Edição do dia 01/06/2014

01/06/2014 22h36 - Atualizado em 01/06/2014 22h46

'Não planejei a morte do Bernardo, não fui o mentor, diz Leandro Boldrini

Pai do menino assassinado passou pelo teste do detector de mentira. Fantástico obteve gravações de áudio do suspeito de participação no crime.

O médico Leandro Boldrini, um dos acusados pelo assassinato do próprio filho, Bernardo, de 11 anos, foi submetido ao teste do detector de mentiras. Submeter Leandro a esse exame é uma estratégia da defesa.  O detector é um recurso polêmico. Muitos especialistas da área jurídica não confiam na precisão do aparelho.

“Eu gostava do Bernardo. Gosto dele até hoje. Eu não fui o mentor da morte do Bernardo. Eu não planejei. Jamais faria uma coisa dessas. Fizeram um troço alheio ao meu conhecimento”, disse Leandro Boldrini.

O que diz Leandro Boldrini, o pai de Bernardo, é verdade ou mentira? O Fantástico obteve, com exclusividade, gravações de áudio de quarta-feira (28). O médico estava em uma sala do presídio de Charqueadas, região metropolitana de Porto Alegre, onde está preso há mais de um mês.

Leandro Boldrini foi submetido a um detector de mentiras. Ele ficou frente a frente com um perito que, segundo a defesa, se ofereceu para fazer o teste de graça e procurou o advogado do médico porque acreditava na inocência de Leandro.

Durante a investigação, a polícia quis que o médico passasse pelo detector, com um perito oficial. Mas ele não aceitou.

Agora, como estratégia de defesa, Leandro respondeu a 40 perguntas para o perito que procurou o advogado dele. Em duas horas, falou sem se exaltar e sem choro.

“O Bernardo não se sentia incluído na família”, disse Leandro.

O médico afirma que a atual mulher dele, Graciele, não se dava bem com Bernardo. O menino era filho de um casamento anterior.

As agressões verbais tanto do Bernardo contra ela existiam. E dela contra o Bernardo existiam. Mas eu nunca presenciei agressão física. O fato de ela ter interpretado de eu não gostar do Bernardo é o comportamento que era gerado dentro de casa que era uma coisa que me desagradava e que desagradaria qualquer pai. Bernardo não tolerava um não. 

Para o detector de mentiras, é verdade que o pai nunca viu a mulher bater no filho. Mas, o laudo aponta que "muito provavelmente Leandro não está sendo verdadeiro quando afirma que Bernardo não tolerava um não".

E o que aconteceu depois que o menino, de apenas 11 anos, tomou a iniciativa de ir até o fórum, três meses antes de morrer, dizendo que queria mais carinho da família?

“Procurava conversar mais com o Bernardo, dar atenção para ele. Enfim, ter um contato mais próximo, uma aproximação maior com ele”, afirmou Leandro Boldrini. Verdade, diz o detector de mentiras.

O aparelho usado para avaliar as declarações de Leandro Boldrini é igual ao que pertence à Polícia Civil gaúcha. O detector foi vendido à polícia pelo mesmo perito que analisou a fala do médico. Segundo o fabricante, um programa de computador, de tecnologia israelense, avalia, por meio da frequência de voz, se a pessoa diz a verdade.

“Não é possível enganar o sistema. Não tem essa possibilidade, porque o sistema é todo baseado na leitura cerebral, na leitura do pensamento”, afirma Demétrio Peixoto, inspetor de polícia.

Mas existem especialistas da área jurídica que discordam: “A ausência de base cientifica é tão grande que não pode ser considerada uma prova. Não tem sustentação de comprovação de resultado”, avalia Luiz Flávio Durso, presidente da Associação Brasileira de Advogados Criminalistas. 

“Esse detector é facilmente enganável, porque a pessoa pode se preparar para as perguntas e para as respostas. Portanto, quando vem da defesa, normalmente nós entendemos que eles já sabem que vai ser um fator positivo”, destaca Marcelo Dornelles, subprocurador-geral de Justiça do Rio Grande do Sul.

A polícia diz que Leandro foi o mentor do crime. Segundo as investigações, Bernardo foi morto em abril com uma injeção letal e o corpo, enterrado em um matagal pela madrasta, Graciele, e por uma amiga dela, Edelvânia Wirganovicz, acusada de receber dinheiro para participar do assassinato.

O pai do menino alega que não pediu para ninguém cometer o crime. Ele chama a mulher de Kelly. “Não financiei a Kelly de maneira alguma para matar o Bernardo. Se ela obteve algum recurso financeiro, foi de forma escusa. Foi de forma que eu não tive conhecimento”.

Verdade, segundo o detector de mentiras.

Graciele disse que a morte do enteado foi um acidente, causada pelo excesso de calmantes e que não aplicou nenhuma injeção nele.

Ela e Edelvânia continuam presas. E dizem que Leandro é inocente. As duas não quiseram passar pelo detector de mentiras da polícia.

“Não planejei a morte do Bernardo, não fui o mentor”, afirma o Boldrini.

Mauro Nadvorny, técnico no uso do aparelho, fez o teste em Leandro.

Mauro: Leandro, de acordo com o resultado, é inocente.
Fantástico: O senhor não tem dúvidas disso?
Mauro: Com relação ao resultado, nenhuma.

O laudo particular, com o resultado do detector de mentiras, será entregue à Justiça esta semana.

“O resultado, na minha expectativa, já era esperado. Efetivamente, não há elementos da participação de Leandro nesse caso”,diz Jader Marques, advogado de Leandro.

O Ministério Público rebate: “Não há elementos de que ele efetivamente tenha matado, mas ele contribuiu em todos os momentos para que isso acontecesse”, afirma Marcelo Dornelles.

Ainda não foi marcada, a data do julgamento dos acusados

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