28/11/2015 09h21 - Atualizado em 29/11/2015 12h56

Bordadeiras lançam loja virtual para aumentar vendas e manter tradição

Vendas cresceram 70% com os produtos no ambiente virtual, diz associação.
Ideia da loja virtual surgiu após pesquisa de mestrado realizada na USP.

Paula CavalcanteDo G1 Caruaru

Loja virtual foi lançada com financiamento coletivo (Foto: Reprodução/ Bordados de Passira)Loja virtual de bordadeiras de Passira foi lançada com financiamento coletivo (Foto: Reprodução/ Bordados de Passira)

Artesãs que fazem bordado manual em Passira, Agreste pernambucano, encontraram uma forma de impulsionar as vendas e manter a tradição. Os produtos deixaram os pontos físicos e passaram para uma loja virtual. Com ajuda de pesquisadores, aproximadamente 40 bordadeiras da Associação das Mulheres Artesãs de Passira (AMAP) fizeram um financiamento coletivo e arrecadaram mais de R$ 34 mil.

A loja virtual foi criada em 2014 porque as bordadeiras estavam com dificuldade para vender os produtos. "A procura na cidade caiu muito pois o bordado do Ceará entrou aqui e os turistas não conseguem identificar qual é o [bordado] manual e o da máquina. A gente estava praticamente sem vender nada. Com a loja online, o aumento foi de 70%, principalmente nas peças de vestuário", relata ao G1 a vice-presidente da AMAP, Marcília Cristiane Firmino, de 35 anos.

A bordadeira Marcília Cristiane Firmino conta aprendeu o ofício quando tinha nove anos. Dona Lúcia Firmino, mãe dela e responsável por passar a tradição, destaca que as vendas pelas internet destacaram o processo de distribuição. "Não tem que sair de casa, gastar dinheiro. Para gente, foi de mão cheia. Além disso, as bordadeiras da associação fazem apenas o que é pedido. Antes sobrava e agora trabalhamos só com o que elas [as clientes] pedem", diz a artesã, que é presidente da associação.

Marcília Cristiane Firmino  e Lúcia Firmino, bordadeiras de Passira (Foto: Andreson Melo/ TV Asa Branca)Marcília Cristiane Firmino aprendeu o ofício com a mãe,  Lúcia Firmino (Foto: Andreson Melo/ TV Asa Branca)

As peças disponíveis no site de vendas procuram mostrar o estilo de vida da região. "Retratamos o bordado, a zona rural, para não deixar a cultura morrer", fala a filha de Dona Lúcia. Segundo ela, faltam bordadeiras para atender à demanda. "A não valorização da mão de obra faz com que os mais novos não tenham interesse".

Pesquisa
A ideia da loja virtual surgiu da mestre em Têxtil e Moda pela Universidade de São Paulo (USP) Ana Julia, de 28 anos. Ela pesquisa a relação entre o design de moda e o artesanato desde a graduação. "Quando entrei no mestrado na USP, comecei a procurar casos de contato entre a moda e o artesanato nordestino. Eu conheci o trabalho das artesãs de Passira em 2010, por conta da participação delas na São Paulo Fashion Week".

Na pesquisa, Ana Julia buscou entender a interação entre a moda a tradição artesanal brasileira. Após o estudo, a jovem ficou com vontade de contribuir com a comunidade de bordadeiras. "Pesquisei a produção do bordado manual por dois anos e sabia da riqueza daqueles produtos, mas também conheci de perto os problemas que as artesãs enfrentam. O produto artesanal não é apenas um produto, é a história de vida e de resistência de quem faz".

Feira de bordado
Com objetivo de divulgar o artesanto da região, é realizada até o domingo a 29ª edição da Feira do Bordado Manual de Passira. A estrutura conta com oficinas e concurso de bordadeiras. A homenageada deste ano é a professora Ignês Costa, uma das fundadoras do evento, em 1985. A iniciativa deve movimentar R$ 300 mil nos três dias, segundo a assessoria de imprensa da prefeitura.

Feira do Bordado Manual é tradição em Passira (Foto: Letícia Albuquerque/Arquivo Pessoal)Feira do Bordado Manual é tradição em Passira (Foto: Letícia Albuquerque/Arquivo Pessoal)
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