25/07/2014 09h02 - Atualizado em 25/07/2014 13h56

Mostra 'Obsessão infinita' termina no domingo em SP com recorde e selfies

Exposição de artista japonesa deve passar de 500 mil pessoas em 2 meses.
'Selfies comprovam que somos obcecados por nós mesmos', diz curador.

Letícia MendesDo G1, em São Paulo

Fila em frente ao Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, zona oeste de SP. Público espera para ver a mostra da artista Yayoi Kusama no dia 20 de julho (Foto: Mario Angelo/Sigmapress/Folhapress)Fila em frente ao Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, zona oeste de SP. Público espera para ver a mostra da artista Yayoi Kusama no dia 20 de julho (Foto: Mario Angelo/Sigmapress/Folhapress)

A artista japonesa Yayoi Kusama, de 85 anos, não era tão conhecida no Brasil até o público criar um grande "boca a boca" da exposição "Obsessão infinita". A mostra passou pelo Rio, por Brasília e sai de cartaz em São Paulo neste domingo (27). Com o encerramento, a mostra gratuita pode bater um recorde na história do Instituto Tomie Ohtake. Deve passar de 500 mil visitantes desde 22 de maio. A mostra sobre David Bowie, por exemplo, marcou a maior média de público do Museu da Imagem e do Som com 80.190 pessoas em 71 dias.

A artista japonesa Yayoi Kusama (Foto: Divulgação/Instituto Tomie Ohtake)A artista japonesa Yayoi Kusama
(Foto: Divulgação/Instituto Tomie Ohtake)

Ao G1, o curador Paulo Miyada, que já foi assistente de curadoria da 29ª Bienal de São Paulo, conta que tomou "um certo susto" com a procura, mesmo sabendo do sucesso mundial de Kusama. "As exposições dela sempre receberam a atenção do público, em quantidade e intensidade, e isso fortaleceu muito a volta dela aos museus do mundo todo depois dos anos 80, quando ela estava mais reclusa", diz Miyada. Yayoi Kusama fez parte da vanguarda artística de Nova York nos anos 1960, e mora desde 1977 em um hospital psiquiátrico em Tóquio.

Nos primeiros dez dias de "Obsessão infinita", o Tomie Ohtake recebeu 20 mil visitantes. No último fim de semana foram 18.500 pessoas no sábado (19) e 19.500 no domingo (20). Logo, as filas deram volta no quarteirão do instituto, chegando ao pico de 4 horas de espera para ver as obras de Kusama. De acordo com a assessoria, "não há comparativo, pois nunca uma exposição formou fila na porta do Tomie".

"Ela não é uma artista famosa como Van Gogh, Cézanne, ou Andy Warhol. Mas é uma exposição altamente cativante. As pessoas vão uma vez e voltam com família, amigos, e provoca um efeito de contaminação. O interesse foi crescendo ao longo da exposição", afirma Miyada. "É difícil saber o que motiva. Acredito que seja porque o trabalho dela se alimenta de processos obsessivos, repetitivos, o que tem a ver com as nossas próprias manias e recursos para lidar com nossas inseguranças. Ela trata da fragilidade contemporânea de uma forma visualmente sedutora, vibrante, estimulante, e pop. Ela lida com obsessões do nosso cotidiano e apresenta um assunto duro de forma eufórica", descreve.

Quanto ao tempo de visitação das obras, a única que, realmente, tem duração limitada é a "sala dos espelhos". A especificação de 20 segundos para admirá-la veio diretamente do Estúdio Kusama, segundo a assessoria do Tomie Ohtake.

Nossa sociedade é obcecada em falar de si mesma de forma superficial e repetitiva e Kusama lida de forma visual com isso"
Paulo Miyada, curador da mostra

Outro fenômeno motivado pela mostra da artista japonesa foi o compartilhamento de fotos no estilo "selfie" em redes sociais. Os visitantes gastavam mais tempo na exposição para posar ao lado de suas obras. Gabriela Lopes, de 22 anos e estudante de fotografia, diz que descobriu Kusama pela internet há alguns anos. "Tirei algumas fotos sim, evitando atrapalhar a visitação dos outros, mas compartilhei uma só, que não era selfie. Acho um pouco chato, meio massante, já que todos compartilharam a 'mesma coisa'", conta. O Tomie Ohtake promoveu uma campanha que pedia para que os visitantes fotografassem a exposição e publicassem no Instagram. As imagens mais criativas são respostadas na conta oficial do instituto e, depois, vão fazer parte de um vídeo-registro que vai sair no canal do YouTube e na página do Facebook. "Tivemos até hoje 2.557 publicações e 3.774 curtidas no Instagram, e uma média de 300 curtidas no Facebook do Tomie Ohtake no período da exposição", afirma a assessoria.

Miyada compara o "acúmulo de bolinhas" de Kusama com essa obsessão das pessoas em compartilharem tudo nas redes sociais. "As selfies comprovam que somos obcecados por nós mesmos. A nossa sociedade é obcecada em falar de si mesma de forma superficial e repetitiva e ela lida de forma visual com isso. Na prática, essas selfies acabam contribuindo para a divulgação da exposição, que estimula o desejo narcisista do selfie", diz.

Yayoi Kusama - Obsessão Infinita
Onde: Instituto Tomie Ohtake - Rua Coropés, 88 - Pinheiros
Quando: Até domingo (27 de julho) - Telefone: (11) 2245-1900
Ingresso: Entrada franca - Fila da exposição até 17 horas

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Público de 'Obsessão infinita' compartilha em redes sociais fotos tiradas na exposição (Foto: Reprodução/Instagram)Público de 'Obsessão infinita' compartilha em redes sociais fotos tiradas na exposição (Foto: Reprodução/Instagram)
Obra da artista Yayoi Kusama exposta no Tomie Ohtake (Foto: Divulgação)Obra da artista Yayoi Kusama exposta no Tomie Ohtake (Foto: Divulgação)
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