Rio

Neto de Figueiredo, empresário é sócio de Donald Trump em hotel na Barra

Paulo Figueiredo Filho acumula tantas polêmicas quanto candidato à presidência dos EUA

O empresário Paulo Figueiredo: ‘moderados não fedem nem cheiram’
Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo
O empresário Paulo Figueiredo: ‘moderados não fedem nem cheiram’ Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo

RIO — Foi em 2012, num clube de golfe em West Palm Beach, na Flórida, que o carioca Paulo Figueiredo Filho conheceu seu mais ilustre sócio. Figueiredo almoçava com Ivanka Trump, a filha do magnata republicano Donald Trump, candidato às eleições presidenciais americanas, famoso por seu topete escorrido para o lado e pelas posições políticas radicais de direita. Trump chegou ao clube de helicóptero e foi apresentado pela filha a Figueiredo de um jeito bem direto: “O avô do Paulo foi presidente do Brasil, e ele também é bem conservador”.

Como o sobrenome sugere, Paulo Figueiredo Filho é neto de João Figueiredo (1918-1999), o último presidente do regime militar brasileiro. E, como avisou Ivanka, ele é um liberal conservador, com gosto para polêmica tanto quanto Trump. Aos 33 anos, ex-assessor especial do prefeito Eduardo Paes, entre 2009 e 2010, e empresário do mercado imobiliário, Figueiredo é jovial e brincalhão, mas não esconde suas posições políticas e nem economiza nas palavras para expô-las. Em uma hora e meia de entrevista, ele chamou Dilma Rousseff de “jumenta” e Aécio Neves de “bunda-mole”. Disse que os movimentos de minorias “precisam ser massacrados”, que universidades e jornais do mundo foram ocupados pela esquerda por ação da KGB e que a “era dos moderados chegou ao fim”.

— Nunca vi na História os moderados fazerem a diferença. Moderados não fedem nem cheiram. Marina Silva diz que Lula e Fernando Henrique são legais e ruins. Que café é bom com açúcar e com adoçante. Não é assim que se resolvem os problemas do mundo — disse o empresário, em seu escritório na Barra, decorado com um boneco em miniatura de Trump.

CRÍTICAS AOS JORNAIS

Nos últimos anos, Figueiredo ganhou exposição pelos negócios com Trump. Depois do encontro na Flórida, eles se tornaram sócios no Trump Hotel Rio, que será inaugurado em 30 de março, numa área de três mil metros quadrados, na Praia da Barra. Além do mais luxuoso do Brasil, será um dos mais caros: para as Olimpíadas, todos os 170 quartos do Trump Hotel já estão reservados, e a suíte presidencial será ocupada por um empresário chinês que pagou US$ 1 milhão por 22 dias.

— Eu acho que o Brasil vai continuar em depressão profunda no ano que vem, mas o segredo de uma crise é você explorar as oportunidades. No setor hoteleiro, a alta do dólar é benéfica. Cerca de 60% dos meus hóspedes serão estrangeiros, dispostos a pagar uma diária de US$ 400, US$ 500, no mínimo — diz Figueiredo. — O turismo no Brasil é mal explorado. Joaquim Levy deveria parar de querer aumentar impostos e sugerir um plano para fomentar o Brasil como indústria hoteleira. Era só liberar o visto para os americanos. Se tivesse um pedido para a presidente Dilma, eu falaria assim: “Sua jumenta, libera o visto para os americanos”.

Com o anúncio formal da candidatura de Trump à presidência americana, em junho, a fama de Figueiredo aumentou e, em agosto, ele foi perfilado pelo “New York Times”. O jornal tentou opor o sócio brasileiro aos comentários de Trump contra a intensa imigração latina nos EUA. Mas ele não só o defendeu, como compartilha de muitas de suas ideias. Seus posts no Facebook — onde condena o aborto, defende a liberação da posse de armas e chama as feministas de “feminazis” — são controversos, mas chegam a ganhar mais de mil curtidas. Recentemente, ele escreveu que muita gente gosta de seu discurso, mas não curtem para não entrar em polêmica. E sentenciou: “Só penso uma coisa: seu bundão!”

— Aquele jornalista do “New York Times” não passa mais da porta do meu escritório. Ele construiu uma reportagem distorcida. O “New York Times” é um jornal muito ruim, de extrema esquerda — reclamou Figueiredo, que mesmo assim emoldurou a página do jornal americano, ao lado de um quadro da capa da revista “Rolling Stone” com a foto de Trump. — Eu guardo as matérias ruins também. Aceito que o jornalista fale o que quiser, desde que seja correto. Mas todos os jornais têm uma tendência de esquerda muito forte. No Brasil mesmo, não há um jornal de direita. O GLOBO é de esquerda.

Figueiredo estudou comunicação, economia e filosofia. Ele tem uma filha de seis meses nascida nos EUA, é casado há sete e se declara protestante. Nas últimas eleições, votou em Aécio Neves, sem convicção. Na próxima, espera votar em Paes.

— Não achava o Aécio um bom candidato. Ele é horroroso, frouxo, bunda-mole, entregou o Brasil na mão do PT. Agora está desaparecido — diz.

Sobre os atentados em Paris, Figueiredo escreveu na internet: “Pobres civis franceses, desarmados pelos governos de esquerda. Apavorados com terroristas armados nas ruas, o máximo que podem atirar-lhes é uma baguete ou um pedaço de queijo brie”.

DEFESA DO AVÔ GENERAL

Por seus petardos, já foi ameaçado até de morte pelo que chama de “militantes de ambiente virtual”.

— Esses movimentos feministas, gayzistas, de consciência negra, sei lá qual é o nome politicamente correto... São fracos, dão impressão de que são fortes porque são organizados. Esses caras precisam ser massacrados, prestam um desserviço ao Brasil.

Para as críticas a seu avô, último presidente militar do país, tem na ponta da língua a defesa ferrenha.

— Não tem mais homem igual a meu avô. Ele assumiu o governo com o discurso de fazer do Brasil uma democracia plena — afirma, criticando a ideia da volta da ditadura. — A ditadura é um modelo que não me agrada. Mas no Brasil era uma situação de guerra.