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Rússia pede à Síria que coloque armas químicas sob controle internacional

França declara que a ação é aceitável sob condições, incluindo uma resolução do Conselho de Segurança da ONU

O chanceler do Reino Unido, William Hague, cumprimenta o secretário de Estado dos EUA, John Kerry
Foto: REUTERS
O chanceler do Reino Unido, William Hague, cumprimenta o secretário de Estado dos EUA, John Kerry Foto: REUTERS

LONDRES - Um comentário atrapalhado do secretário de Estado americano, John Kerry, causou uma reviravolta diplomática e um embaraço para os Estados Unidos nesta segunda-feira. Sua sugestão de que, como forma de evitar um ataque, a Síria deveria entregar suas armas químicas logo ganhou adesão da Rússia, do próprio governo sírio, da ONU, de aliados (como a França) e até de parlamentares republicanos nos EUA. A repercussão levou o Departamento de Estado a afirmar que tudo não passara de argumento, de retórica, e que iria analisar o que via como uma “proposta russa”.

Após a declaração de Kerry, o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, convocou uma entrevista coletiva inesperada para anunciar que seu país estava disposto a pressionar a Síria a colocar suas armas químicas sob controle internacional e destruí-las. Logo depois, o chanceler sírio, Walid al-Moualem, anunciou que a proposta era bem-vinda, sem explicar se seu país iria aceitá-la. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, propôs levar a ideia ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. E a França, um dos aliados dos EUA para uma ação militar, declarou que a ação era aceitável sob algumas condições, incluindo uma resolução do Conselho de Segurança da ONU. Restou aos EUA dizerem que analisariam a questão.

“Vamos ter que dar uma olhada atenta para entendermos exatamente o que os russos estão propondo”, disse a porta-voz do Departamento de Estado Marie Harf. “Claramente nós temos algum ceticismo sério”, afirmou.

Kerry teria ligado para Lavrov e manifestado “um sério ceticismo” quando o chanceler russo ofereceu explorar a ideia, dizendo que os EUA analisariam qualquer proposta séria, mas que isso não poderia ser um motivo para atrasar os esforços da Casa Branca em garantir autorização do Congresso para o uso da força contra a Síria. Já as reações posteriores da ONU e da França parecem refletir um amplo desejo internacional de acalmar a atmosfera de confronto iminente, mesmo com o lobby pesado do presidente Barack Obama para angariar apoio no Congresso.

“A proposta do ministro das Relações Exteriores russo é digna de escrutínio”, disse em um comunicado o chanceler francês, Laurent Fabius. “Seria aceitável sob pelo menos três condições: que Assad coloque seu arsenal químico sob controle internacional rapidamente, que permita que ele seja destruído, e que a operação ocorra depois de uma resolução do Conselho de Segurança”.

Resistência a ataque cresce entre americanos

Mais cedo, perguntado por um repórter se havia algo que o regime sírio poderia fazer ou oferecer para evitar uma ofensiva liderada pelos EUA, Kerry respondeu:

- Claro, ele (Assad) poderia entregar cada uma de suas armas químicas para a comunidade internacional na próxima semana, tudo isso sem demora, mas ele não está prestes a fazê-lo e nada pode ser feito - disse.

Em entrevista conjunta com o ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, em Londres, Kerry argumentou que não atacar a Síria seria mais perigoso do que atacar. Embora tenha dito que não sabe como o presidente Obama reagiria se perdesse a votação no Congresso, ele destacou que seria um erro para o governo dos EUA não ordenar um ataque.

Kerry rejeitou as alegações de que o presidente sírio não autorizou pessoalmente o ataque com armas químicas em 21 de agosto. E voltou a afirmar que os americanos estavam planejando um ataque “incrivelmente pequeno” no país árabe.

- Na Síria, apenas três pessoas controlam o uso de armas químicas: Assad, seu irmão e um general - disse.

Enquanto o Congresso americano debate uma resolução que permite os Estados Unidos atacarem a Síria, a resistência do povo americano cresce. Segundo pesquisa da CNN/ORC divulgada nesta segunda-feira, 59% dos americanos se opõem à resolução. Caso os parlamentares rejeitem a resolução, o número cresce para 71%.

Rússia e Síria pedem para EUA não realizar ataques

Depois de conversar com o ministro da Relações Exteriores sírio, Lavrov pediu aos Estados Unidos para centralizar seus esforços para convocar uma conferência de paz em vez de lançar uma ação militar.

Lavrov disse que um ataque militar americano na Síria poderia levar à disseminação do terrorismo, enquanto Walid al-Moualem acusou Obama de apoiar os terroristas, fazendo uma comparação com os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.