Mel Lisboa: "Respiro Rita, estou vivendo dela"

Ao chegar no Teatro das Artes, no Shopping Eldorado, em São Paulo, Mel Lisboa é parada por um grupo de mulheres que pede para tirar foto com ela. “Vocês querem mesmo foto comigo, assim, sem maquiagem?”, brinca, levando as mãos para cima e dando de ombros, em um gesto muito próprio de Rita Lee. A atriz dá vida à mãe do rock no musical Rita Lee Mora ao Lado, que está em cartaz no local. Dias antes da estreia, QUEM teve acesso com exclusividade aos ensaios. “Eu já nem sei mais se estou andando ou agindo como ela fora do palco. Respiro Rita, estou vivendo dela. Foi um período muito intenso para poder ter a honra de representar uma artista com tamanha importância”, conta Mel. Com os cabelos cortados no mesmo estilo de Rita no final dos anos 1970 e começo de 1980, a atriz conta que um dos grandes trabalhos tem sido se manter ruiva. “Tento até lavar os cabelos a cada dois dias. Desbota muito e tenho que ficar pintando frequentemente”, diz.

Nos bastidores, ouvem-se os exercícios de aquecimento vocal por todos os lados. Mel contou com o apoio de fono e teve aulas de canto. “Não sou cantora. E ninguém canta como Rita. Ninguém. Foi difícil me preparar para isso e quero que as pessoas venham, escutem e gostem. Quero fazer um trabalho à altura do que Rita e seus fãs merecem.” A interpretação de Menino Bonito é uma das mais tocantes. No roteiro, é o momento em que Rita se declara para o amor de sua vida, o músico e parceiro Roberto de Carvalho, interpretado por Rafael Maia. A delicadeza de Doce Vampiro e a força de Ovelha Negra também brilham no palco, com Mel.

Trajetória

Também estão lá outras passagens marcantes da vida de Rita: a infância, o relacionamento com os pais e irmãs, tudo costurado por hits como Agora Só Falta Você, Saúde, Coisas da Vida e Baila Comigo. Personalidades brasileiras que passaram pela trajetória da cantora, como Gal Costa, Tim Maia e Caetano Veloso, também fazem parte do musical. Gilberto Gil (interpetado pelo ator Samuel de Assis) e a apresentação de Rita ao seu lado - quando fazia parte do grupo Os Mutantes -, no Festival de Música Popular Brasileira de 1967, com Domingo no Parque, está registrada. Assim como o tributo à impagável e delicada Jou Jou Balangandans, dueto da roqueira com o mestre da Bossa Nova, João Gilberto, em precisa interpretação de Nellson Oliveira. "Rita está em minha vida desde pequeno, quando cantava as músicas dela com minha mãe. Estrear em um musical que conta a sua vida é maravilhoso ", diz o ator, que também está no papel de Sergio Dias, de Os Mutantes.

A força de Elis Regina quando Rita é presa também permeia o texto, com a intepretação de Flávia Strongolli. Outro destaque fica por conta de Ney Matogrosso, interpretado pelo ator Fabiano Augusto, famoso por causa de uma propaganda em que perguntava “Quer pagar quanto?” e fã de Rita desde pequeno: “As músicas dela são cinematográficas. Sou ator graças a ela”. Debora Reis, que no musical interpreta Chezinha, mãe de Rita, e Hebe Camargo, também lembra de sua história com a roqueira: ela fez backing vocal em seus shows por mais de dez anos. “É uma honra estar aqui”, diz.

E o público, que vai ao teatro para celebrar a grande roqueira do Brasil, encontrará Rita em Mel. Nos gestos, muito bem colocados e nunca beirando a caricatura, a atriz mostra que diz a verdade quando fala que "respira e vive" Rita. "É meu grande papel", diz ela, que teve a honra de receber a visita da ilustre homenageada no domingo (13), que assistiu a tudo da plateia, sem avisar a ninguém. "Depois de tudo o que aconteceu, eu não dormi. Não consegui acreditar que Rita estava lá", conta Mel, que chorou muito ao ser avisada da presença da mãe do rock, no final do espetáculo. A emoção tomou conta de todo o elenco com as bençãos de Santa Rita de Sampa ao musical. "É muito louco eu estar aqui, viva, e tendo a oportunidade de me ver nesse palco", afirmou Rita - bem viva e cheia de graça - a QUEM.