Cultura

Sem repasse de verbas, bibliotecas parque têm acesso limitado

Horário de funcionamento das unidades do Centro, Rocinha, Manguinhos e Niterói é reduzido pela metade; medida provoca revolta entre os frequentadores

Biblioteca Parque Estadual, que fica na Avenida Presidente Vargas, chegava a receber 1700 pessoas por dia em horário normal, das 10h às 20h. Agora, terá atendimento reduzido para 12h às 18h30
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Biblioteca Parque Estadual, que fica na Avenida Presidente Vargas, chegava a receber 1700 pessoas por dia em horário normal, das 10h às 20h. Agora, terá atendimento reduzido para 12h às 18h30 Foto: Divulgação

RIO — Quem foi a uma das Bibliotecas Parque do Estado pela manhã ou à noite nos últimos dois dias deu de cara com a porta. E nem adianta deixar para ir no fim de semana: todas estarão fechadas também. As quatro unidades (que ficam na Avenida Presidente Vargas, no Centro; em Manguinhos; na Rocinha; e em Niterói) abriam de terça a domingo, das 10h às 20h (exceto a de Niterói, que ia até 18h nos fins de semana). Mas agora todas passam a funcionar apenas de terça a sexta-feira, das 12h às 18h30m, numa redução de metade do expediente.

Meninas dos olhos do projeto de cultura do governo estadual — uma das promessas da campanha do governador Luiz Fernando Pezão é inaugurar outras 11 —, as Bibliotecas Parque integram a estrutura da Secretaria estadual de Cultura, mas são geridas pela organização social (OS) Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG), que recebe, por ano, R$ 20 milhões para administrá-las. De acordo com o diretor executivo da OS, Pedro Sotero, o governo estadual ainda não repassou as duas parcelas de R$ 5 milhões cada (correspondentes ao orçamento de 2015) e que venceram em dezembro e março passados. Acumulando dívidas com a Light e empresas terceirizadas de limpeza e segurança, a OS alega não ter como manter o pleno funcionamento das bibliotecas.

— A única solução era enxugar o atendimento. Ou fazíamos isso ou teríamos de suspender o funcionamento de vez ou demitir uma equipe que levamos tanto tempo para afinar — diz Sotero. — Já sabíamos que este ano seria apertado economicamente, prevíamos algum atraso, mas ainda não recebemos nada. Por isso, tentamos ajustar o funcionamento para os horários em que recebemos mais leitores. E 70% do público frequentam a Biblioteca Parque Estadual, a maior de todas, entre 12h e 18h30m.

SEM PREVISÃO DE REPASSE

Sotero reuniu-se esta semana com o secretário estadual de Fazenda, Julio Bueno, que prometeu dar, até amanhã, uma nova previsão de data para o repasse. O que não chega a ser uma boa notícia: o diretor executivo do IDG sinaliza que, mesmo com as parcelas atrasadas pagas, o horário de funcionamento das unidades não deverá voltar ao que era antes.

— Assim que tivermos alguma previsão, vamos ampliar o horário, é o que mais queremos. Mas precisaremos repensar o período das 10h às 20h e os fins de semana. Apesar de termos muito interesse em manter principalmente a Biblioteca Parque Estadual (na Avenida Presidente Vargas) aberta aos domingos, trata-se de um dia complicado de atrair público. Recebemos cerca de 1.700 pessoas diariamente, e só 600 aos domingos. É um dia em que todo o entorno está fechado, do Campo de Santana às saídas do metrô. Por outro lado, a Biblioteca Parque de Manguinhos recebe muitas pessoas nesse dia, pois é a única opção de lazer da região. Teremos de reavaliar cada unidade — diz ele.

A mudança, anunciada na sexta-feira à noite, provocou revolta entre frequentadores.

— Lamentável. Uma biblioteca incrível dessa e agora só funciona durante o horário de trabalho da maior parte das pessoas. Qual o sentido? Não abre nem sábado e domingo. Acaba de completar um ano e esse é o presente que o governo estadual dá a ela e a nós — desabafou o escritor Leonardo Villa-Forte, um dos muitos prejudicados com a medida, lembrando que a Biblioteca Parque Estadual fez um ano em abril.

Em nota, a Secretaria estadual de Cultura disse que o ajuste é “provisório” e que as atividades agendadas para os próximos fins de semana “estão sendo avaliadas caso a caso”.