26/07/2014 16h22 - Atualizado em 26/07/2014 16h22

Padre exorcista descarta possessão no RS: 'espírito não joga pedra'

Objetos se moviam sozinhos e criança agia de jeito 'estranho', diz família.
Para Silva, ela estava oprimida e provocou efeitos com 'poder da mente'.

Raquel MoraisDo G1 DF

O padre exorcista Vanilson Silva, de Brasília (Foto: Raquel Morais/G1)O padre exorcista Vanilson Silva, de Brasília, com o livro 'Ritual de exorcismos e outras súplicas' (Foto: Raquel Morais/G1)

Exorcista oficial da Igreja Católica em Brasília, o padre Vanilson Silva afirma duvidar que a gaúcha de 11 anos que começou a apresentar comportamento estranho, mudando o tom de voz e a se contorcer, estivesse possuída pelo demônio. Em junho, a família relatou haver barulhos de socos nas paredes e pedras caindo do telhado e dentro de casa, mesmo com as portas e janelas fechadas. Um médium disse ter exorcizado a garota, e a construção foi demolida. Desde então, as manifestações teriam acabado.

A mente tem, sim, esse poder. Você não tem essa noção, não controla. Mas, em alguns momentos, como esses em que tem algo ali, mal resolvido dentro de você, você acaba concentrando energia e conseguindo até mover objetos. Não digo que não exista a parte espiritual, mas essa não é a causa de tudo isso. O caso dela não é de exorcismo. Ela precisa é do acompanhamento de pessoas sensatas, capazes de proceder a cura interior, que rezem com ela para ela dissolver esses traumas. Um psicólogo também ajuda, mas não basta."
Vanilson Silva, padre exorcista

“Para mim, o primeiro e maior indício de que não havia demônio possuindo essa menina é a história das pedras. Não acredito que espírito mova objetos físicos. Ele interfere, sim, na parte física, mas ele não mexe nisso. Não faz parte da dimensão dele. Espírito não joga pedra”, afirmou ao G1. “Isso de que o espírito queria a casa [relatado pelo médium] também não procede. Espírito não precisa de casa, de propriedade. Sair do lugar não liberta ninguém. Não é esse o problema.”

O padre diz acreditar que a criança sofreu um desequilíbrio psicológico – que pode ter sido provocado, por exemplo, por brigas com os pais ou um possível sentimento de rejeição – e por isso mudou de comportamento. Silva não descarta a possibilidade de que essa “ferida no coração” tenha tornado a garota mais vulnerável a uma opressão espiritual (quando, segundo ele, o demônio influencia as ações sem estar dentro da pessoa), mas defende que os barulhos e as pedras caindo foram provocados pela própria mente dela. O religioso já fez dois rituais de exorcismo e afirma que esse não era um caso do tipo.

“A mente tem, sim, esse poder. Você não tem essa noção, não controla. Mas, em alguns momentos, como esses em que tem algo ali, mal resolvido dentro de você, você acaba concentrando energia e conseguindo até mover objetos. Não digo que não exista a parte espiritual, mas essa não é a causa de tudo isso. O caso dela não é de exorcismo. Ela precisa é do acompanhamento de pessoas sensatas, capazes de proceder a cura interior, que rezem com ela para ela dissolver esses traumas. Um psicólogo também ajuda, mas não basta”, declara.

A família morava em uma área rural ao norte do Rio Grande do Sul e se mudou para a zona urbana da cidade para “esquecer” a experiência. A prefeitura do município diz que alugou um imóvel para abrigar o casal e os três filhos – um menino de 8 anos e duas jovens de 11 e 15 anos – e disponibilizou uma equipe multidisciplinar para acompanhar o caso. A mãe, que não quis se identificar, diz que o comportamento estranho da filha mudou há poucas semanas.

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Casa é demolida após exorcismo no RS (Foto: Reprodução / RBSTV)Casa que foi demolida após exorcismo no RS (Foto: RBS TV/Reprodução)

Vizinhos, policiais e pesquisadores confirmam a versão da família e dizem que presenciaram tais acontecimentos. Várias entidades sociais e religiosas se ofereceram para auxiliar a família.

Demônios e exorcismo
O padre, que passou uma semana em Roma estudando sobre o tema, afirma que existem duas formas de um demônio exercer influência sobre as pessoas. A primeira delas, chamada de opressão, é quando ele se aproveita de uma fraqueza – geralmente afetiva – para estimular sentimentos e comportamentos ruins. A outra é a possessão, quando o espírito de fato entra no corpo de alguém e passa a agir contra a vida dele.

“Os demônios são os anjos que, chefiados por Lúcifer, deixaram a luz depois de se revoltar com o fato de que Deus escolheu mandar Seu filho como homem, em vez de anjo”, explica Silva. “Diz-se que a partir daquele momento, tudo o que eles sabem fazer é odiar. Como não conseguem atingir Deus, o fazem pelo filho Dele, que é o homem.”

Segundo Silva, para que um demônio possua alguém é necessário haver uma entrega. “Não acontece assim, quando ele quer e com quem ele escolhe. A pessoa tem que ir a um desses locais em que se fazem isso que se chama de trabalho e dizer que está se entregando em troca de algo, seja um amor ou dinheiro. Também é comum que ofereçam crianças, mas, da mesma forma, tem que levar a esse local.”

A possessão ocorreria quando a pessoa que fez o acordo desiste de trabalhar em prol do demônio. O padre diz que é uma forma de punir o homem e mostrar quem de fato está no controle. De acordo com o Silva, se não houver conflito entre as partes, o espírito não vê necessidade de “torturar”.

“Todos os dias chega gente pedindo para ser exorcizado, mas não é bem assim. São realmente casos raros [de exorcismo]”, explica. “Agora, opressão espiritual tem todos os dias, pelo menos um caso. A gente reza pela libertação, pede em nome de Jesus. Você percebe que há mesmo uma opressão espiritual pela forma como essa pessoa reage: ela fica com raiva do padre, tem mal-estar, resiste. Só que tem uma coisa aqui: não dá para atribuir tudo aos demônios. As pessoas têm que reconhecer o que fazem e o que pensam, não é tudo culpa dos espíritos.”

Silva afirma que, em geral, pessoas que são influenciadas por demônios são mais reservadas e se sentem angustiadas. Já as que estão efetivamente possuídas definham, emagrecendo bastante e perdendo vida social. Em ambos os casos em que realizou exorcismo, as vítimas apresentavam esse comportamento. Uma delas, uma moradora do DF, precisou de um ritual e semanas de oração.

Os procedimentos acontecem em uma sala reservada da igreja e são exaustivos. O padre segue as orientações de um livro vermelho, que traz orações iniciais, ladainhas, leitura de um trecho bíblico e fórmulas – secretas – de oração de exorcismo. Às vezes, diz, é necessário fazer o ritual mais de uma vez na mesma pessoa.

“É bem cansativo. Você tem que ter a cabeça muito boa, ter muito equilíbrio. Pode durar uma manhã inteira, por exemplo. Mas a possessão não é mesmo comum”, diz o padre. “A melhor forma de se proteger dessas influências é criando uma rotina de orações, aprender a perdoar, aprender a entender e aprender a amar. Não pode dar espaço.”

Entenda o caso
No dia 8 de junho, o programa Teledomingo, do Rio Grande do Sul, mostrou a história da família que vivia em uma casa onde ocorriam fenômenos incomuns. Barulhos de socos nas paredes, pedras que caíam no telhado e dentro da casa, mesmo com as portas e janelas fechadas, eram alguns dos relatos dos moradores. Policiais que foram chamados ao local também se assustaram com os acontecimentos.

Na residência vivia o casal com os três filhos. Vizinhos prestaram ajuda e chegaram a levá-los para outros locais, como um colégio próximo. No entanto, os acontecimentos teriam voltado a ocorrer. Além das pedras, a filha mais velha do casal começou a apresentar um comportamento estranho. "Um dia, o espírito levou ela para cima da casa, jogou-a para baixo e quebrou a telha", relatou a mãe.

Ao saber do caso na cidade, o produtor de vídeos Gelson Luiz da Costa foi até o local movido pela curiosidade. Com uma câmera, fez imagens para registrar os fenômenos. No momento da gravação, uma pedra caiu dentro casa. Ele percebeu que a família precisava de ajuda e se empenhou para encontrar um médium para fazer um trabalho de exorcismo.

O médium Nelson Júnior Paz disse ter exorcizado a garota. “O espírito se afastava da menina quando a gente chegava perto da casa. Então, eu me retirei para que ele baixasse nela e eu pudesse fazer o exorcismo. Também perguntei por que ele estava perturbando aquela menina, o que acontecia. A todo momento, ele dizia que queria a vida dela ou a propriedade de volta”, relatou o médium à época.

Garota de 11 anos voltou a apresentar comportamento incomum (Foto: Reprodução/RBS TV)Garota de 11 anos durante ritual de exorcismo feito por médium no RS (Foto: RBS TV/Reprodução)

 

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