• Naíma Saleh
Atualizado em
Bebê no colo do pediatra (Foto: Shutterstock)

Se mesmo depois de grande você ainda sente aquele frio na barriga só de vislumbrar um jaleco branco, imagine o seu filho pequeno. O medo de ir ao médico tem diversas causas, que dependem do estágio de desenvolvimento da criança, e pode se manifestar de diversas formas – algumas até indiretas. “Bebês por volta de oito meses reagem com muita ansiedade à presença de estranhos; crianças com menos de três anos não lidam bem com mudanças drásticas de ambiente e, dos cinco aos 12 anos sentem muito medo de serem feridas”, explica Patricia Horta, Psicóloga Hospitalar do Serviço de Psicologia e do Departamento de Pediatria e Puericultura da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

Todos esses fatores podem fazer comque o seu filho se sinta desconfortável só de pisar em uma clinica ou em um hospital. A causa da fobia pode estar ainda associada aos temores dos próprios pais. Quando a criança percebe que tem algo errado com eles, já se retrai, interiorizando aquele padrão de reação.

O momento mais crítico costuma ser o dos exames, por causa de seu caráter invasivo. “A criança é despida, pesada, medida, objetos estranhos são colocados em contato com ela e, muitas vezes, é preciso segurá-la para que os exames possam ser realizados. Isso pode provocar uma sensação de vulnerabilidade ou de ameaça”, explica Ana Merzel Kernkraut, Coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo.  Para amenizar o incômodo do seu filho, a preparação deve começar antes mesmo da consulta.

O que você pode fazer


O primeiro passo é a escolha do pediatra. Espera-se que os médicos dessa área tenham, por natureza, uma afinidade com o público infantil. Mesmo assim, vale observar como é a interação com o seu filho, especificamente. “É importante que a criança encontre um ambiente acolhedor. O pediatra deve ser sensível, demonstrar interesse, disponibilidade e se preocupar em adquirir a confiança da criança, evitando ser invasivo ou separá-la de seus cuidadores”, explica Patricia Horta.  Conversar com outros pais para saber como são as consultas de seus filhos também é um bom parâmetro para se certificar de que sua escolha foi adequada. Às vezes, simplesmente não há afinidade entre o médico e a criança, o que não quer dizer que o  profissional seja ruim.

Caso a consulta seja em um pronto-socorro, com um médico que seu filho não conhece, vale ressaltar o motivo pelo qual ele está sendo levado ao hospital (“Vamos falar com o médico para saber por que você está com dor na barriga”). Como as crianças costumam apresentar mal-estar nessas circunstâncias, com dor ou febre, é raro que demonstrem resistência.

Fazer consultas de rotina pode contribuir para seu filho se familiarize com a situação. Uma boa dica é deixar que leve com ele um bichinho de pelúcia, para que possa “examiná-lo” antes de passar pela avaliação médica. Outra boa ideia é permitir que ela manipule os instrumentos do pediatra (alguns deixam as crianças tocarem no estetoscópio, por exemplo). Isso ajuda a desmistificar o equipamento.

A verdade, nada mais que a verdade

O principal remédio para combater o medo de ir ao médico é explicar tudo direitinho para o seu filho. Isso não quer dizer que você precise avisá-lo da consulta com muita antecedência, o que pode deixá-lo ansioso, mas que precisa deixar claro o que está acontecendo, de uma maneira compatível com seu nível de entendimento.

Esse cuidado deve ser tomado até para os exames mais corriqueiros: ao invés de simplesmente levantar a camiseta da criança para fazer a ausculta com o estetoscópio, esclareça para que serve o aparelho e por que ela precisa se despir. Veja bem: isso não significa dar mil detalhes , mas, simplesmente colocar seu filho a par do que vai acontecer com ele e por que.

Nunca minta, engane ou diga que não vai doer se você sabe que vai (o conselho vale principalmente para as vacinas!). Isso só gera a quebra da confiança da criança nos pais. Além disso, ameaçar seu filho com frases como “se você não arrumar a cama, vou te levar ao médico” pode gerar a ideia de que as consultas se tratam de punições, o que não é verdade. Pior: pode fazê-la associar doenças a castigos. “É comum crianças entre três e quatro anos dizerem: ‘eu fiquei doente porque não comi direito’ ou ‘eu fiquei doente porque eu não obedeci”, conta Heloisa Chiattone, psicóloga especialista em crianças, do São Luiz Anália Franco, em São Paulo.

Vale lembrar que não é porque o seu filho não costuma externar o medo que ele não o sente.  “Muita gente que acha que crianças esquecem rápido, o que não é verdade. Elas podem registrar o temor em relação a determinada situação e manifestá-lo por meio de outros sintomas, como dificuldade para dormir”, finaliza Heloisa.

Ajuda na dose certa


Alguns hospitais dispõem de artifícios especiais para ajudar os pequenos a se sentirem mais seguros. No São Luiz, em São Paulo, o Beto Coragem, um leãozinho muito fofo, acompanha as crianças que vão passar por procedimentos cirúrgicos, tanto no pré como no pós-operatório. Já o Hospital Santa Catarina dá um “Certificado de Coragem” para meninos e meninas que passaram pelo pronto-socorro ou pela internação. “A criança se sente valorizada, forte e guerreira, pendura o certificado na parede e mostra para os amigos”, explica Marcia Giancoli, Coordenadora de Enfermagem da Pediatria da instituição. Mas os pequenos só recebem o “prêmio” depois do procedimento, para que ele não seja objeto de negociação.

Os próprios pais também devem tomar cuidado nesse sentido. Não é legal fazer da hora da consulta médica um momento de festa, para não encorajar a criança a se queixar desnecessariamente só para fazer uma visita ao pediatra. Melhor tratar a ida ao consultório como algo natural: sem dramas, sem rodeios e com você sempre lá, para dar segurança ao seu filho.

Você já curtiu Crescer no Facebook?