Política Eleições 2014

Após declarações homofóbicas, Levy Fidelix vai pedir proteção à PF

Comitê de campanha em SP amanheceu com portas fechadas e segurança privada na porta
No comitê de campanha do PRTB, na Zona Sul de São Paulo, os portões permanecem fechados Foto: Renato Onofre / O Globo
No comitê de campanha do PRTB, na Zona Sul de São Paulo, os portões permanecem fechados Foto: Renato Onofre / O Globo

SÃO PAULO - Após fazer declarações homofóbicas durante o penúltimo debate presidencial, o candidato do PRTB à Presidência, Levy Fidelix, vai pedir proteção à Polícia Federal nesta reta final das eleições. No domingo à noite, Fidelix atacou a comunidade LGBT, gerando uma série de protestos nas redes sociais. Coletivos contra a homofobia já anunciaram que vão fazer atos contra o candidato. No comitê de campanha da legenda, na Alameda dos Tupiniquins, em Moema, Zona Sul de São Paulo, os portões permanecem fechados com segurança privada na porta.

— Tudo que eu tinha para falar eu já falei ontem — se limitou a dizer no final da tarde Fidelix.

Segundo o advogado Marcelo Duarte, que representa o candidato, Levy Fidelix não irá se pronunciar sobre o assunto. Duarte anunciou que o pedido é para garantir a segurança de Fidelix:

— Como candidato, ele tem este direito. Até hoje ele não o fez por não achar necessário, mas as circunstâncias mudaram — explicou o advogado afirmando que o candidato não vai se retratar sobre a questão. — Não há do que se retratar. Meu cliente disse que prefere eles de um lado e ele do outro. Isso não é crime.

Durante o debate da rede Record, a candidata Luciana Genro (PSOL) questionou o candidato sobre as políticas públicas dele para sobre união homoafetiva e políticas públicas relacionadas à comunidade LGBT. Levy polemizou ao relacionar homossexualidade à pedofilia na resposta:


Levy Fidelix no debate da TV Record
Foto: AFP
Levy Fidelix no debate da TV Record Foto: AFP

— Aparelho excretor não reproduz. Como é que pode um pai de família, um avô ficar aqui escorado porque tem medo de perder voto? Prefiro não ter esses votos, mas ser um pai, um avô que tem vergonha na cara, que instrua seu filho, que instrua seu neto. Vamos acabar com essa historinha. Eu vi agora o santo padre, o papa, expurgar, fez muito bem, do Vaticano, um pedófilo. Está certo! Nós tratamos a vida toda com a religiosidade para que nossos filhos possam encontrar realmente um bom caminho familiar.

Durante todo o dia, grupos de direitos LGBT se manifestaram contra as posições defendidas por Levy.

Desde o início da manhã desta segunda-feira, Levy Fidelix está isolado no segundo andar da sede nacional do PRTB. O vai e vem de assessores e colaboradores é intenso. O medo de represálias fez com que todas as placas e propagandas instaladas próximos ao imóvel da Alameda dos Tupiniquins fossem retiradas.

Os carros do candidato que estavam estacionados na rua foram recolhidos à garagem da sede do PRTB. Pelo menos outros quatro carros estacionados na via tiveram sua propaganda removida. Uma placa de um metro e meio posicionada na frente da entrada principal do imóvel com a imagem de Fidelix com sua filha Lívia, candidata à Câmara dos Deputados foi guardada.

O candidato do PRTB, que defendeu posições homofóbicas durante o penúltimo debate presidencial realizado no domingo à noite, só está recebendo os aliados mais próximos. Oficialmente, a restrição é por conta da data. Segundo funcionários da legenda, hoje, Levy está fechando pessoalmente as contas da campanha.

DENÚNCIAS

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a candidata à presidência da República do PSOL, Luciana Genro, protocolaram nesta segunda-feira representações ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a cassação do registro de candidatura do presidenciável Levy Fidelix (PRTB) e punição por homofobia.

Em sua denúncia, o PSOL diz que Levy “incitou a violência e a discriminação contra a população LGBT por meio de verdadeiro discurso de ódio e ofensa à coletividade LGBT”. Já a OAB diz que o discurso do presidenciável configura crime eleitorai e contra a paz pública. Outros presidenciáveis também se pronunciaram sobre a fala de Levy nesta segunda-feira .

A Defensoria Pública de São Paulo recebeu quatro denúncias entre domingo e segunda. O Núcleo Especializado de Combate a Discriminação, Racismo e Preconceito do órgão ainda está analisando o caso. No entanto, a assessoria informou que a opinião dos defensores é de que houve homofobia e crime de ódio. O núcleo estuda se usará a legislação eleitoral ou estadual, como a lei 10.948/2011 de São Paulo, que dispõe sobre as penalidades a serem aplicadas à prática de discriminação em razão de orientação sexual, para acionar o candidato.

O braço eleitoral do Ministério Público Federal também está analisando o caso. Neste domingo, internautas divulgaram o site do MPF para que fossem feitos registros de denúncias ao órgão. A assessoria do MPF informou que recebeu "várias denúncias" vinda de todo o país pelo canal de atendimento ao cidadão e, por o sistema não ser unificado, ainda não há um levantamento do número total de reclamações.

O MPF também informou que não houve crime eleitoral nas afirmações de Levy. Entretanto, as denúncias estão sendo analisada "para verificar se as falas podem incorrer em crimes em outras esferas (criminal, cível, etc)".