Política

‘Época’: dono da Engevix cita Edinho Silva e Temer em proposta de delação

Empresário teria pago emissário de vice e pressionado por arrecadador da campanha de Dilma

José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix
Foto: Geraldo Bubniak / Arquivo O Globo
José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix Foto: Geraldo Bubniak / Arquivo O Globo

SÃO PAULO - Cumprindo prisão domiciliar, o engenheiro José Antunes Sobrinho, um dos donos da Engevix, disse em proposta de delação premiada em negociação com a força tarefa da Lava-Jato ter pagado R$ 1 milhão a um emissário do vice-presidente Michel Temer, como forma de agradecimento por participar de uma licitação de R$ 162 milhões da Eletronuclear para operar na usina de Angra 3. Ele também cita na delação o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o tesoureiro da campanha do PT em 2014, Edinho Silva, além da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. As informações são da revista “Época”.

A licitação da Eletronuclear foi vencida em 2012 por uma pequena empresa de arquitetura de São Paulo, a Argeplan, que se associou à Engevix para tocar a obra. Sobrinho relatou ter se encontrado duas vezes com Temer e o dono da Argeplan, João Baptista Lima, no escritório político do vice-presidente em São Paulo para tratar do contrato. Em seguida, dizendo-se emissário de Temer, Lima teria cobrado a contribuição de R$ 1 milhão, que seria aplicada na campanha pela Presidência, em 2014.

Segundo o relato do dono da Engevix, obtido pela “Época”, o valor teria sido pago por meio de uma fornecedora da construtora e nunca foi declarado à Justiça Eleitoral. Depois que o presidente da Eletronuclear nos governos Lula e Dilma, o almirante Othon Pinheiro, foi preso na Lava-Jato, Lima teria procurado o dono da Engevix para tentar devolver-lhe o dinheiro, mas ele não aceitou.

À revista, Temer admitiu o encontro com Lima e o dono da Engevix, mas negou ter tratado de contratos da Eletronuclear. Em nota divulgada ontem, a assessoria do vice-presidente disse “repudiar com veemência as informações publicadas”, pela revista. “Ele não intermediou interesses empresariais escusos em qualquer órgão público nacional. Não cobrou ou delegou poderes a quem quer que seja para arrecadar recursos eleitorais irregulares para sua campanha à vice-presidente em 2014 ou 2010” escreveu a assessoria, na nota.

Sobrinho foi preso pela Lava-Jato em setembro do ano passado , sob suspeita de envolvimento em esquema de propina na obra de Angra 3. Desde dezembro cumpre prisão domiciliar. De acordo com a “Época”, a proposta de delação também cita o presidente do Senado, Renan Calheiros; o senador e presidente do PP Ciro Nogueira; o ministro Edinho Silva, que tesoureiro da campanha de Dilma em 2014 e a ex-ministra Erenice Guerra.

Segundo o engenheiro, o consórcio Inframérica, do qual a participa a Engevix, enfrentava problemas financeiros por causa do atraso na liberação de um empréstimo pela Caixa. Ele afirma ter sido procurado por dois lobistas ligados a Ciro Nogueira (PP-PI) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Eles acertaram receber 1% da propina e disseram que parte do dinheiro iria para Ciro. Segundo a “Época”, Sobrinho pagou R$ 2 milhões, em parcelas de R$ 400 mil. À revista, Renan disse não ter praticado qualquer impropriedade com órgãos públicos.

Sobre Edinho Silva, tesoureiro da campanha da presidente Dilma em 2014, Sobrinho disse ter sido procurado por ele, cobrando R$ 5 milhões de colaboração para campanha. A empresa teria decidido colaborar com apenas R$ 1 milhão. Edinho negou o diálogo em tom de cobrança com Sobrinho e disse que todas as doações foram realizadas “por livre e espontânea vontade”.

Na tentativa de delação, Sobrinho afirmou, ainda, ter sido condenado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) a pagar R$ 10 milhões à Eletronorte, e revertido a decisão no órgão depois de contratar a consultoria de Elenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil, por R$ 2 milhões. Segundo ele, ela teria usado apenas sua “influência” para reverter a decisão. A ex-ministra não quis comentar.

Sobrinho também disse ter pagado R$ 239 mil a um amigo do ex-marido de Dilma, Carlos Araújo, para receber apoio do governo em pleito por financiamento. Na delação, disse não saber o amigo de Araújo “usava seu nome ou era um operador dele”. Segundo Sobrinho, o pleito por financiamento não foi atendido pelo governo.