Política

Black blocs enfrentam PMs em SP; no Rio, tumulto e bombas de gás

Grupo promoveu vandalismo na Zona Leste de SP, perto da avenida que dá acesso ao Itaquerão, palco da abertura da Copa do Mundo

Manifestante é detido por policiais em São Paulo
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Nelson Antoine
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AP
Manifestante é detido por policiais em São Paulo Foto: Nelson Antoine / AP

RIO, SÃO PAULO, BELO HORIZONTE, FORTALEZA e PORTO ALEGRE — Pelo menos 17 pessoas ficaram feridas e mais de 70 foram detidas durante protestos em várias capitais ontem. Apenas em Belém a manifestação transcorreu pacificamente. Nas demais capitais, houve quebra-quebra, confrontos com a polícia, vândalos mascarados e muita confusão. Entre os feridos há cinco jornalistas estrangeiros, sendo que quatro foram atingidos em São Paulo e um em Belo Horizonte.

São Paulo, cidade da abertura da Copa, registrou seis horas de protestos antes do jogo entre Brasil e Croácia. Pelo menos 12 pessoas ficaram feridas. No total, 43 pessoas foram detidas por agressão, desacato ou até posse de material explosivo. A Polícia Militar usou a força para evitar que a Radial Leste, principal ligação entre o centro da cidade e o Itaquerão, fosse bloqueada. A Anistia Internacional acusou a PM de usar força desproporcional contra os manifestantes, o que foi negado pela corporação.

Os protestos se concentraram na região do Tatuapé, a cerca de dez quilômetros do estádio. A estação de metrô do bairro ficou fechada por mais de uma hora e foi palco de confrontos. Passageiros, entre eles alguns turistas estrangeiros, ficaram no meio do tumulto. A PM usou bombas de gás lacrimogêneo, de efeito de borracha e balas de borracha. Por outro lado, manifestantes chegaram a depredar o carro de uma emissora de TV.

Diferentemente de outros protestos contra a Copa que ocorreram este ano, a polícia se antecipou à ação dos manifestantes, tentando dispersá-los logo que se agrupavam. A concentração do chamado Grande Ato contra a Copa estava prevista para a estação Carrão do Metrô, também na Zona Leste, às 10h. Doze minutos depois, a PM já usava bombas de gás e cassetetes para tirar da rua os cerca de 200 jovens que começavam a chegar ao ponto de encontro. Em um desses confrontos as jornalistas da rede americana CNN ficaram feridas com estilhaços de bomba atiradas pela PM.


Policiais usam cassetetes para afastar manifestantes
Foto: NACHO DOCE / REUTERS
Policiais usam cassetetes para afastar manifestantes Foto: NACHO DOCE / REUTERS

Depois de tentarem se reagrupar e verem mais dois avanços policiais, os manifestantes caminharam até a sede do Sindicato dos Metroviários, no Tatuapé, onde um grupo de cerca de 500 sindicalistas fazia um ato contra a demissão de 42 funcionários do Metrô após a greve de cinco dias da categoria.

Lá, houve mais confrontos depois que um grupo de jovens com rostos cobertos montou barricadas com lixeiras, madeira e fogo, ao lado de um posto de gasolina. Os metroviários decidiram entrar no prédio do sindicato e abandonar o protesto. Eles combinaram com a polícia que sairiam do edifício de forma pacífica, afirmando que não concordavam com a violência do outro grupo. Foram chamados de pelegos pelos manifestantes mais radicais.

Sem os metroviários na rua, os policiais militares expulsaram quem ainda participava do ato. Novos focos de brigas ocorreram nas ruas do Tatuapé. Manifestantes entraram na estação de metrô, sempre seguidos por policiais. Os dois shoppings anexos à estação fecharam as portas, comerciantes se esconderam e passageiros correram assustados.

Outro grupo, formado por não mais que 50 pessoas, conseguiu fechar a Radial Leste por alguns minutos, entre o viaduto Pires do Rio e estação Belém do Metrô. Eles caminhavam na contramão da pista sentido zona leste da avenida e usaram barreiras de plástico da CET para impedir o tráfego. Novamente, a Tropa de Choque reagiu e liberou o trânsito arremessando bombas de efeito moral no meio de carros que estavam parados na pista e disparando balas de borracha contra os manifestantes.

Policiais e manifestantes protagonizaram uma série de brigas e provocações ao longo de mais de duas horas dentro da passarela que dá acesso às bilheterias e às áreas de embarque e desembarque da estação Tatuapé. O conflito terminou com o terminal sendo fechado e evacuado pela PM, com o uso de mais bombas de gás lacrimogêneo. Passageiros que nem sabiam o que estava acontecendo tiveram que sair correndo. Alguns esperaram 45 minutos até que a estação fosse aberta.

Na Zona Oeste da cidade, a PM deteve 29 estudantes dentro do campus da Universidade Estadual Paulista (Unesp) porque eles estariam portando canivetes, vinagre e máscaras. O grupo foi levado para a delegacia, e até a noite não sabia se seria liberado.


Manifestantes e PM em confronto em Taguatinga, na área externa da Fan Fest
Foto: André Coelho / Agência O Globo
Manifestantes e PM em confronto em Taguatinga, na área externa da Fan Fest Foto: André Coelho / Agência O Globo

Em Brasília, o protesto contra a Copa do Mundo levou cerca de cem manifestantes às proximidades do Taguatinga, local da Fan Fest. Antes dos jogos, a PM interrompeu o trânsito no Pistão Norte, a mais de 1,5 km do espaço da arena, que liga a área central de Taguatinga ao local do evento. Os manifestantes estavam em um dos lados da avenida quando foram impedidos de caminhar em direção à Fan Fest. As detenções ocorreram durante uma confusão com a PM, mas não foram registrados atos de violência. Por nota, a Polícia Militar disse ter usado apenas a “força necessária” durante a manifestação.

Em Belo Horizonte um grupo interditou o trânsito na Praça Sete, no Centro, queimou a bandeira do Brasil em cima do obelisco e, minutos antes da seleção entrar em campo, black blocs tombaram um carro da PM e houve confronto. O fotógrafo Sérgio Moraes, da Agência Reuters, foi atingido na cabeça e sofreu traumatismo craniano. Em Brasília, o protesto contra a Copa levou cerca de cem manifestantes às proximidades do Taguaparque, local da Fan Fest da Fifa, na periferia de Brasília e duas pessoas foram detidas durante uma confusão com a PM.

Manifestantes em Fortaleza atearam fogo em álbuns de figurinhas e lixeiras, nos arredores da arena FIFA Fan Fest Foto: Marília Camelo
Manifestantes em Fortaleza atearam fogo em álbuns de figurinhas e lixeiras, nos arredores da arena FIFA Fan Fest Foto: Marília Camelo

Em Fortaleza, o dia do primeiro jogo da Copa do Mundo começou dividido. Ao mesmo tempo que aproximadamente 500 trabalhadores da construção civil tomaram as ruas dos bairros Meireles e Aldeota, em busca de melhores condições de trabalho para categoria e contra os gastos excessivos na copa, outra parte fazia os últimos retoques nas ruas e na decoração de suas casa para o jogo da seleção.

Enquanto cerca de 20 mil pessoas aproveitavam a Arena Fan Fest, nos arredores uma manifestação tumultou o acesso por alguns minutos. Um grupo de 200 pessoas reclamava contra as violações de direitos humanos e os gastos públicos do evento. O ato começou pacífico, porém, ao chegarem em frente a Fan Fest, por volta das 18h, um grupo de 60 manifestantes com os rostos cobertos atearam fogo em lixeiras e jogaram pedras em direção a arena, além de algumas bombas caseiras. A PM interveio e duas pessoas foram presas. Segundo o chefe do comando de policiamento especializado, Coronel PM José Maria Barbosa Soares, os manifestantes portavam estilingues e bolas de gude.

JORNALISTAS SE MACHUCAM DURANTE MANIFESTAÇÃO


A produtora da CNN Barbara Arvanitidis foi atingida durante o protesto em SP
Foto: Instagran/Alex Thomas - CNN
A produtora da CNN Barbara Arvanitidis foi atingida durante o protesto em SP Foto: Instagran/Alex Thomas - CNN

Jornalistas foram impedidos de ter acesso a determinadas áreas. Em determinado momento, o major Santiago ordenou que a imprensa ficasse em uma calçada. Talvez não tenha notado que os jornalistas estrangeiros não entendiam suas palavras de ordem. Enquanto fazia a transmissão ao vivo do protesto, a repórter da CNN Shasta Darlington e a produtora Barbara Arvanitidis foram atingidas por uma bomba de gás lacrimogêneo. Shasta saiu de cena e só retornou segundos depois da explicação da apresentadora do programa.

As duas foram levadas para o Hospital Estadual de Vila Alpina e ficaram por lá durante duas horas. Barbara saiu com uma tipoia e contou que teve escoriações no antebraço esquerdo. Já Shasta teve ferimentos no braço direito. Elas foram proibidas pela CNN de dar entrevistas, mas disseram que foram bem atendidas no hospital e acreditam que estilhaços de uma bomba foi a causa dos ferimentos. Shasta pretende voltar à cobertura da Copa do Mundo. Já a produtora Barbara estava muito assustada ao deixar o hospital.