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Coluna_Arquibancada (Foto: Monet)
Felipão só vai achar o time ideal do Brasil perto do início do Mundial. Historicamente sempre foi assim. (Foto: Getty Images)

Felipão só vai achar o time ideal do Brasil perto do início do Mundial. Historicamente sempre foi assim. (Foto: Getty Images)

Quando o assunto é seleção brasileira, sou conservador. Ou seja, sou daqueles que sempre vai defender a tese de que "seleção é momento". Pela quantidade de bons  jogadores que formamos - mesmo que ele tenha diminuído muito nos últimos anos - é impossível alguém dizer que vai manter o mesmo time jogando durante dois ou três anos. E quem comenta isso ou está falando uma mentira ou pouco conhece de futebol.

Na verdade, todo período de quatro anos entre Copas deveria ser utilizado para testar jogadores e saber se eles conseguem se ter um bom desempenho atuando com a camisa do Brasil (usei deveria, pois sabemos que não funciona bem assim, não são poucos os atletas que causam surpresas quando convocados, são valorizados e depois de uma negociação e depois nem são mais lembrados).

Por isso, só será possível especular o time ideal da seleção que vai disputar o Mundial aqui no Brasil depois que Luiz Felipe Scolari definir, lá em maio, qual será o grupo de 23 convocados.

Portanto não devemos perder tempo, por exemplo, discutindo se o goleiro Júlio César pode ser titular do Brasil mesmo sendo reserva de um time inglês de segunda divisão, como o QPR ou jogando na inexpressiva MLS - liga de futebol norte-americana – por um time canadense qualquer. Para um goleiro experiente como ele e com o período de treinamento antes do Mundial, em poucos dias, o arqueiro recupera a forma ideal, principalmente porque será orientando por Carlos Pracidelli, homem de confiança de Felipão e que é um excepcional treinador de goleiros.

O mesmo acontece com os jogadores que estão contundidos agora, como os casos do lateral Marcelo, o volante Paulinho e os atacantes Neymar e Fred.

Aliás, um "descanso" agora pode ser uma boa oportunidade para que eles consigam chegar inteiros no Mundial. Não devemos esquecer, por exemplo, que Ronaldo e Rivaldo, contundidos, pouco jogaram nos meses que antecederam a Copa do Mundo de 2002. Recuperados e inteiros foram destaques do Brasil na conquista do pentacampeonato.

Já que estamos falando em história sempre é bom dizer que em todas as conquistas brasileiras em Mundiais, o nosso time campeão foi formando em cima da hora ou moldado depois do início da competição.

Em 1958, no torneio disputado na Suécia, o time foi modificado aos poucos. Por exemplo, os gênios Pelé e Garrincha só entraram no terceiro jogo, vitória contra a URSS, por 2 a 0, e ao longo de toda competição ganharam posição no time nomes como o volante Zito, o atacante Vavá e o lateral Djalma Santos que só jogou a decisão do torneio e mesmo assim foi eleito o melhor lateral-direito do torneio.

Já na campanha do bicampeonato mundial, em 1962, no Chile, mesmo com a base do time vencedor quatro anos antes, algumas posições foram definidas em cima da hora. Como nos casos do zagueiro Mauro - que teria ganhado a camisa de titular e capitão da equipe, de Bellini, literalmente no grito - e dos atacantes Coutinho e Pepe, que brigavam pela vaga entre os 11, mas se contundiram perto do início do Mundial. No torneio, na terceira partida, aconteceu uma mudança importante. Nada menos que Pelé se contundiu e preciso ser substituído por Amarildo, que acabou sendo um dos destaques do nosso time.

Jairzinho, o furação da Copa de 1970, formou no ataque - que demorou a ser definido - que encantou o planeta (Foto: Getty Images)

Jairzinho, o furação da Copa de 1970, formou no
ataque - que demorou a ser definido - que
encantou o planeta (Foto: Getty Images)

Considerada a melhor seleção que já atuou em Mundiais, o Brasil que conquistou o tricampeonato no México, em 1970, também só confirmado muito perto da estreia no torneio. O técnico Zagallo, que assumiu o time no lugar do técnico/jornalista João Saldanha, relutava em usar a base do ataque que brilhou nas eliminatórias dirigido pelo antecessor, que era formado por Jairzinho, Tostão, Pelé e Edu. Logo de saída, trocou Edu, por Paulo Cezar que ajuda na marcação, e também tentava jogar com um centroavante fixo, como Roberto Miranda ou Dario. Só nos período final dos treinos, já no México, foi definido o ataque que brilhou nos campos mexicanos formado por: Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivellino. Ainda na véspera da estreia do Brasil, contra a Tchecoslováquia, a equipe titular teve uma nova mudança com a entrada de Everaldo no lugar de Marco Antônio.

Na Copa de 1994, quando conquistou o tetra, o Brasil teve que fazer mudanças importantes na defesa. Muito perto do Mundial nos EUA, o técnico perdeu a dupla de zagueiro titular formada por Ricardo Rocha e Ricardo Gomes. Por sorte do treinador, os reservas Aldair e Marcio Santos jogaram muito naquele mundial. Durante o torneio o técnico também teve que fazer duas mudanças importantes nos titulares. Ainda na fase de classificação ele tirou o meia-atacante Raí para colocar o volante Mazinho, para que o Brasil ficasse mais tempo com a posse de bola, e a partir das quartas-de-final teve que usar Branco, no lugar de Leonardo na lateral-esquerda, depois que o titular foi expulso na partida contra os Estados Unidos.

O volante Kleberson ganhou a posição no time de Felipão durante a Copa do Mundo de 2002 (Foto: Getty Images)

O volante Kleberson ganhou a posição no time
de Felipão durante a Copa do Mundo de 2002
(Foto: Getty Images)

Por fim, na campanha do penta a história da formação do time durante a competição se repetiu. Faltando poucos dias para a estreia do Brasil, Felipão perdeu seu capitão, o volante Emerson, e teve que fazer mudança na equipe que seria titular, com a entrada de Juninho Paulista. Mas, durante o torneio, acabou trocando-o por Kleberson.

Está ainda na nossa lembrança a conquista da Copa das Confederações, quando mais uma vez, Felipão só definiu o time campeão durante o período final de treinamentos.

Portanto, nem a escalação que vai estrear contra a Cróacia, no dia 12 de junho, em São Paulo será o time ideal do Brasil no Mundial. E não se surpreenda se escalação definitiva só surja na final, disputada no Maracanã.

Até a próxima.

Assinatura_Arquibancada_Peron (Foto: Monet)

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