SÃO PAULO — A nova face da luta pela causa palestina é sorridente e marcada por espinhas. Aos 23 anos, o cantor Mohammed Assaf, natural da Faixa de Gaza, desembarcou em São Paulo para se apresentar hoje na abertura do 64º Congresso da Fifa. Ele será o primeiro artista árabe a participar de uma Copa.
Até junho do ano passado, Assaf era cantor de casamentos no campo de refugiado de Khan Yunis, em Gaza, onde passou a infância e a adolescência. Ali, ele dividia um apartamento de três quartos com os pais e seis irmãos. Antes da fama, trabalhou em construção civil, como motorista de táxi, e chegou a ser lateral na seleção palestina de futebol.
— Jogávamos descalços, as pedras cortavam nossos pés. Nunca ganhei nada por isso, mas já era bom o bastante que nos deixassem jogar — afirmou Assaf, em entrevista ao GLOBO.
Ele ganhou projeção mundial depois de vencer, há um ano, o “Arab Idol”, uma versão árabe do reality show “American Idol”. Desde então, milhões de pessoas já viram seus vídeos no YouTube, ele virou ídolo pop no Oriente Médio e se tornou embaixador da Juventude para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).
O grau de devoção dos fãs de Assaf lembra o vi sto por astros ocidentais. Em meio à comoção, os fãs lançam ao palco seus keffiyeh — lenço usado pelos árabes para cobrir a cabeça, celebrizado pelo líder palestino Yasser Arafat. Assaf apresenta no Brasil a canção “Assaf 360”, composta com a colaboração de internautas. A cada download feito, o valor do copyright (US$ 2,99) será revertido à campanha “Give for Food” (Doe para Alimentação), que pretende distribuir alimentos a pelo menos um milhão e meio de refugiados palestinos.
Ele nega ter pretensões políticas ou relação com Fatah ou Hamas — os dois principais — e rivais — grupos palestinos
— As diferenças políticas não me importam, apoio quem ajudar meu povo, mas não me concentro em jogos políticos.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, já criticou a sua música, insinuando que ela incita à violência de árabes contra Israel.
— Em primeiro lugar, sou um artista, e ele, um chefe de governo. Se a minha música o incomoda, isso é problema dele. Estou aqui para cantar, não para incitar violência alguma. Mas me pergunto: por que ele se incomodaria comigo? É mais um exemplo de como não temos tido a chance de nos expressarmos. Minha resposta para isso é cantar a humanidade e a liberdade. Acredito que uma música é muito mais poderosa do que armas e balas.
Segundo ele, o convite para participar da Copa veio no ano passado, do presidente da Fifa, Joseph Blatter.
— Ele foi à Palestina inaugurar uma escola. Eu apareci no evento e acabei ofuscando a presença dele.
Assaf diz que quer ver o português Cristiano Ronaldo e o argentino Lionel Messi jogarem.
— Eles são meus ídolos.