Três anos após levar ao cinema o best-seller "Millennium: Os homens que não amavam as mulheres", David Fincher lança agora "Garota exemplar", baseado no livro homônimo da jornalista americana Gillian Flynn, que vendeu mais de 6 milhões de cópias no mundo todo. Com Ben Affleck ("Argo") e Rosamund Pike ("Jack Reacher"), o filme estreia nesta quinta (2). É um dos favoritos aos principais prêmios do Oscar, cujos indicados serão revelados em janeiro de 2015. (Assista ao trailer acima)
Apesar de ter sido indicado ao Oscar por "O curioso caso de Benjamin Button" (2008) e "A rede social" (2010), Fincher fez seu nome ao dirigir suspenses como "Seven: Os sete crimes capitais" (1995), "Clube da luta" (1999), "O quarto do pânico" (2002) e "Zodíaco" (2007). Com "Garota exemplar", une sua expertise em filmar dramas psicológicos e a ótima narrativa de Flynn – que foi convidada para roteirizar sua própria obra, lançada em 2012.
Contudo, a primeira parte da trama é arrastada, entedia um pouco. O filme, de 2 horas e meia de duração, demora a engatar. Assim como no livro, são apresentadas duas perspectivas, em discursos que se alternam. Há o relato de Nick Dunne (Affleck), acusado de homícidio após o desaparecimento da mulher Amy (Pike); e o depoimento dela, em forma de diário.
Rosamund Pike em 'Garota exemplar'(Foto: Divulgação)
A história faz uma crítica ácida à dinâmica do casamento – do homem e mulher que não conversam, não conhecem suas rotinas –, mas ganha fôlego e tensão quando são feitas revelações. Falar mais sobre isso pode dar pistas sobre a reviravolta da trama. A trilha de Trent Reznor (do Nine Inch Nails) contribui com o mistério e com a sensação hipnotizante. Fincher também abusa do cinismo ao criticar a cobertura sensacionalista da mídia, que, por vezes, transfoma investigações de dramas pessoais em quase um reality show.
Exemplo de tradução decepcionante
O título em português, "Garota exemplar", faz uma ameaça de spoiler. Mas não chega a estragar totalmente a surpresa. O original "Gone girl" ("garota desaparecida") não adjetiva a personagem principal: melhor assim. Ao que parece, o adjetivo anda bem cotado. Os pais de Amy são autores do best-seller infantil "Amazing Amy" ("Amy exemplar", na tradução). A personagem "incrível Amy" é inspirada na infância da filhota.
Ben Affleck vai bem no filme, mas quem surpreende é Rosamund Pike. Essa é a melhor chance para a atriz de 35 anos, mais acostumada a ser coadjuvante de filme de ação. Foi Bond Girl em "007: Um novo dia para morrer" (2002), fiel escudeira do Mr. Bean em "O retorno de Johnny English", e por aí vai. Se a mocinha conseguir uma virada na carreira, será pelo menos a terceira atriz impulsionada por Fincher. Kristen Stewart ("O quarto do pânico") e Rooney Mara ("A rede social") deram uma guinada graças ao cineasta.
E o Oscar vai para...
O papel de Amy foi disputado por atrizes como Reese Witherspoon, que comprou os direitos do livro. Ela assina como produtora, mas foi dissuadida por Fincher de protagonizar. Se "Garota exemplar" ganhar o Oscar de melhor filme, ela receberá a estatueta.
O que distingue "Garota exemplar" de outros thrillers do diretor são as cenas engraçadas. Affleck e Tyler Perry, acompanhados por Casey Wilson, Missi Pyle e Carrie Coon protagonizam uma parte cômica, de humor mordaz, do roteiro de Flynn. Os diálogos quebram um pouco a tensão que domina o filme. Talvez este seja o thriller mais comercial de Fincher, mas ainda assim perturbador, um ótimo suspense e grande candidato ao Oscar.
Ben Affleck vive Nick Dunne em 'Garota exemplar' (Foto: Divulgação)
Ben Affleck e Rosamund Pike em 'Garota exemplar' (Foto: Divulgação)
