Esportes

O trauma da derrota é pior do que o de 1950?

Especialistas acreditam que perder o Mundial pode levar a novas conquistas para o Brasil
RI Rio de Janeiro (RJ) 09/07/2014. Copa do Mundo. Ressaco no dia seguinte a derrora do time do Brasil por 7 x 1 para a Alemanha em Belo Horizointe. Orla de Copacabana. Foto Custodio Coimbra Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo
RI Rio de Janeiro (RJ) 09/07/2014. Copa do Mundo. Ressaco no dia seguinte a derrora do time do Brasil por 7 x 1 para a Alemanha em Belo Horizointe. Orla de Copacabana. Foto Custodio Coimbra Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

RIO - O psicólogo e psicanalista José Roberto Bastos tinha apenas 7 anos na Copa de 1950, mas lembrou bem do sofrimento que sentiu ao ouvir, pelo rádio, a narração da inesperada derrota da seleção brasileira para o Uruguai. Depois, ouviu muitas vezes nos relatos do pai (um ardoroso botafoguense) a história do Maracanazo. Para ele, o trauma de 1950 foi maior por ser inesperado.

— Com 7 anos, eu já entendia bem o que era uma partida de futebol. Para mim foi muito sofrido. Vi todos chorando. O clima era fúnebre. No dia seguinte, a cidade estava vazia, todos olhando para baixo. O Brasil ficou de luto por pelo menos uma semana. A derrota em 1950 foi muito traumática — afirmou.

Segundo José Roberto Bastos, a seleção fez uma boa campanha em 1950, por isso ninguém imaginava uma derrota.

— A seleção brasileira era uma das mais fortes. Apesar de até então não ser reconhecida, a seleção fez uma Copa ótima em 1950. Ganharam de 7 x 1 contra a Suécia e de 6 x 1 contra a Espanha, na semifinal. Então, quando fomos disputar a final contra o Uruguai, todos achavam que o jogo já estava ganho. Era impossível pensar em perder depois de tantas vitórias. Além disso, a gente tinha pelo menos três craques do nível do Neymar e do Messi — contou o psicólogo, que já coordenou o curso de psicologia da Universidade Santa Úrsula.

O psicólogo lembrou ainda que, em 1950, mesmo depois do segundo gol uruguaio, a seleção brasileira não desabou, como ocorreu nesta terça-feira.

— Depois do segundo gol do Uruguai, o desespero foi geral, mas a seleção continuou jogando. Não se desmanchou como na terça-feira. Depois do segundo gol, o Brasil se desarmou todo. Virou um time de pelada — avaliou.

O LADO BOM DE PERDER

A médica e psicanalista Vera Marcia Ramos explica que a frustração é sempre maior quando há mais expectativas. Quando uma seleção joga em casa, o futebol acaba gerando grandes expectativas, especialmente nos mais jovens. Entretanto, há um aspecto positivo em toda derrota.

— O aspecto positivo da frustração é gerar uma perda e um luto, que é necessário para ganhos futuros. A partir daquilo que se perde, a pessoa amadurece e passa a buscar o que realmente deseja — avalia a médica, que já presidiu a Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ).

Vera, que era criança quando o Brasil perdeu a Copa de 1950, acredita que a derrota para o Uruguai foi importante para as vitórias que foram conquistadas em seguida.

— Depois de 1950, o Brasil conseguiu ser pentacampeão. Foi um luto que levou a cinco vitórias. Em 1950 todos choraram. A consequência foi uma nova geração que, em 1958, conseguiu a primeira vitória do Brasil em uma Copa do Mundo. A mente funciona assim: quando você perde, vai atrás de outra conquista — afirmou.