19/09/2014 07h32 - Atualizado em 11/10/2014 08h59

Filme pré-indicado a Oscar com casal de meninos conquista jovens gays

'Enredo consegue passar questões profundas de forma leve', diz estudante.
'Hoje eu quero voltar sozinho' disputa vaga do Brasil de Filme Estrangeiro.

Letícia MendesDo G1, em São Paulo

"Hoje eu quero voltar sozinho", de Daniel Ribeiro, foi escolhido para buscar uma vaga na disputa pelo Oscar 2015 de filme estrangeiro. Não se sabe se ele terá a chance de ser o Brasil na premiação, mas ele já representa alguns brasileiros. Um público de jovens de 20 e poucos anos, muitos deles gays ou ligados ao movimento LGBT, foi conquistado pelo filme. O longa narra a história de um garoto cego e homossexual que tenta fugir da superproteção da mãe. Tem de lidar com as descobertas da adolescência e vive um romance com um amigo (veja o trailer acima).

"Quando vi, achei muito bonitinho, melhor do que esperava", conta o designer Samuel Sanção de Moura, de 25 anos. "Vi na estreia com meu melhor amigo, que é transexual, e achei a proposta bacana", diz Vitor Pereira, de 21 anos, estudante do curso de Têxtil e Moda da Universidade de São Paulo (USP). O longa estreou em abril passado e levou 193 mil pessoas aos cinemas, após dois meses em cartaz.

Vítor Pereira usa saia nas aulas do curso de têxtil e moda da USP Leste (Foto: Flávio Moraes/G1)Vitor Pereira, de 21 anos, é estudante do curso de têxtil e moda da USP Leste (Foto: Flávio Moraes/G1)

"Fui assistir ao filme no fim de semana de sua estreia em São Paulo, com mais dois amigos. Lembro que estava chovendo e era uma sessão à noite. Logo após vê-lo eu estava deslumbrado com a produção. Achei o filme singelo, cativante e extremamente sensível. Um filme que ganha nos detalhes, com uma trilha sonora e um enredo que consegue passar questões profundas de uma forma leve e gostosa", afirma Marcos Vinicios Lourenço, de 25 anos, estudante de História na USP e estagiário na Prefeitura de São Paulo.

"Acho que o filme traz uma nova perspectiva sobre relações homoafetivas, especialmente para pessoas heterossexuais que têm uma visão mais preconceituosa e acreditam que as relações se resumem a sexo, pois apresentam pessoas jovens descobrindo sua sexualidade e o amor de maneira natural, além de não serem personagens caricatos comuns. Não me identifico com a história nem com os personagens em si, mas me identifico com o sentimento deles e a curiosidade e descobertas", diz Samuel. "O cinema nacional tem pouca representatividade para todas as minorias, não apenas LGBT, como pessoas negras e especialmente mulheres. Quando tem filmes assim, eles sempre caem em estereótipos ou em papéis cômicos", completa.

Samuel Sanção de Moura, de 25 anos (Foto: Acervo pessoal)Samuel Sanção, de 25 anos (Foto: Acervo pessoal)

Vitor diz que a história é boa exatamente por mostrar "um lado mais humano do que as pessoas imaginam de um relacionamento entre duas pessoas do mesmo sexo". "É uma nova visão sobre os gays. Não me identifico tanto porque eu me assumi como uma forma mais política, para conquistar espaço com a minha família e a sociedade. A história já é mais afetiva. E a minha questão é muito mais do que a necessidade de estar com alguém".

Marcos Vinicios Lourenço, de 25 anos (Foto: Divulgação)Marcos Vinicios, de 25 anos (Foto: Acervo pessoal)

Marcos, no entanto, diz que mais se identificou com os dilemas dos amores platônicos e a sensibilidade que os dois personagens possuem. "Mas cabe aqui uma das minhas poucas críticas ao filme. Os personagens retratados são jovens de classe média alta, brancos e vivem numa atmosfera perfeitinha até demais".

Além de "Hoje eu quero voltar sozinho", "Tatuagem", de Hilton Lacerda, e "Praia do futuro", de Karim Aïnouz, também são um marco no cinema LGBT do país e também disputavam a pré-indicação ao Oscar. "São filmes completamente diferentes, mas que trouxeram à tona de maneiras espetaculares essa questão. Eu prefiro 'Tatuagem' por um gosto pessoal e pela transgressão que o filme traz em vários níveis, incluindo as questões políticas. No entanto, carecia no Brasil, a visão singela e profunda de uma relação homossexual", afirma Marcos.

Cena do filme 'Hoje eu quero voltar sozinho' (Foto: Divulgação)Cena do filme 'Hoje eu quero voltar sozinho' (Foto: Divulgação)
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