13/08/2014 20h45 - Atualizado em 13/08/2014 20h45

Polícia apura vídeo de abordagem
que antecedeu sumiço de jovem

Imagens foram obtidas em imóvel próximo ao local da revista policial.
'Enquanto não acharmos o corpo, temos esperança', disse o pai, Jurandy.

Do G1 BA

Jurandy Silva Santana, de 40 anos, pai de um morador do bairro do Retiro, em Salvador, que teria desaparecido após uma abordagem policial, divulgou nesta quarta-feira (13) as imagens do circuito interno de segurança de um imóvel localizado no bairro da Calçada, onde o filho teria sido visto pela última vez.

As imagens mostram o momento em que um homem em uma motocicleta, que o pai afirma ser o filho Geovane Mascarenhas de Santana, de 22 anos, desce do veículo após uma abordagem policial. Pelas imagens, três policiais descem de uma viatura, sendo que um deles desfere um tapa no rosto do jovem, que estava com as mãos para o alto. Logo após, um outro PM chuta as pernas do jovem, que cai ajoelhado.

Ainda conforme as imagens, o jovem é revistado e conversa com um dos PM's, sendo que em seguida a moto dele é vistoriada. Durante a ação, algumas pessoas passam pelo local. Após a averiguação do veículo, um policial tira a moto da rua. Enquanto isso, as imagens mostram o porta-malas da viatura sendo aberto e depois fechado. O rapaz não aparece mais nas imagens. Toda a ação dura seis minutos.

O pai do jovem diz que tem certeza que o rapaz que aparece no vídeo é o filho. "Logo depois que a gente foi avisado, começamos a procurar nas delegacias. Até a segunda-feira (11), que a gente foi na Corregedoria da Polícia e explicou, mas a gente não tinha provas. Uma semana depois a gente conseguiu o vídeo e foi lá e passou para a corregedoria. Estamos aí procurando sem ter nenhuma resposta até agora", contou a mulher do rapaz, Jamile Santos.

O caso está sendo acompanhado pela 2ª Delegacia, situada no bairro da Lapinha, que comanda a segurança no local onde o rapaz desapareceu. "Nós estamos solicitando que ele [pai do jovem] preste um novo depoimento, nos apresente aqui formalmente as provas que ele detém, para que a gente possa avaliar as provas e iniciar uma investigação a cerca deste fato lamentável", disse a delegada da unidade, Patrícia Pinheiro.

Caso
O pai de um morador do bairro do Retiro, em Salvador, afirma que o filho está desaparecido há 11 dias, após ter sido abordado por policiais militares das Rondas Especiais (Rondesp) no bairro da Calçada. Jurandy Silva Santana, de 40 anos, conta que conseguiu um vídeo no qual mostra o momento em que três PMs agridem Geovane Mascarenhas de Santana, de 22 anos. Em seguida, o rapaz entra na viatura e depois tem a moto levada por um dos policiais. O desaparecimento foi registrado na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

O caso ocorreu no dia 2 de agosto e até esta quarta-feira (13) o jovem não havia sido encontrado. "Consegui um vídeo de um comerciante do bairro que mostra meu filho de moto, sem capacete. A Rondesp estava numa viatura, para ele, faz a abordagem, não encontra nada, mas mesmo assim bate nele. Deram murro nas costelas dele, colocaram ele no fundo da viatura. Depois, um policial montou na moto que ele estava e foi embora", descreve o pai.

Através de nota, a Polícia Militar informou que está em finalização do levantamento das escalas de serviço do último dia de agosto para identificar a guarnição que aparece nas imagens. Segundo a PM, os três envolvidos serão ouvidos através de um termo de declarações para em seguida, sendo o caso, instaurar procedimento próprio para apurar
as responsabilidades.

Jurandy afirma que tem certeza que o rapaz que aparece no vídeo é filho dele. "Ele tomou banho e saiu de casa dizendo que ia na casa de um amigo. Todo mundo que o conhece sabe que era ele. Ele estava com a mesma roupa que saiu de casa", acrescenta.

Após o sumiço, o pai conta que prestou queixa em delegacias da região, foi até o Instituto Médico Legal (IML), ao presídio e hospitais, na esperança de encontrar alguma notícia sobre o jovem, mas até esta quarta-feira não obteve qualquer informação.

"Quando vou na delegacia me perguntam se ele não estava com droga. Mas ele não tinha nada. A moto era dele e o documento estava correto. Ele só estava sem capacete e não tinha habilitação, mas estava providenciando", conta.

O caso foi registrado na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Contudo, a unidade afirma que, como se trata de um suposto ato violento, a delegacia da área é responsável pela investigação. O caso então foi encaminhado à 2ª Delegacia, situada no bairro da Lapinha, mas até a publicação desta matéria o G1 não havia conseguido contato.

Jurandy conta que Geovane tem duas passagens na polícia por roubos cometidos em 2011. No entanto, o pai afirma que o rapaz estava trabalhando e não tinha qualquer problema com a Justiça. "Ele tem uma filhinha de um ano e sete meses, trabalha fazendo limpeza de ônibus, mas está afastado", acrescenta.

"Ainda tenho esperança. Enquanto não acharem o corpo dele, eu tenho esperança. Estou na luta, uma angústia, vou em um lugar, vou em outro. Estou sem comer direito, sem dormir. Estou sofrendo. Ele não desapareceu do nada, ele foi levado. Será que é assim que a polícia tem que agir?", questiona o pai.

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