• 27/07/2014
  • por Cristina Dantas
Atualizado em

Resgatadas por um talento latente, algumas pessoas mudam de profissão certa altura da vida – e outras mudam de vida certa altura da profissão. Foi assim com o designer Aristeu Pires, o artista Nazareno e o designer de interiores Fabio Galeazzo. Reconhecidos em suas novas carreiras, eles vieram de áreas que não exigiam grandes rasgos de imaginação. Mas era uma vez o destino...

Gente reinventada (Foto: Divulgação)

Mesa Amsterdam

Gente reinventada (Foto: Divulgação)

Poltrona Gisele

Gente reinventada (Foto: Divulgação)

Poltrona Alice, criada em parceria com Marcus Ferreira

Gente reinventada (Foto: Divulgação)

Banco Doris

Gente reinventada (Foto: Divulgação)

Cadeira Yoko

Gente reinventada (Foto: Celso Mellani )

Aristeu Pires – Check-in para o design
Aristeu Pires sempre gostou do bom design – só não sabia disso. Tendo atuado por 25 anos como diretor de tecnologia de empresas multinacionais, estava sempre a bordo de um avião, rumo a onde fosse preciso bolar um sistema para resolver alguma questão imediata. Percebeu? Criar já era parte de sua rotina. Assim como o design: quando se casou, comprou uma poltrona Kilim, de Sergio Rodrigues, sem ter ideia de quem fosse o criador ou a criatura. O dia a dia de executivo bem-sucedido, mas ausente, lhe custou o casamento. “Eu tenho três filhas que não vi crescer e decidi mudar de vida”, lembra. No período pós-separação, procurando móveis e sem encontrar o que queria, projetou as peças que desejava – isso foi há 12 anos. Parece pouco, mas foi tempo suficiente para que ele se embrenhasse em uma nova paixão que lhe rendeu vários prêmios, reconhecimento e uma nova vida. Casado outra vez, tem mais três filhas. Sergio Rodrigues, sua primeira inspiração, acabou se tornando um grande amigo. No início da atual carreira, Aristeu conheceu o designer e expôs seu desejo de ingressar na área. Ouviu um desanimador “meu filho, não faça isso”. Mas ele fez. Às vezes o mestre ainda lhe diz: “Ainda bem que você não seguiu meu conselho”.
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Gente reinventada (Foto: Divulgação)

Cabana Urbana, projeto para a Casa Cor SP 2011

Gente reinventada (Foto: Divulgação)

Detalhe do ambiente premiado com o Andrew Martin Design Awards em 2011

Gente reinventada (Foto: Lufe Gomes )

Fabio Galeazzo – Salvo pela beleza
Dizer que Fabio Galeazzo foi dentista é contar só parte da história. Graduado em odontologia em 1989, logo se pós-graduou em implantodontia e se tornou chefe de uma equipe que realizava grandes cirurgias de reabilitação total da boca – trabalho no qual Galeazzo vê semelhanças com a arquitetura: “As proporções são distintas, mas um ajuste oclusal, que garante o encaixe perfeito dos dentes, é uma escultura. Além disso, os processos que envolvem um implante remetem às técnicas de construção”, diz. Certo dia, se pegou achando que, tamanha a sua responsabilidade, ainda acabaria matando um paciente. Chegou a fazer um curso de salvamento no Instituto do Coração, em São Paulo. Mas ele é que foi salvo – pelo seu médico particular, que o mandou fazer algo que o tirasse desse redemoinho de estresse e maus pensamentos. A saída foram os três anos estudando design de interiores no Senac para, logo em seguida, trabalhar como assistente do arquiteto João Mansur. A estética estava no sangue e, em 1997, ele deu a largada para uma nova identidade – a de designer. Foi entre as tantas palestras que profere pelo país que ele teve uma espécie de epifania: percebeu que não era um paciente que estava prestes a morrer, mas um dentista – ele próprio. E então se tornou quem realmente é.
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Gente reinventada (Foto: Divulgação)

Instalação Eu Sempre Soube, 2010, minimontanha-russa de madeira

Gente reinventada (Foto: Divulgação)

Nada mais o deterá, 2014, serigrafia e lápis aquarelado sobre papel

Gente reinventada (Foto: Divulgação)

Não converse comigo com a obrigação de ser feliz, 2014, desenho nanquim-sobre-papel

Gente reinventada (Foto: Gui Gomes )

Nazareno – Talento para contar histórias
A arte, em todas as suas formas, se insinuou cedo na vida de Nazareno, embora o cinema dominasse: era preciso achar tempo para os filmes após o expediente como pesquisador de mercado, função que exerceu dos 14 aos 17 anos. Dos 19 aos 23, a sétima arte entrava nas folgas do trabalho no ramo do turismo e das aulas de inglês. Um dia, ao sair do cinema, sentiu que não havia sido talhado para uma vida de compromissos, horários e rotina. Nascido em São Paulo, vivia em Fortaleza, terra de sua mãe, quando, aos 25 anos, largou tudo para estudar artes plásticas na Universidade Federal de Brasília, onde passou de aluno a professor. De volta a São Paulo, Nazareno, com sua sinceridade artística, não encontrou entraves. “Minhas criações têm referências da literatura, do cinema, das artes plásticas e da música – neles se encontram as possibilidades narrativas em seus mais amplos aspectos”, diz. Aos 47, completou 17 anos dedicados à sua arte da narrativa, que não se limita às esculturas, instalações e aos desenhos. Ele cria livros como quem compõe uma ópera, intitula suas obras como quem conta uma história. E nunca, mas nunca mesmo, perde um bom filme. Em tempo: as obras de Nazareno estão em cartaz na Galeria Luciana Caravello, no Rio, e, em agosto, é a vez da Emma Thomas, na capital paulista.

* Matéria publicada em Casa Vogue #346 (assinantes têm acesso à edição digital da revista).