• Pedro Carvalho
Atualizado em
Sergio Kamalakian (Foto: Divulgação)

Sergio Kamalakian (Foto: Divulgação)

Nas vésperas do primeiro turno das eleições, o empresário Sergio K, 30 anos, fundador da grife de roupas que leva o mesmo nome, prometeu dar frete grátis para os clientes por uma semana caso Aécio Neves (PSDB) passasse ao segundo turno. Cumpriu a promessa e foi além: nesta sexta-feira (10), lançou uma camiseta que faz paródia da campanha de Barack Obama e estampa os dizeres “Uai, we can” ao lado da imagem do candidato tucano.

Nesta conversa com o site de Época NEGÓCIOS, ele faz uma série de críticas ao Bolsa Família (diz que não consegue funcionários porque quem recebe o benefício não quer trabalhar), às manifestações de junho (afirma que não foi às ruas porque não se sentiu seguro) e afirma não ter medo que suas posições acabem associadas à marca: “as pessoas são esclarecidas o suficiente, pelo menos as pessoas que são os meus consumidores, que têm poder aquisitivo para consumir a marca, , eles sabem que eu estou tentando fazer o bem pelo país”, afirma.

Frete grátis faz alguma diferença para um cliente de alta renda, como o seu?
Não faz diferença 15 reais para esse tipo de cliente, mas o cliente gosta de ter qualquer tipo de vantagem, seja um gift, um sampling e até mesmo o frete grátis. Não pelo valor, né?

No Brasil, poucos empresários se posicionam em campanhas políticas. Por que você decidiu fazer isso?
Eu me posicionei porque fui muito cobrado pelos jovens ativistas. Eles queriam que eu tomasse algum partido, e eu sempre fui muito relutante, porque acho que sexo, política e religião não se discutem, né?

Por que esses jovens cobravam isso de você?
Sei lá, porque eu sou um cara que tem 30 anos, o Aécio também é um cara jovem, e, sei lá, eu acho que eu represento um pouco essa geração da minha idade. Então me cobravam, me perguntavam no Twitter, no Facebook, esse tipo de coisa. Então eu resolvi me posicionar. Agora, porque eles queriam esse posicionamento, eu não entendi. Da mesma forma das manifestações, quando eu fui criticado porque eu não coloquei nada no Face, nada no Twitter, nada no Instagram dessa coisa que as pessoas foram pra rua... Eu não fui pras ruas, né? Eu não fui porque eu não achei que era o momento e eu não me senti seguro.

Por quê?
Naquele momento eu não achei confortável ir pra rua. Eles diziam que não era pelos 20 centavos, mas eu imagino que, sim, era pelos 20 centavos, porque depois desse absurdo da Petrobras, dessa questão de a Dilma achar que ela não sabe de nada, que nunca soube de nada, esse escândalo dos Correios, onde estão essas pessoas que estavam na rua? Quer dizer, era tudo uma baderna. Era pelos 20 centavos sim.
 

Não se sentiu seguro em que sentido? De que as ideias defendidas não eram as que você acreditava?
Não, não, digo da integridade física, mesmo. Porque imagina, com black blocks infiltrados nesse movimento todo, não parecia uma coisa nem séria nem legítima. Eram agências quebradas, era uma quebradeira, não era uma manifestação como as Diretas Já, que foi uma coisa extremamente organizada. Não, era gente pelos 20 centavos, era gente pela usina de Belo Monte, todo mundo... Enfim. E aquilo eu achei uma coisa... Como se diz? Uma anarquia. Sabe como é? Eu não gosto de anarquia.

Você tem medo que esse seu posicionamento político contamine a marca daqui para frente?
Não, não vejo isso, e se acontecer não tenho medo também, eu estou bem consciente do apoio, não espero nada em troca, se você me perguntar se o Aécio é perfeito, [digo que] não sei, mas sou a favor de mudança, de qualquer tipo de mudança. Como está não dá para ficar. Como jovem, sou a favor de qualquer tipo de mudança. Acho que as pessoas são esclarecidas o suficiente, pelo menos as pessoas que são os meus consumidores, que têm poder aquisitivo para consumir a marca, eles sabem que eu estou tentando fazer o bem pelo país.

Como o cenário econômico atual está afetando seu negócio?
É, o negócio de moda. Está afetando, bom, as taxas de juros é um absurdo, a inflação é um absurdo, essa questão da alta do algodão é um absurdo, a variação do dólar, para a gente que faz importação e exportação, a gente negocia um preço e não sabe como vai flutuar daqui para frente. Eu exporto a minha marca pra Rússia, a gente põe um preço e não sabe a supervalorização que isso vai ter. E ao mesmo tempo eu compro matéria prima do Peru, algodão do Peru, já que a gente não está tendo algodão aqui. Então você fica dançando numa economia extremamente instável e não sabe o que vai ser.

Mas a flutuação do dólar não é uma coisa que sempre aconteceu?
Sempre oscilou, mas a gente teve oscilação de 5%! Desde o governo dela, olha como esse dólar oscilou.

Os juros, que você citou, são mais baixos hoje do que nas últimas décadas.
Os juros até pode ser, mas essa inflação desenfreada, a gente dorme de um jeito acorda de outro.

Mas a inflação hoje também é mais baixa e menos volátil que nos governos anteriores.
Eu acho ela bem alta. Minha marca tem sete anos e talvez eu esteja sofrendo só agora com isso. A questão da mão de obra também é um caso seriíssimo. Eles dizem que a taxa de desemprego está baixa, mas é lógico que a taxa de desemprego está baixa, tem muita gente que não procura mais emprego. Estoquista, que recebe o piso da categoria – não sei qual é agora, mas posso te dizer depois –, almoxarifado, limpeza, tudo isso as pessoas preferem ganhar o Bolsa Família do que estar trabalhando.

Mas o Aécio defende o Bolsa Família.
Então, o Aécio defende o Bolsa Família, não tem como tirar o Bolsa Família, mas assim, eu não sou favorável a essa questão do PT de pão e circo, entendeu?

Então você seria a favor de tirar o pão – no caso, o Bolsa Família?
Não, de forma nenhuma. Eu acho que dar em dinheiro não resolve. Ele precisa dar em educação, em treinamento. Porque a pessoa não pode só receber o Bolsa Família e estar contente com o Bolsa Família, onde está a capacitação dessa pessoa, a ambição dessa pessoa?

Mas o Bolsa Família está vinculado à presença do filho na escola.
Mas isso é uma outra história. A pessoa recebe o Bolsa Família, o pai e a mãe, e não quer procurar emprego. Eles estão contentes com o Bolsa Família, essa é minha opinião.

Você disse que o maior impacto dessa falta de mão de obra, supostamente devido ao Bolsa Família, está nas regiões mais afastadas de São Paulo.
É, isso, Novo Hamburgo, Camaçari, a gente está tendo muito problema com isso.

Mas São Paulo é o segundo estado que mais recebe o Bolsa Família.
Não sabia.

Sempre foi um dos que mais recebeu. Queria entender a lógica dessa questão geográfica.
É, sei lá, acho que em número de pessoas São Paulo é a cidade do trabalho, né? A gente não sofre tanto.
 

Camiseta Sergio K (Foto: Divulgação)

Camiseta Sergio K (Foto: Divulgação)

Como funciona a promoção da camiseta?
É uma edição limitada, por R$ 9,99. Coloquei justamente a esse preço para não ser acusado de estar distribuindo santinho ou comprando voto. Então a pessoa compra por um preço simbólico, se quiser ter a camiseta.

Você foi acusado de comprar votos pela promoção do frete grátis?
Não, mas tem umas pessoas que não sabem o que dizem e acabam falando disso nos comentários do Instagram.

Como está sendo a repercussão dessa história toda na sua timeline?
Foi ótima, foi maravilhosa, porque a maioria dos meus seguidores são Aécio, né?

A camiseta vai se tornar uma peça das lojas?
A camiseta a gente fez uma edição histórica. O Aécio tem, o Naldo pediu, várias pessoas têm, formadores de opinião, artistas. Mas já acabou, foram 300 peças.

Quem mais pediu?
Rafinha Bastos, Ronaldo, Marcus Buaiz... Quem mais? Preciso ver com a assessoria de imprensa. É que a gente lançou isso hoje, né?

Vai fazer mais?
Não.

Por quê?
Porque não tem tempo.

Você vê alguma contradição no fato que o Obama era uma candidatura contra o partido conservador nos EUA, e o Aécio é uma posição mais conservadora no Brasil?
Não, na verdade eu não entrei nesse mérito, eu entrei no mérito da mudança mesmo, e fiz um trocadilho de imagem e a questão da expressão mineira “uai”. É uma visão fashionista, vamos dizer.

Foi você que criou?
Sim.

Vai continuar se engajando na campanha pró-Aécio?
Não, acho que agora é conversar, é assistir os debates e de acordo com as pesquisas e de acordo com as propostas começar a pedir votos no boca a boca mesmo. Acho que cada um tem que fazer a sua parte, né? Afinal de contas, a gente vive numa democracia.