Rio

Jovens recebem R$ 150 para fazer vandalismo em atos, diz advogado

Segundo Jonas Tadeu, há partidos políticos envolvidos no esquema

RIO - Pode ter começado com R$ 0,25 — valor do reajuste das passagens de ônibus contra o qual começaram os protestos —, mas agora o valor e as motivações em jogo podem ser bem diferentes. Alguns manifestantes, depois de provocarem quebra-quebra e lançarem explosivos em manifestações, voltariam para casa com R$ 150 no bolso. A informação é do advogado Jonas Tadeu Nunes, que defende os dois jovens acusados de terem acendido o rojão que, na quinta-feira passada, atingiu o cinegrafista Santiago Andrade, provocando sua morte. Fábio Raposo e Caio Silva de Souza, que já estão presos, teriam dito ao advogado que foram aliciados e remunerados para provocar tumultos. De acordo com Jonas, eles não mencionaram nenhum nome, mas não seria difícil identificar responsáveis:

— A dica que eu dou, sem levantar nomes, nem a suspeita sobre qualquer pessoa pública, é que vocês investiguem diretórios regionais de partidos políticos, vereadores, determinados deputados estaduais. E não só aqui no Rio de Janeiro. Investiguem em São Paulo, nas grande capitais. Tem muita gente fomentando isso — disse o advogado em entrevista à GloboNews.

Transporte para manifestantes

Segundo Jonas, Caio e Fábio já tinham participado de outros protestos e eram buscados em casa, em transporte providenciado pelos supostos aliciadores, que também forneceriam explosivos, máscaras de gás e “acessórios de guerra”. Apesar de agirem juntos, nem todos os baderneiros se conhecem bem: segundo o advogado, o normal é que todos usem codinomes. A identidade de quem pagaria a “bolsa vandalismo” não foi revelada por Jonas, que disse desconhecer a informação:

— Eles não deram o nome de ninguém, mas, muitas vezes, havia ativistas ligados a políticos, e eu não estou levantando o nome dos que chegaram lá e pagaram a eles — disse o advogado, acrescentando que há um esquema de “pirâmide”. — O ativista que é muito próximo a determinado organismo sai fazendo a pirâmide, sai aliciando a mando de determinada fonte, e isso vai crescendo.

Além de Caio e Fábio, que admitiram ter usado explosivos menos fortes em outros protestos, outros jovens teriam confirmado o esquema ao advogado.

— Estive com quatro jovens que vivem amontoados num cômodo, recebendo dinheiro de aliciadores para alimentação e passagens — disse ele ao GLOBO. — Esses grupos agem como células, e a base nem sabe quem esta por trás da fonte de financiamento. São jovens com baixa instrução e de famílias pobres, que vão perder a liberdade, enquanto os verdadeiros culpados, os aliciadores, vão continuar livres. Esses são os verdadeiros responsáveis por desgraçar a vida do cinegrafista e desses jovens. Esse aliciamento tem que parar.

Jonas, que frisou não ter partido político, contou que conversou com vários manifestantes e que a tendência é que os protestos piorem:

— A presidente Dilma Rousseff disse que ia botar a Polícia Federal para concluir esse inquérito. Mas ela não precisa mais concluir esse inquérito (da morte de Santiago). Ela tem que mandar investigar de onde vem esse fomento, essa remuneração, esse investimento financeiro nas manifestações que, daqui para a frente, pelas informações que a gente teve, tendem a piorar. Um outro rapaz e o Caio me disseram que há manifestações programadas. Eles seriam convocados e remunerados.

Jonas acrescentou que os protestos eram uma fonte de renda extra para Caio, que ganha salário mínimo e não teria dinheiro para comprar máscaras ou os fogos usados nos protestos. Segundo ele, o rapaz levava marmita para o trabalho, andava com o dinheiro da passagem contado e teve que vender o celular para comprar a passagem, em torno de R$ 430, para tentar fugir para a casa do avô paterno, no Ceará.

Na avaliação do sociólogo Gláucio Soares, é plausível a denúncia de que jovens estariam sendo aliciados para provocar tumultos. Ele não não descarta a participação de organizações políticas, nem de grupos ligados ao tráfico de drogas. Segundo Gláucio, há interesses dos dois lados:

— Não creio que, na ética de alguns movimentos políticos, pagar para gerar violência esteja além das concessões que possam fazer. Por outro lado, organizações do tráfico também estão interessadas em retirar os PMs das favelas. Há muitos interesses em jogo.