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O Brasil em 2030: Nosso jeito israelense de fazer negócios

O Brasil em 2030: Nosso jeito israelense de fazer negócios

Ao mudar os impostos e a forma de apoiar as novas empresas, o país criou uma nova geração de empreendedores

GRAZIELE OLIVEIRA
03/06/2014 - 07h01 - Atualizado 03/06/2014 09h35
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TREINAR VOCAÇÕES Os professores  perceberam que  o objetivo da educação empreendedora é formar crianças que gostem  de resolver problemas (Foto: Ilustração: Luís Dourado)

Ao seguir o exemplo de um país pequeno, sem recursos e cercado de problemas, o Brasil pegou gosto por resolver problemas, em vez de só reclamar deles.

Em 2014, Roberto Peres já tinha experiência no ramo de alimentação. Sua hamburgueria, a Parsons, em São Paulo, atraía clientes com uma proposta básica – sanduíches que dispensavam invencionices gastronômicas e valorizavam a carne. Peres, naquele ano, tinha dificuldades parecidas com a maioria dos que se aventuravam a abrir um negócio próprio. “É muito difícil conseguir crédito e encontrar gente qualificada para contratar”, afirmava.

Quem decidia empreender no Brasil naquela época era um herói. Entre 189 países, o Brasil ficava em 116º lugar em qualidade de ambiente de negócios, no estudo Doing Business, do Banco Mundial (hoje, estamos em 35º). Em outra avaliação, o Índice de Liberdade Econômica, da fundação americana Heritage, o país ficava em 114º lugar, entre 186 nações avaliadas (hoje, estamos em 44º). A mudança começou durante a campanha eleitoral de 2014, quando todos os principais candidatos incluíram, em seus programas de governo, medidas para facilitar a vida de quem quisesse abrir um negócio próprio e criar um produto ou serviço novo. A inspiração foi um país pequeno, cujo PIB correspondia a pouco mais de um décimo do brasileiro: Israel.

Como era em 2014 (Foto: reprodução)

Havia bons motivos para buscar lições nessa nação do Oriente Médio. O PIB per capita (ou a produção por habitante) de Israel era o triplo do brasileiro, num país que não contava com petróleo, nem água, nem nenhum outro recurso natural abundante. A riqueza por lá vinha de outras fontes. Quase a metade da população com idade entre 25 e 45 anos tinha nível superior completo (no Brasil, cerca de um décimo). Criar empresas era uma mania nacional. O israelense gastava um décimo do tempo do brasileiro para abrir um negócio próprio e pagava em tributos menos da metade. Precisávamos fazer algo parecido.

O primeiro passo foi instaurar um combate sem trégua contra a burocracia. Em vez de tratar cada potencial empresário como um fraudador que precisa provar a própria inocência, o governo federal passou a dar um voto de confiança a eles. Os governos estaduais e as maiores prefeituras seguiram o exemplo. O rito para criar e fechar um negócio, que até os anos 2000 se alongava numa jornada insana por pelo menos dez órgãos públicos, foi progressivamente concentrado em até, no máximo, três contatos com o governo. Os tributos sobre empresas de todos os tamanhos foram concentrados em uma única ou algumas poucas cobranças. Bastou o sistema se tornar mais simples e racional para que a economia se aquecesse, mesmo antes de o governo começar a estudar reduzir a carga total de tributos. Foram unificados os sistemas da União, dos Estados e dos municípios com as informações sobre as empresas.

O passo seguinte exigiu algum investimento, a fim de incentivar os negócios que mais fariam diferença para a sociedade. Apenas facilitar a criação de empresas adiantaria pouco. O Brasil poderia se tornar uma nação de padarias e salões de beleza sem criatividade, dispostos a fornecer o mesmo que a concorrência, lutando apenas para ver quem cobraria menos e pagaria os menores salários. Esse cenário foi evitado com alguns programas de fomento. Com fundos públicos e privados, eles incentivaram a criação de negócios com base tecnológica e aqueles dedicados a combater problemas regionais. O Brasil passou a apresentar ao mundo vocações, como agronegócio, proteção ambiental, geração de energia limpa, moda, música e serviços ligados a festas, diversão e turismo. Surgiram novos parques tecnológicos, áreas de concentração de pequenas e médias empresas, organizadas por áreas de atuação, nas proximidades dos centros de pesquisa. O governo se tornou, inicialmente, participante de muitos desses negócios. Mas, desde o início, preparou-se para vender sua participação.

A revolução empresarial brasileira teve outro componente virtuoso, que vem mudando o jeito de crianças e adolescentes pensarem. Em Israel, um caldo cultural específico fazia com que os jovens chegassem ao mercado de trabalho dispostos a analisar problemas e a criar soluções. Alguns especialistas atribuíam parte dessa disposição à cultura do judaísmo, religião majoritária no país. Outros viam um papel importante das Forças Armadas, num país com serviço militar obrigatório. A seu próprio modo, as universidades brasileiras começaram a incorporar o espírito de resolução de problemas por volta de 2015. As aulas começaram a se concentrar na busca de soluções práticas para os muitos problemas do país – pobreza, ignorância, insegurança, agressões ambientais, falta de infraestrutura, a vastidão do território e a desigualdade na distribuição dos recursos naturais. O espírito resolvedor de problemas começou nos cursos de engenharia e se espalhou pela graduação. Das faculdades, essa onda desceu aos níveis médio e fundamental. Os professores da educação básica perceberam que o objetivo da educação empreendedora não é formar crianças obcecadas por dinheiro, mas que gostem de identificar problemas, analisar situações e imaginar soluções. Se essa evolução continuar, as próximas gerações de empreendedores serão melhores que a atual.








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