Rio

Após garis entrarem em greve, ruas do Centro e da Lapa amanheceram cobertas de lixo

Comlurb afirmou que paralisação é ilegal, mas grupo seguiu protestando na Presidente Vargas
Foliãs caminham em meio ao lixo que toma a Av. Rio Branco Foto: Domingos Peixoto / O Globo
Foliãs caminham em meio ao lixo que toma a Av. Rio Branco Foto: Domingos Peixoto / O Globo

RIO - Ruas da Lapa e próximas à Cinelândia, além da Avenida Rio Branco, amanheceram tomadas por grande quantidade lixo neste domingo de carnaval. Foliões que seguem para os blocos Bangalafumenga, que lota o Aterro do Flamengo e para o Cordão do Boitatá, na Praça Quinze, caminham em meio ao lixo. Até meio-dia, a equipe de O GLOBO não viu nenhum gari nestes pontos da cidade. Na Lapa e na Cinelândia, garçons, funcionários dos bares e ambulantes estão se mobilizando e limpando por contra própria as calçadas em frente a seus estabelecimentos.

Após uma manifestação que durou toda a tarde de sábado, um grupo de 100 garis volta a protestar na Avenida Presidente Vargas. Eles ocupam duas faixas da Avenida Presidente Vargas, no sentido Praça da Bandeira. Eles caminham para a Candelária, na contramão dos carros, grupo segue no sentido contrário. O Batalhão de Choque, soldados da Polícia Militar e agentes da Cet-Rio acompanham a movimentação. Não há informações sobre atos de vandalismo ou agressões. Os grevistas afirmaram que irão manter a paralisação e que farão uma manifestação nesta segunda às 7h na Central do Brasil, logo após o desfile das escola de samba do Grupo Especial.

Neste sábado de carnaval, um grupo de garis prometeu que a categoria iria paralisar as atividades por mais 24h. Eles já seguiam sem trabalhar desde sexta-feira, em um protesto por melhores condições de trabalho, e no sábado fizeram uma manifestação na Avenida Presidente Vargas durante a tarde, com cerca de 800 funcionários da Comlurb.

Em resposta, a Comlurb afirmou ainda no sábado que o grupo dissidente é de aproximadamente 300 pessoas e não interfere no trabalho de limpeza urbana, que trabalha com 15 mil garis. Já neste domingo, a companhia disse, por meio de sua assessoria, que “alguns pontos da cidade sofreram interferência de membros de um grupo de grevistas sem representatividade nem ligação com sindicato reconhecido da categoria e com movimento considerado ilegal pela Justiça do Trabalho, o que dificultou e atrasou a realização dos serviços nestes locais. A Comlurb está mobilizada na correção da limpeza nos pontos onde houve problemas.”

A companhia informou que “está em negociação com o sindicato da categoria, como faz anualmente no período do acordo coletivo”. Na Gerência do Catumbi, garis contaram que não puderam sair do prédio para trabalhar, porque grevistas quebraram vassouras e furaram os pneus de micro-ônibus. De acordo com um gari, que pediu para não ser identificado porque teme medo de ser agredido por algum manifestante, as equipes compareceram ao trabalho neste domingo, mas foram impedidos de sair às ruas.

Manifestação no sábado

A manifestação de sábado , que começou por volta das 13h30 e se dispersou por volta das 17h30m na altura da Av. Passos. Os garis do protesto afirmaram que o sindicato mudou de lado nas negociações. Segundo um documento apresentado por um dos trabalhadores, que identificou-se apenas como Ivair, afirmava que o sindicato propôs uma paralisação de 24 horas no trabalho que começaria à meia-noite do 1º. Ainda segundo o texto, seria realizada uma nova assembleia ao meio-dia de hoje para avaliar uma contraproposta da Companhia.

- Centenas de garis esperaram na porta do sindicato por mais de uma hora, e nenhum representante apareceu. Então decidimos manter a paralisação e só voltaremos a trabalhar quando alguém do sindicato ou da prefeitura conversar conosco. Este que era para ser o carnaval do luxo poderá ser o carnaval do lixo - afirmou Ivair.

Segundo a rádio CBN, bombas de gás lacrimogêneo foram lançadas para dispersar o grupo quando ele se aproximava do Sambódromo. Segundo o Batalhão de Choque o bloqueio ocorreu para impedir que os garis chegassem ao local, acesso já proibido para qualquer pessoa durante o carnaval.

Em meio a foliões e munidos de faixas como "Comlurb em greve", os garis continuaram seguindo em direção a Candelária pela contramão, na pista sentido Praça da Bandeira, e bloquearam a pista sentido Candelária, na altura da Av. Passos. Pelo caminho, todos os carros da corporação tiveram os pneus esvaziados. Na altura da Central do Brasil, um carro da Comlurb teve os adesivos de identificação retirados e os motoristas retirados dos veículos. Vassouras e lixeiras também foram danificadas.

No final da tarde, um grupo de aproximadamente 200 garis organizava-se para escrever um texto com os pleitos para apresentar à Comlurb. Os garis fizeram outras manifestações ao longo da semana.

- Estou na Comlurb há dez anos e não temos boas condições de trabalhos. Queremos articular para montar uma chapa contra o sindicato de hoje - disse o gari Rodrigo Dutra.

Mais de 100 toneladas de lixo em um dia

A Comlurg informou que foram recolhidas 26 toneladas de lixo na Marquês de Sapucaí durante o segundo dia de desfiles das Escolas de Samba do Grupo A. Nos acessos ao Sambódromo, foram recolhidas 4 toneladas de resíduos.

Também no sábado, foram recolhidas mais de 79 toneladas de lixo nas vias da cidade, nos blocos carnavalescos. A limpeza do lixo deixado após a passagem do Cordão do Bola Preta, por exemplo, só terminou na manhã deste domingo, com 12,8 toneladas de resíduos removidos pelos garis.

Na Zona Sul, a Banda de Ipanema gerou 7,6 toneladas de lixo; o bloco Escangalha, no Leblon, produziu 4 toneladas. No Céu na Terra, em Santa Teresa, foram recolhidos 750 Kg.

Já na Zona Norte, a Banda de Madureira deixou para trás 2 toneladas de lixo. Os blocos que desfilaram na Rua Cardoso de Moraes, em Bonsucesso, produziram 2,8 toneladas e os que passaram pela Estrada Intendente Magalhães produziram 5,2 toneladas. No Parque Madureira, que recebeu, ontem, o Mulheres do Zeca, 1,65 toneladas de resíduos foram coletadas.

Desde a última sexta-feira, 98 garis e 44 catadores coletaram 18 toneladas de materiais recicláveis, segundo a Comlurb.