18/03/2016 14h10 - Atualizado em 20/03/2016 10h59

Jovem é agredida em boate após dizer 'não' a rapaz que tentou agarrá-la

Vítima, de 22 anos, levou um soco na boca em Petrópolis, no RJ.
Ela registrou boletim de ocorrência e fez exame de corpo de delito.

Bruno RodriguesDo G1 Região Serrana

Miriam mostra as fotos que tirou após a agressão (Foto: Bruno Rodrigues/G1)Miriam mostra as fotos que tirou após a agressão (Foto: Bruno Rodrigues/G1)

Uma jovem de 22 anos foi agredida em uma boate em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, após se recusar a “ficar” com um rapaz que tentou agarrá-la. O caso aconteceu na madrugada da última quarta-feira (16), feriado de aniversário da cidade. Ela levou um soco na boca e entrou em estado de choque. Miriam Alves registrou um boletim de ocorrência na 105ª Delegacia de Polícia e fez exame de corpo de delito.

Estudante de direito, Miriam foi à boate com a irmã, duas amigas e um amigo. O relato dela já foi compartilhado mais de mil vezes em uma rede social até a manhã desta sexta (18). Por meio de nota a boate disse que repudia qualquer tipo de violência e garantiu colaborar com as investigações (veja a nota abaixo).

Em entrevista ao G1, Miriam conta que, após a agressão, foi ao banheiro da boate para tentar conter o sangramento provocado pelo soco. Ao mesmo tempo, sua irmã e amigas foram atrás dos seguranças pedir que tomassem providências e coloquessem o homem para fora, mas, segundo ela, a equipe da boate informou que não poderia fazer nada, pois não tinham visto a agressão.

Soco acertou a boca da jovem (Foto: Arquivo pessoal/Miriam Alves)Soco acertou a boca da jovem
(Foto: Arquivo pessoal/Miriam Alves)

“Tinha uma mulher sangrando naquele local e os seguranças só colocaram o homem para fora após insistirmos muito. Ficamos todas tão chocadas e tão impotentes que não lembramos nem de chamar a polícia. Minha primeira reação foi pedir que tirassem o agressor de lá. Ele não poderia continuar no local”, disse Miriam.

Segundo Miriam, o rapaz só foi retirado da boate após ela pedir para falar com o segurança chefe do estabelecimento.

“O que acho estranho é que eu não precisei identificar o homem, só disse onde ele estava e o segurança o colocou para fora. Mas, se ninguém da equipe tinha visto o que aconteceu, como sabiam quem era?”, questiona.

Miriam foi agredida em uma boate em Petrópolis (Foto: Arquivo pessoal/Miriam Alves)Miriam foi agredida em uma boate em Petrópolis
(Foto: Arquivo pessoal/Miriam Alves)

Miriam explica que teve medo de sair da boate e o homem estar a sua espera, e só quando chegou em casa se deu conta do assédio que tinha sofrido. “Naquele momento eu comecei a chorar e não tinha com quem desabafar. Então resolvi relatar minha história na internet”, conta.

Segundo a estudante, o segurança da boate deu o nome do agressor, que constava na comanda, e que ela também apresentou à polícia. “Um dos sócios da boate entrou em contato comigo e se comprometeu a dar qualquer assistência médica ou dentária, também disse que vai fornecer as imagens das câmeras de seguranças, que poderão ajudar na identificação do suspeito”, diz.

Mesmo assim, a estudante disse que vai processar a boate por negligência e, após identificar o suspeito, acioná-lo criminalmente. “Mesmo que seja uma pena branda, quero que ele responda pelo que fez. Não é possível que nos dias de hoje homens ainda achem que pode tocar numa mulher, beijar uma mulher só porque ela está dançando na boate sem uma companhia masculina. É uma mentalidade muito pequena”, afirmou.

Relato e compartilhamento

Relato já teve mais de mil compartilhamento (Foto: Reprodução/Facebook)Relato já teve mais de mil compartilhamento (Foto: Reprodução/Facebook)

A jovem diz que após o relato feito em uma rede social, outras mulheres entraram em contato com ela dizendo já terem passado por situação parecida. Segundo Miriam, o caso que mais chamou sua atenção foi de uma menina que levou uma tulipada no rosto, após dizer que não queria "ficar" com um rapaz.

“Ela levou 22 pontos. Saiu da boate sangrando e não teve o mínimo de reparo. Precisou fazer cirúrgias plásticas para esconder as cicatrizes. Isso anos atrás, mas a postura é a mesma. Algumas outras histórias também assustam. Há meninas que tiveram depressão, que até hoje convivem com as marcas do trauma”, afirmou.

Além dos relatos de outas jovens e das mensagens de apoio, Miriam disse também ter recebido comentários de homens que apoiaram a agressão, contestando a sua presença sem um acompanhante masculino na boate.

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Se eu não quero ser beijada ou tocada por um homem ele tem que respeitar"
Miriam Alves

“Se eu não quero ser beijada ou tocada por um homem, ele tem que respeitar. Estou traumatizada com isso tudo, mas, mesmo assim, pretendo criar um grupo para que meninas que tenham sofrido uma violência como a minha falem sobre isso, que crimes como este não saiam impunes. Eu não sou um objeto, sou uma mulher e mereço ser respeitada”, finalizou.

 

Boate lamenta a agressão
Por meio de nota, a boate Savana disse repudiar esse tipo de acontecimento no estabelecimento. 

“A fim de que o agressor não fique impune, as imagens de nossas câmeras de segurança serão entregues às autoridades como prova do ocorrido, para que os responsáveis sejam devidamente penalizados.

O ato, praticado por outro cliente, se opõe à postura de nosso estabelecimento, em atividade há 12 anos, que sempre zelou pela segurança e bem estar de nossos clientes e frequentadores. Trata-se de um caso completamente isolado, inesperado e inadmissível.

A boate Savana, assim como todos os seus representantes e funcionários, condena todo e qualquer tipo de violência, principalmente em se tratando de atitude torpe como a ocorrida. Esperamos que tudo seja apurado e nos colocamos à disposição no que nos for solicitado pelas autoridades para que isto aconteça”.