Política

A senadores, ministro frustra expectativa sobre apuração de violações na ditadura

Senador João Capiberibe se reuniu com Amorim e afirmou que ministro avalia que não se pode esperar muito da sindicância

BRASÍLIA - Próximo de divulgar o resultado da sindicância aberta para apurar violações de direitos humanos em sete unidades das Forças Armadas durante a ditadura, os militares informaram na terça-feira a alguns senadores que o resultado dessa investigação não vai atender a expectativa. O ministro da Defesa, Celso Amorim, segundo o senador João Capiberibe (PSB-AP), na presença dos comandantes da Aeronáutica, Marinha e Exército, comunicou aos parlamentares para não esperar muito dessa investigação. A sindicância foi aberta a pedido da Comissão Nacional da Verdade (CNV).

- O ministro nos disse para não se esperar tanto sobre essa sindicância. A Comissão da Verdade fez perguntas específicas. E disse que não foi perguntado sobre espaço das Forças Armadas usados para tortura. Nos disse que irão se limitar aos questionamentos da comissão - disse Capiberibe ao GLOBO.

Num almoço em seu gabinete, Amorim, com os três comandantes, se reuniram com Capiberibe (PSB-AP) e a senadora Ana Rita (PT-ES), presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado. A investigação foi aberta pelas três forças em 24 de março. Essas comissões internas teriam o prazo inicial de 30 dias para encerrar seus trabalhos, prorrogáveis por mais 20 dias. Esse prazo teria se encerrado em meados de maio. O Ministério da Defesa informou que o prazo foi prorrogado e as conclusões saem nos próximos dias.

Procurado pelo GLOBO, o ministro da Defesa informou, por intermédio de sua assessoria, que é preciso colocar sua frase dentro de um contexto. Para Celso Amorim, foi criada uma expectativa a respeito dos resultados dessa sindicância na opinião pública maior do que o objeto da investigação, maior do que o que deve ser apurado atendendo ao pedido da Comissão da Verdade. O pedido da comissão é de que fossem apurados "desvios de finalidade" dessas unidades militares durante a ditadura.

O senador, que foi perseguido pela ditadura e chegou a viver no exílio, disse que a conversa no Ministério da Defesa foi franca e aberta e que trataram de temas "espinhosos" para os militares. Que se tratou de um diálogo cordial. Foi um almoço protocolar e que buscou aparar arestas. Desde o ano passado, a subcomissão de Memória, Verdade e Justiça do Senado, presidida por Capiberibe, levar os comandantes militares ao Senado para tratarem desses assuntos. A subcomissão funciona dentro da Comissão de Direitos Humanos, presidida por Ana Rita.

Capiberibe aproveitou o almoço e cobrou do ministro o acesso às filmagens feitas pelo Exército durante a visita de parlamentares ao prédio do antigo Doi-Codi do Rio, atual 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Tijuca, em setembro do ano passado. Os militares registraram toda a visita e os passos dos senadores na unidade, o que incomodou os parlamentares. Amorim afirmou que desconhecia o assunto, mas que será providenciado.

Também nesta terça, os deputados Chico Alencar (PSOL-RJ) e Luiza Erundina (PSB-SP) protocolaram requerimento pedindo informação ao Ministério da Defesa sobre os resultado da sindicância.

"Por que as sindicâncias instauradas para averiguar os casos de tortura e morte nas instalações das Forças Armadas ainda não foram concluídas? Passados mais de 70 dias, em qual estado está cada uma das sindicâncias? Quais procedimentos estão sendo utilizados por cada uma das sindicâncias? Quem são os funcionários públicos e militares responsáveis por essas investigações?", questionam Chico Alencar e Erundina.