Corre atrás desfile desfila no Leblon Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

A festa dos blocos pelas ruas e palcos do Rio

Corre atrás desfile desfila no Leblon Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Milhares de cariocas e turistas de todas as partes caem na folia

por O Globo

Mais de 90 blocos desfilam hoje no Rio. Ontem, cariocas e turistas de todas as partes do Brasil e do mundo caíram na folia com blocos como o Sargento Pimenta, no Aterro, e o Corre Atrás, no Leblon.

Sargento Pimenta

Foliões se divertem durante o bloco Sargento Pimenta, que homenageia os Beatles - Marcia Foletto

Em novo horário, os pimentas, como os integrantes do grupo Sargento Pimenta são chamado, repetem o sucesso de anos anteriores e atraem uma multidão de foliões para o Aterro do Flamengo. Com canções dos Beatles em ritmo de folia, o bloco desfiila na altura do Monumento aos Pracinhas. No ano passado, o grupo reuniu 180 mil pessoas por lá.

Este ano, a psicodelia de "Lucy In The Sky With Diamonds" norteia a apresentação, que tem como slogan "Picture Your SELFIE". O termo, em alusão à primeira frase da canção do quarteto de Liverpool, tem como intuito convocar os foliões a fazer suas selfies na alegria do carnaval.

O bloco desfila todo ano com versões de músicas dos Beatles - Marcia Foletto

Além de novidades no repertório, que conta com mais de dez músicas como “In My Life” e “Something”, presenças confirmadas como a de Chico Chico, filho da cantora Cássia Eller, também estão na lista. Com suas coreografias exclusivas e animadas, a segunda edição do "naipe dançante", composto pelos próprios alunos da oficina de percussão do bloco, também terão lugar garantido no Aterro do Flamengo.

Corre atrás

O casal Claudia Meirelles e Carlos Alvera estava fantasiado de Penélope Charmosa e Dick Vigarista - Carolline Antunes

A manhã desta segunda-feira foi animada na Rua Dias Ferreira, no Leblon. O bloco "Corre Atrás", que completou seu 11º aniversário nas ruas do Rio, embalou o festejo com suas tradicionais marchinhas e sambas-enredo que começaram por volta das 9h. O casal Claudia Meirelles e Carlos Alvera veio de Vila Valqueire para curtir a folia. Fantasiados de Penélope Charmosa e Dique Vigarista, eles capricharam no visual e fizeram sucesso pelas ruas da Zona Sul.

- Todo ano procuro uma fantasia legal, gosto muito de temas ligados a desenhos. Alugamos uma parte do traje, e a outra improvisamos com coisas nossas - contou a empresária.

Já o mineiro Marcelo Machado apostou na mistura da brincadeira com um assunto sério: a zika. Vestido de baiana, com uma camisa escrito "Eu sou zika mesmo", trecho de uma música do cantor Flavio Renegado, ele explicou que ganhou a blusa do próprio cantor e amigo, e achou que o tema valia ser ressaltado no carnaval.

- Estou de baiana, mas ganhei essa camisa do Flavio, e achei que tinha tudo a ver. É um assunto que vem sendo abordado com frequência, aproveitei o gancho para compor o traje.

Direto de Brasília, as amigas Priscila Casteliano e Ana Fernandes incorporaram uma Frozen um tanto diferente. Com capa, peruca, coroa e usando apenas um biquíni na parte de cima, as foliãs trouxeram ao Corre Atrás uma sátira do desenho infantil, que retrata um ambiente frio, oposto do que acontece no Rio.

- A gente queria uma fantasia diferente, e com humor ao mesmo tempo. Com o calor que faz aqui, "brincar na neve" se torna uma piada. Compramos os acessórios e optamos pelo biquíni para conseguir aguentar o tempo firme.

Jovens fantasiadas de Mulher Maravilha durante o bloco Corre Atrás - Domingos Peixoto / Agência O Globo

Este ano, a organização do bloco resolveu homenagear o atleta olímpico que foi campeão carioca por 11 vezes consecutivas, Mario Dunlop. Conhecido como Mario "Cavalo", o ex-jogador de vôlei atuou em clubes como Fluminense e Botafogo, e completou 70 anos em janeiro. Segundo o organizador Vitor Medeiros, além das sete décadas de vida do atleta, o festejo encontrou na homenagem, uma forma de abordar as Olimpíadas.

- Nós resolvemos fazer uma homenagem ao Mario Cavalo, que foi um grande atleta olímpico. Queríamos um tema que tivesse a ver com as Olimpíadas, já que será o acontecimento do ano. Aproveitamos a data de seus 70 anos para criar o tema.

Com o mesmo samba dos anos anteriores, a novidade veio na camisa dos 30 integrantes da bateria, que vestiam a peça também em homenagem ao ex-jogador.

Fique por dentro da programação dos blocos na cidade. Baixe o aplicativo Carnaval 2016, o app oficial da da folia carioca. Disponível para IOS e Android.


O bloco Corre Atrás animou os foliões na manhã desta segunda-feira, no Leblon - Domingos Peixoto / Agência O Globo

Dinossauros Nacionais

Os foliões em grande número no Largo São Francisco de Paula - Cissa Loureiro

Formado por alunos da Faculdade Nacional de Direito, o bloco Dinossauros Nacionais começou a esquentar o Largo São Francisco de Paula na tarde desta segunda de carnaval. Previsto para começar às 12h, a banda deu início à festa 35 minutos depois. Segundo a Riotur, 6 mil foliões vão acompanhar o desfile.

Em seu quarto desfile, o grupo faz este ano parceria com o Brasília Amarela, que se apresenta pela primeira vez no carnaval de rua carioca.

Uma das fundadoras do Dinossauros, Isabela Dantas, ressalta que o público é composto, em sua maioria, por pessoas que curtem rock dos anos 80 e que a expectativa é que aumente:

— Grande parte do nosso público curtiu os anos 80 e vem ao desfile fazer uma viagem no tempo animadíssima com os amigos, com a família, trazendo os filhos, e a cada ano a família Dinossauros vem aumentando. Esta parceria com o Brasília Amarela certamente fará com que nossos públicos se encontrem e façam uma festa incrível neste carnaval.

Rock nacional com carnaval é a inspiração do Dinossauros Nacionais - Luiz Felipe Moura

No repertório, músicas dos Paralamas do Sucesso, RPM, Barão Vermelho fazem os foliões pularem e cantarem a plenos pulmões.

Com 40 ritmistas na bateria, a banda também conta com 6 integrantes (entre cordas e vocais). As músicas são cantadas em variados ritmos como samba, marchinhas, funcionou, região e afoxê.

— Nosso público curte demais poder cantar e pular novamente ao som dos clássicos do rock que embalaram sua infância, juventude, e costumam dar muitas sugestões para a ampliação do repertório do carnaval. O setlist só tende a aumentar nos próximos anos — conta Isabela.

Vem cá, minha flor
por Carolina Ribeiro

O carnaval ficou mais florido nesta segunda-feira. O bloco “Vem cá, minha flor” se apresenta pelas ruas do Centro da cidade a partir da Avenida Marechal Câmara. Mesmo com uma hora de atraso, o clima do cortejo floresceu entre os foliões. Em setembro, um grupo de 88 ritmistas dos blocos Céu na Terra, Orquestra Voadora, Multibloco e Fanfarra Black se reuniram para criar o bloco e espalhar flores, paz e amor no carnaval.

A maioria dos homens estão barbados e com flores artificiais de diferentes cores e tamanhos na barba. Rodrigo Nunes, conhecido como Rodrigo Zé Pequeno, toca trombone na apresentação e esclarece:

— Hoje é dia de flores no carnaval. Toda vez que a gente ensaia, todos os homens colocam flores na barba.

As mulheres vêm todas muito floridas: girassóis no cabelo, rosas na cintura e instrumentos decorados. Um dos fundadores do bloco, Leonardo Santana, conta que bloco surgiu em uma mesa de bar:

— Eu percebi que tinha muita camisa florida no carnaval. Aí, um belo dia, tomando cerveja com amigos músicos, pensamos: por que não criamos um bloco para espalhar flores pelo carnaval?

Com a ideia lançada, mobilizar os músicos não era um problema, e as opções de nome para o bloco também surgiu coletivamente. “Cordão da Flor” e “Florido” foram uma das opções, mas o martelo bateu em “Vem cá, minha flor”.

A apresentação do bloco nesta segunda-feira começou com uma música própria, que diz: “Minha vida estava sem graça, chata e sem cor. Quando eu te vi passando, gritei: vem cá, vem cá, minha flor!”.

Brasília Amarela

Integrante do Brasília Amarela - Cissa Loureiro

A nostalgia tomou conta do Largo de São Francisco de Paula, no Centro, nesta segunda-feira. Em homenagem ao grupo Mamonas Assassinas, Brasília Amarela faz sua estreia no carnaval de rua carioca.

Previsto para começar após a apresentação do Dinossauros Nacionais, o bloco temático entrou em cena com 20 minutos de atraso, sob o grito de "começa" do público.

Sob sol forte, os foliões foram atendidos, e o bloco abriu a festa com a música Chopis Centis. Segundo a Riotur, a estimativa de público é de 4 mil pessoas.

- A ansiedade está sendo grande, primeiro porque ano passado foi embargado o desfile, então está engasgado isso. Segundo, é nossa estreia no carnaval de rua. Meu objetivo ao criar o bloco foi um só: ver as pessoas felizes, brincando - conta o vocalista e fundador Caio Bucker.

O carnaval de rua carioca abraça cada vez mais blocos temáticos. Raul Seixas, Cazuza e Beatles são alguns homenageados por grupos que transformam as músicas originais em versões carnavalizadas.

- Um dos pontos que me fez fazer esse bloco é ser fã do Mamonas. Me chamava atenção essa coisa deles se fantasiarem e brincarem. Quando vi os blocos temáticos crescendo pensei 'não tem ninguém que tenha feito dos Mamonas, então vou fazer'. Foi aí que começou o projeto - diz Caio.

O bloco é composto por 13 integrantes, incluindo um baterista de rock.

- É bateria mesmo. Acho que nenhum bloco tem bateria de verdade. Nós mantemos a pegada do rock'n roll, fazendo as músicas em versões carnavalescas, como samba-enredo, baião, marchinha, ijexá, frevo, funk in lata - fala o vocalista.

Uma presença em especial que atraía os olhares na festa do Brasília Amarela era Cindy Furacão. Participante do quadro que transforma homens em travestis, do programa Amor e Sexo, de Fernanda Lima, Fred Ostritz parece ter incorporado o personagem.

- Vou participar do bloco tocando gaita, mas como a Cindy. Hoje, não é o Fred que está aqui - diverte-se ele.


Pede Passagem

Ivone Lara, Clara Nunes, Beth Carvalho e Jovelina Pérola Negra estão no repertório do bloco - Clarissa Stycer / O Globo

"Isso que é samba" e "Isso que é carnaval de verdade" foram alguns dos elogios ouvidos sob as árvores do Jockey Club, na Gávea, onde se aglomerou o Pede Passagem. O cortejo recebeu o movimento Primavera das Mulheres, que, com vocais femininos, deu o tom do décimo segundo enredo do bloco: a mulher e o samba.

— Em todos esses anos, nenhuma mulher havia sido homenageada, e essa questão ficou muito em evidência no ano passado - lembra Betânia Oliveira, uma das organizadoras. — É bem simbólico ter esse protagonismo feminino na comemoração de 100 anos do samba. É para mostrar que não é só cabrocha, mulata.

As canções de damas como Ivone Lara, Clara Nunes, Beth Carvalho e Jovelina Pérola Negra animaram os foliões, que ocuparam os entornos da Praca Santos Dumont.

— Admiro um bloco assim, com uma proposta diferente, que toca samba de raiz — diz o folião Victor Albecono, acompanhando a música.

Às 16h, a bateria formada por integrantes das escolas Mocidade Unida do Santa Marta e São Clemente pôs o cortejo para andar, entoando o refrão: "Eu vou pro samba, porque mulher também é bamba".

— São sempre sambas antológicos, mãos cadenciados, melodiosos. Nossa proposta é fazer um carnaval de rua para amantes da boa música - afirma Marco Gérard, cantor do bloco, que não recebe nenhum patrocínio. O carro de som e demais despesas são pagas pelos organizadores, que contam com alguns apoiadores.