Se deixar cair no fixo, aumento o variável e na soma ganha mais. A discussão estava muito próxima, e eu estava tranquilo, mas na sexta houve o assédio e o estafe dele fechou com o São Paulo. É decepcionante? É. Esperava mais consideração do jogador? Claro que esperava, mas sei reconhecer que nos ajudou muito, sempre tive apreço grande pelo jogador, e infelizmente no futebol acontece isso. Carreiras são curtas e as pessoas são imediatistas. Kardec é passado e não adianta remoer. Temos de trabalhar jogadores para que se tornem ídolos como outros estavam começando a virar.

O São Paulo foi extremamente antiético. E isso não é privilegio do Palmeiras. Se perguntar a outros clubes, vão te falar o conceito do São Paulo. Acontece desde a base
Paulo Nobre

São Paulo passou a perna no Palmeiras? E ainda pode levar Wesley

- Wesley tem contrato até o começo do ano que vem, não vamos misturar. O São Paulo foi extremamente antiético. E isso não é privilegio do Palmeiras. Se perguntar a outros clubes, vão te falar o conceito do São Paulo. Acontece desde a base. Já fui consultado por outros presidentes sobre boicote a torneios de base em que o São Paulo entraria, porque eles assediam jogador de adversário. Uma prática horrorosa. Tenho minha maneira de tocar minha vida e a presidência do Palmeiras. Entendo o torcedor estar muito chateado, como também estou, mas não tenho a política de jogar por debaixo da mesa. Não sou bonzinho, mas não sei jogar o jogo sujo que alguns jogam.

União entre presidentes contra o São Paulo

- Não vou liderar movimento contra o São Paulo. Mas a decepção é muito grande, e a relação com o São Paulo está totalmente prejudicada. A negociação ficou muito próxima. Não olho salário fixo. Eles se prendiam muito. Tudo sai do Palmeiras. Preocupo com o que posso pagar, e ele com o que pode receber. Eu olho o pacote todo. O Palmeiras subiu quatro ou cinco propostas, eles baixaram uma, e ficou muito próximo. Tinha certeza de que ia fechar, estava praticamente encerrado, e infelizmente não deu certo. Presidente tem de ser homem de assumir se bate pênalti para fora. Se a negociação não dá certo, assumo a inteira responsabilidade pela negociação. Houve várias negociações, alterei propostas da minha mesa olhando o todo, e se eventualmente não saiu, a responsabilidade é do presidente e assumo.

Demorou muito no acerto? 

- A do Gilson demorou, a do Leandro também, e foram concluídas. Essa também resolveria se ficasse entre Palmeiras e estafe. Estava quase pronta. Ninguém aqui é ingênuo. Claro que o mercado é voraz, mas se não tem um mínimo de ética, complica. Arrumei um investidor que colocaria 4 milhões de euros na negociação. Quando São Paulo avisou que subiria para 4,5 milhões de euros, liguei para esse investidor e ele disse que ainda se interessava, mesmo com lucro menor. Já os salários eram 100% do clube.  

A relação entre Palmeiras e São Paulo, em nível de diretoria, é muito ruim. Desde os anos 40, quando tentaram roubar o Palestra Itália do Palmeiras...
Paulo Nobre

Palmeiras tem interesse no Walter, do Fluminense?

Não comento interesse.

É possível se sentar com o São Paulo para discutir o calendário nacional?

- A relação entre Palmeiras e São Paulo, em nível de diretoria, é muito ruim. Desde os anos 40, quando tentaram roubar o Palestra Itália do Palmeiras... E a torcida não precisa bater na rua por isso, mas o exemplo tem de vir de cima, e com essa atitude é difícil ter bom relacionamento. Eu falava com a diretoria passada que precisávamos mudar essa história. Unidos, clubes como Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos seriam muito mais fortes. Mas com essa atitude concluo que não será nessa administração que a relação entre os clubes vai mudar.

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