Saúde

Com a febre dos 'selfies', cresce número de cirurgias plásticas nos EUA

Rinoplastias tiveram aumento de 10% em um ano. Entre os implantes de cabelo, alta de 7%

Participantes de uma corrida na Inglaterra. ‘Selfies’ influenciaram autoimagem em diversos países, dizem especialistas
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NEIL HALL
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Participantes de uma corrida na Inglaterra. ‘Selfies’ influenciaram autoimagem em diversos países, dizem especialistas Foto: NEIL HALL / Reuters

RIO - Estudo divulgado recentemente pela Academia Americana de Plástica Facial e Cirurgia Reconstrutiva põe em xeque o fenômeno selfie. O levantamento com 2,7 mil cirurgiões americanos revela que um em cada três profissionais pesquisados registrou “aumento nos pedidos de procedimentos porque os pacientes estão mais preocupados com os olhares nas redes sociais”. Como resultado, no ano passado foi registrado crescimento de 10% no número de rinoplastias, 7%, em implantes de cabelo, e 6%, em cirurgias da pálpebra em relação a 2012.

- Plataformas sociais como Instagram e Snapchat, que são baseados apenas na imagem, forçam os pacientes a olhar suas próprias fotografias com um microscópio e, muitas vezes, observar de forma mais crítica - afirmou Edward Farrior, presidente da associação. - Essas imagens são a primeira impressão que jovens colocam para o mundo em busca de amigos, romances e empregos e nossos pacientes querem apresentar sua melhor face.

Outro dado que chamou atenção foi o aumento na busca por cirurgias por pacientes jovens. Segundo o levantamento, 58% dos pesquisados constataram aumento no pedido de cirurgias estéticas por pessoas com menos de 30 anos. As mulheres são maioria, representando 81% de todos os procedimentos realizados em 2013, sendo que as mães representam dois terços delas.

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, João de Moraes Prado Neto, questiona os resultados do estudo americano, alegando ser difícil confirmar a tese que o fenômeno selfie está causando um aumento no número de cirurgias plásticas. Contudo, afirma que já recebeu pacientes que fizeram referência a defeitos encontrados em fotos publicadas em redes sociais.

No Brasil, foram realizadas no ano passado 1,5 milhão de cirurgias plásticas, sendo 1 milhão com fins estéticos. Segundo Prado Neto, o fenômeno selfie ainda é incipiente para que se possa confirmar seu impacto no número de procedimentos, mas o hábito de se observar mais em fotografias pode aumentar a percepção de defeitos.

- O selfie é como um espelho. Diante dele, as pessoas têm uma observação mais atenta das deformidades - disse Prado Neto.

Apesar de não enxergar relação de causalidade entre os selfies e as plásticas, o cirurgião afirma que a baixa auto-estima é um dos fatores que levam as pessoas a procurarem pelos procedimentos estéticos. Neste sentido, pesquisas apontam que o Facebook causa impacto negativo na forma como as pessoas se veem.

- Quanto mais tempo as pessoas ficam no Facebook, mais elas se sentem mal - afirmou a pesquisadora Petya Eckler, da Universidade de Strathclyde, no Reino Unido.

Em estudo realizado com 881 jovens britânicas, com idade média de 24 anos, foi constatada relação entre a exposição à rede social e preocupações com a própria imagem. Segundo Petya, no Facebook as pessoas publicam uma versão fantasiada da vida e retocam fotos com programas de edição. O problema é que elas se comparam com as versões fantasiosas dos outros.

- O Facebook é tão real quanto um reality show, nós tentamos sempre mostrar o nosso melhor - disse Petya. - E as jovens se comparam com esse falso mundo dos outros.

Segundo a pesquisadora, isso afeta a auto-estima das jovens e pode levar a sérios problemas de saúde, como depressão e distúrbios alimentares. Cirurgias plásticas, diz Petya, “é o extremo que as pessoas podem fazer para satisfazer uma fantasia”. O fenômeno é similar ao que acontece com as capas de revistas, mas com o agravante de a comparação se dar com conhecidos.

- Nas revistas você sabe que está vendo uma modelo profissional, no Facebook são seus amigos - explicou a pesquisadora.

Paulo Lopes, do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, concorda que a fixação em selfies e redes sociais pode afetar a auto-estima de algumas pessoas, mas desde que elas já possuam alguma fragilidade ou distorções em relação à própria imagem.

- A pessoa pode se ver como inadequada, fora dos padrões, mas a auto-estima está fundada também em outras questões. O selfie, por si só, não é perigoso. Seria a mesma coisa que culpar o revólver por um assassinato - disse o psicólogo.