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No segundo
episódio do quadro “Os Professores”, Muricy Ramalho repassa sua trajetória que
começou como meio-campista habilidoso chegando à consagração como técnico
vencedor. Na conversa, Muricy lembra episódios de sua carreira como a tietagem das
“Muricyzetes”; conta que aprendeu a ser econômico com Telê Santana; explica melhor
por que negou o convite para ser técnico da seleção brasileira e diz o que
aprendeu em seu estágio no Barcelona. (clique no vídeo e veja a entrevista de
André Gallindo)
Nascido em 30 de
novembro de 1955, Muricy foi um craque que já chamava atenção desde as
categorias de base do São Paulo. Chegou ao profissional e se destacou com
passes e gols decisivos. Jogou ainda no Puebla, do México, e no América, do Rio
de Janeiro, onde acabou pendurando as chuteiras por conta de repetidas
contusões. Como técnico, Muricy tem um currículo invejável: uma Libertadores,
quatro Brasileirões e sete títulos estaduais, além de outras taças. Leia os
melhores trechos da entrevista abaixo.
Tietado pelas meninas na época de jogador
- No Morumbi, quando eu ia pegar o carro, tinha um monte de
fãs por lá. Eram as Muricizetes. Eu fiz uma graça meu (risos). A onda era cabelo, na
minha época a moda eram os Beatles, esses caras todos cabeludos. Eu adorava
cabelo, andava de jardineira, tamanco, bolsa a tiracolo, modernão. Era o cara.
Gostava de Rita Lee, era meio de rock
Gostava do barulho, era inquieto.
Conversa
com Ricardo Teixeira e recusa em assumir a Seleção
- Acho que não aconteceu em nenhuma parte do mundo um
treinador falar não pra seleção do seu país. Cheguei no clube de golfe... clube
de golfe, cara? Aí, ele vem de lá todo cheio de... Já tomou café? Já tomei
café, cara. Já estava meio invocado. Já não gostei, Aí me paravam as pessoas. Falei:
“Que loucura cara, estou vindo em uma reunião pra discutir o time da Copa do
Mundo e o cara me traz assim, me expondo. Fiquei três horas e meia conversando
com ele. Olhava para o cara. Porque tenho que ter firmeza na pessoa, o cara tem
que ser meu parceiro.
André Gallindo: E você
sentiu firmeza?
- Nada, não vale só o salário, só o contrato, Vale ter
parceria, cara, eu não senti isso, sabe, senti uma coisa meio vaga, que nem
aconteceu com o Mano Menezes. E tiraram Mano puseram outro. Senti que era de
momento, que eu era melhor técnico do Brasil naquele momento e eles queriam dar
uma satisfação pra alguém. Mas eu não sou cara que me iludo com as coisas, pra
você me entusiasmar tem que me mostrar mais coisas do que é, tem que ser coisa
segura, de parceria, e ele nunca me convenceu. E aí veio a pergunta fatal, meu,
porque eu falei que não vou aceitar. Cheguei no final da conversa, ele me
disse: “Muricy você vai ser o técnico da seleção brasileira já estamos
combinado”. Eu falei: “Não, tem um problema”. Ele meio arrogante me perguntou
qual era o problema? Falou com as mãos, me deu com as mãos. Qual é o problema? Eu
respondi: “O problema é eu dei a palavra pro Fluminense e vou ficar dois anos
lá. E não posso chegar agora ligar e não vou mais, não é assim.” Falei pra ele
que não era bem assim.
André Gallindo: E aí?
Ele me perguntou se eu tinha assinado. Aí eu disse: “Não
assinei nada, dei minha palavra. Então
ele falou assim pra mim: “Então você vai lá e resolve”. Foi quando eu disse:
“Já está resolvido, cara, vou ficar no Fluminense,. Não se faz isso, não é
assim, não, pra mim não é assim”. O que eu esperava e os caras do Fluminense
iam liberar. Telefona e diz: “Olha, seguinte, Celso Barros, Horcades, vou pegar
seu treinador e por na seleção brasileira, preciso dele, legal, leva o cara” E
ia acontecer. Mas aí ele me disse para eu ir lá resolver. Eu vou lá e resolvo?
Vou ligar pros caras e falar que não vou mais? E a conversa que tive com eles?
E o carinho que tiveram comigo desde que tinham sonho de me levar pro
Fluminense? E a torcida do Fluminense? E o Fluminense que estava brigando por
um titulo mais de vinte e seis anos que não ganhava? Como fica isso?
André Gallindo: Você se
arrepende?
- Nada, essa é outra palavra que me perguntam nas
entrevistas que dou. Se arrepende? De nada, me arrependo de nada.
Amizade com Chulapa, pão-durice e Telê Santana
- Eu e Serginho Chulapa iamos nos bares depois do jogo, sempre
saía com Chulapa, meu parceiro inseparável. Esse negócio de pagar não é bom,
cara. Aí quando vinha a conta eu dizia: "Não é possível, Chulapa, não bebemos tudo isso não, é muita
grana". (Risos). Aí nas
outras vezes ele começou a ir na frente pegar a conta para não me deixar brigar
com o garçom. Eu tenho
muitas coisas do Telê, eu peguei muitas coisas do Telê, inclusive de não gastar. Para mim ele é tudo, Telê foi o cara
que me deu oportunidade, o cara que me fez treinador, o cara que me fez gostar
de futebol, o cara que foi a sequência do meu pai.
Sucesso desde o dente-de-leite
- Os jogos do dente-de-leite do São Paulo eram lotados.
Todo sábado eram 20 mil pessoas, coisa de maluco mesmo. Para você ter uma ideia,
o negócio começou a tomar um corpo tão grande que todo sábado tinha convite pra ir não
sei aonde. O São Paulo ia e era uma festa. A cidade lotada, era uma coisa maluca. Os caras queriam ver
a gente, queriam ver essa linha do nosso time. E tinha um prêmio pra quem era o melhor jogador em
campo, e o prêmio era uma bicicleta. Eu não tinha bicicleta, nunca tive uma
bicicleta, meu pai não podia comprar. E eu ganhei a primeira bicicleta que fui
o melhor em campo. Depois disso ganhei mais cinco bicicletas.
Tempo no Barcelona
- Fiquei doze dias dentro do Barcelona, todo dia chegava
de manhã e saía de tardezinha. Via tudo: treinamento do profissional,
treinamento da base, fui ver onde os meninos moram, a parte onde estudam, a
parte administrativa do Barcelona, que é excelente. Acho que isso é a grande diferença que temos
que melhorar: a gestão do futebol. Tudo cara profissional, ex-jogadores, mas
muito bem preparados. Foi quando eu pensei: “Acho que essa viagem vai me fazer voltar a gostar mais de futebol.