Sergio Fonta ao lado de Anita Terrana na montagem 'A Prostituta Respeitosa' (Foto: Paulo de Tarso)Há quatro anos, o ator e crítico teatral Sergio Fonta deu vida em cena ao Senador Clark, clássico personagem idealizado por Jean-Paul Sartre na década de 40. Agora, com uma nova perspectiva, ele revive a experiência de estrelar “A Prostituta Respeitosa” sob a direção de Marco Aurélio Hamellin. O espetáculo faz parte do projeto “Sartre Mais Uma”, em cartaz a partir de hoje no Teatro do Solar de Botafogo.
– Em minha trajetória como ator, nunca tinha vivido essa experiência. Percebi na pele como o teatro pode ser amplo, generoso e multifacetado – avalia o ator.
As apresentações se revezam com a montagem “Casa de Cômodos”, que transpõe a realidade da segregação racial diretamente para o cenário do Rio de Janeiro dos anos 30. O projeto é uma idealização de Cecília Terrana, autora do segundo espetáculo.
Na peça de Sartre, ambientada em uma cidade do Sul dos Estados Unidos, o público acompanha a história de um negro vítima de uma acusação caluniosa. Sua única testemunha é uma prostituta que, devido à sua condição, é manipulada e impedida de defendê-lo. Assim, a peça levanta como principais discussões não só o racismo, mas a manipulação do poder. O personagem de Fonta é um dos grandes responsáveis por utilizar sua influência para conduzir a moça ao falso depoimento.
– É importante analisar também essa questão da força que o pretenso poder estabelecido tem de modificar uma verdade. O Senador Clark vem com uma feição de bom homem, o público acredita nisso em um primeiro momento. Até que a máscara cai, como costuma acontecer frequentemente nos dias de hoje – explica o ator, que compara as duas vezes que interpretou o personagem: – Nada mudou em seu caráter, ele contínua um canalha. Só que, na montagem anterior, ele surgia como um articulador declarado. A plateia percebia que ele estava jogando. Dessa vez é muito pior; ele se faz de bonzinho e depois mostra suas verdadeiras cores.
O elenco de 'A Casa de Cômodos' (Foto: Luca Machado)Já no contexto brasileiro, Cecília optou por escrever quase uma resposta para a primeira história. Com direção de Marcelo Marques, “Casa de Cômodos” narra o drama de uma mulher ameaçada de ser expulsa de sua própria casa por ser acusada injustamente de ser uma prostituta. Seus vizinhos, uma família de negros, são os únicos que sabem de sua inôcencia porém se apoiam em diversos motivos para não ajudá-la.
– Ouvimos falar que preconceito é algo que não existe mais hoje, mas se conversarmos com colegas negros percebemos que não é verdade. O racismo ainda existe. Embora as peças passem perto dos anos 40, elas trazem essa dicussão para a nossa realidade de forma contundente. O projeto é instigante justamente por mostrar dois ângulos de um mesmo preconceito – acredita Fonta.
Para possibilitar as alternâncias entre as duas montagens – cada título fica em cartaz a cada final de semana –, o diretor Marcelo Marques assumiu a cenografia das duas equipes. Outra coincidência está no fato de que o Hamellin, diretor de “A Prostitura Respeitosa”, também está no elenco de “A Casa de Cômodos”.
– As duas peças quase dialogam e há um vínculo até nas equipes. É uma melange bem interessante!
Sartre Mais Uma
A Prostituta Respeitosa
Semanas 26 a 29 de junho/ 10 a 12 de julho/ 24 a 27 de julho/ 7 a 10 de agosto
Teatro do Solar de Botafogo
Quinta a sábado, às 21 horas; domingos, às 20h30
Diretor: Marco Aurélio Hamellin
Elenco: Anita Terrana, Sergio Fonta, Thiago Detofol, Cláudio Bastos e Frederico Baptista
Classificação Etária: 14 anos
Casa de Cômodos
Semanas 3 a 6 de julho / 17 a 20 de julho / 31 de julho a 3 de agosto / 14 a 17 de agosto
Teatro do Solar de Botafogo
Quinta a sábado, às 21 horas; domingos, às 20h30
Diretor: Marcelo Marques
Elenco: Adriana Zattar, André Frazzi, Deo Garcez, Kenya Costta e Soraia Arnoni
Classificação Etária: 14 anos
