Edição do dia 08/01/2016

08/01/2016 21h24 - Atualizado em 08/01/2016 21h26

Cerveró diz que dinheiro da Petrobras financiou campanha de Wagner

Ex-diretor da Petrobras afirmou que a campanha de Jaques Wagner ao governo da Bahia em 2006 provavelmente recebeu dinheiro desviado da construção de um prédio da Petrobras num bairro nobre de Salvador.

O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró afirmou, no acordo de delação premiada, que dinheiro desviado da Petrobras abasteceu a campanha do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, pra governador.

No documento, Nestor Cerveró afirmou que a campanha de Jaques Wagner ao governo da Bahia em 2006 provavelmente recebeu dinheiro desviado da construção de um prédio da Petrobras num bairro nobre de Salvador.

O documento faz parte do resumo de informações que Cerveró deu à Procuradoria-Geral da República antes de fechar o acordo de delação premiada.

Essa parte do depoimento de Cerveró está na edição desta sexta-feira (8) do jornal Valor Econômico. O Jornal Nacional também teve acesso aos papéis apreendidos pela Polícia Federal

Neles, Cerveró afirmou que "na campanha para o governo da Bahia, em 2006, houve um grande aporte de recursos para o então candidato do PT, Jaques Wagner, dirigido por Gabrielli". A informação veio de dois funcionários da estatal.

Na época, José Sérgio Gabrielli era presidente da Petrobras. Wagner venceu a eleição pra governador no segundo turno.

Ainda de acordo com Nestor Cerveró, "o presidente Gabrielli decidiu realocar a parte operacional da parte financeira da Petrobras para Salvador, sem haver nenhuma justificativa, pois havia espaço para a referida área no Rio de Janeiro".

“Para tanto, foi construído um grande prédio em Salvador, onde atualmente funciona o setor financeiro da Petrobras".

O ex-diretor da Petrobras não soube dizer qual empreiteira tocou a obra, mas que muito provavelmente foi essa construtora que fez a doação para a campanha de Jaques Wagner.

“Além disso, foi construído o prédio para a área financeira da Petrobras, onde houve também propina para a eleição”, disse Cerveró. O prédio foi construído pela Odebrecht e pela OAS para a Petros – o fundo de pensão da Petrobras. O fundo, por sua vez, aluga para a estatal.

Nestor Cerveró confirmou aos procuradores da República durante os depoimentos de delação premiada as declarações sobre Jaques Wagner. A delação de Cerveró já foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal, mas ele continua depondo para tratar de outros temas que têm relação com o esquema de propina na Petrobras.

A assessoria da Casa Civil informou que o ministro Jaques Wagner não vai comentar as declarações de Nestor Cerveró porque não conhece a íntegra do depoimento. E que ele está à disposição das autoridades.

Sergio Gabrielli afirmou que nunca soube da utilização de recursos ilegais dos fornecedores da Petrobras para as campanhas de Jaques Wagner.

Que as declarações de Cerveró tiveram como base informações de terceiros, que são falsas. E que a transferência de parte das atividades financeiras da Petrobras pra Salvador reduziu os custos da estatal.

Ele também disse que há uma confusão entre o local das operações financeiras e a sede da Petrobras em Salvador, que fica em outro prédio, inaugurado em 2015, quando já não estava mais da empresa.

A Petrobras afirmou que, nos próximos meses, pretende transferir algumas atividades pra o edifício que pertence à Petros, desocupando outros imóveis que hoje estão alugados.

A Odebrecht afirmou que considera não haver sentido em se falar de suposta doação para a campanha de 2006, referente a uma obra iniciada em novembro de 2011. A empresa disse que repudia o que considera uma prática criminosa de vazamentos seletivos de delações.

A defesa de Nestor Cerveró afirmou que não pode comentar os assuntos relacionados à delação premiada porque ela está sob sigilo.

A OAS não vai se manifestar. E nós não conseguimos contato com a Petros.