• 08/07/2014
  • POR CYNTHIA GARCIA; FOTOS DENILSON MACHADO / MCA ESTÚDIO / DIVULGAÇÃO
Atualizado em
Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

Além da obra site-specific de Regina Silveira sobre a lareira da Construflama, também se destacam no living o conjunto de poltronas de Jorge Zalszupin e a mesa de centro de Sergio Rodrigues, adquiridas na Loja Teo, e o tapete da Botteh – ao fundo, vê-se parte do jardim assinado por Alex Hanazaki

As tatuagens que o arquiteto Guilherme Torres tem pelo corpo vêm trazendo bons ventos à sua trajetória. “Em gera, o arquiteto evoca uma imagem tradicional. No ramo, sou precursor deste visual, me dá sorte”, afirma o paranaense de 40 anos, nascido em Cianorte, que tem seu lema eternizado no braço esquerdo – “work it harder, better, faster, make it over” –, inspirado na letra de Harder, Better, Faster, Stronger, da dupla francesa Daft Punk e, no direito, figuras que remetem a um jogo de Atari. “Fui campeão de Space Invaders nos anos 1980”, conta o profissional, que vem jogando na arquitetura com uma linguagem apoiada na cultura pop contemporânea e na brasilidade.

Foi o amarelo da bandeira brasileira que se converteu no ponto de partida desta casa de 1.050 m² de área construída, no bairro Cidade Jardim, em São Paulo. “Adorei a proprietária ter esta cor em mente ao me contratar. É símbolo da criatividade, do otimismo, da prosperidade e da felicidade. Comprei a ideia na hora, tudo a ver com nosso país! E, convenhamos, é tão difícil cliente pedir cor...”

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

Na sala de jantar, cadeiras Tião (1959), design Sergio Rodrigues, rodeiam a mesa Jet, criação de Guilherme Torres, diante da escultura de Hilton Berredo

O amarelo tinge a imponente porta pivotante de 2,40 x 2,40 m, executada com estrutura de aço corten e vidro laminado jateado de tinta serigráfica, que introduz a parte social da moradia. Do pátio interno revestido de lambril e treliça com o marrom denso do cumaru, nobre madeira amazonense, a porta se abre para o luminoso hall social em um gesto arquitetônico de grande efeito. Nesse espaço, coincidentemente, está o díptico do artista plástico nascido em Niterói, Rafael Alonso, que também reverencia a auspiciosa cor.

A serenidade dos materiais – a alvenaria branca, a pedra madeira e o travertino – compõe o cenário,que abriga mobiliário de nomes como Joaquim Tenreiro, Jorge Zalszupin, Sergio Rodrigues, Percival Lafer, Carlos Motta e do próprio Guilherme Torres, pontuado por uma coleção de arte brasileira, com uma grande obra de Regina Silveira, sobre a lareira do living, concebida especialmente para o local.

Nesta arquitetura em que prevalece a simplicidade e a precisão há uma sensação do neomodernismo paulistano caro a nomes como Marcio Kogan e Isay Weinfeld. “Já tentei trilhar outros repertórios, mas acabo me deparando com as mesmas referências dos projetos deles. Não é uma influência, é algo muito mais profundo, visceral até, eu diria”, garante.

No térreo, com área social de 130 m² adjacente à varanda de 25 m², que se volta para a piscina, está uma das forças da construção: a possibilidade de total integração entre os espaços de convivência. Generosos panos de vidro se recolhem dentro das paredes, transformando o living numa extensão do jardim com jabuticabeira e jasmim-manga, concebido por Alex Hanazaki. O mesmo recurso vale para o terraço, que pode ser convertido em home theater ou varanda, conforme o desejo do casal com três filhos.

“Gosto de pensar que meus projetos poderiam ter sido construídos há um século ou no futuro. Acredito na elegância atemporal”, menciona Guilherme sobre a residência com sua assinatura, que representa o melhor da nossa arquitetura urbana contemporânea, tanto no conceito tropical como no detalhamento de sofisticada sutileza plasmado nos quatro pisos, do subsolo ao escritório forrado de vidro refletivo, que coroa esta casa solar.

* Matéria publicada em Casa Vogue #346 (assinantes têm acesso à edição digital da revista).

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

Outra seção do living, com sofás revestidos de tecido da JRJ, par de poltronas (anos 1950), de Percival Lafer, tapete da Século e mesa de centro Spin, de Guilherme Torres

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

Vista da entrada, com a porta amarela

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

A vedete da área externa é a piscina revestida de pedra Hitam, da Palimanan, ao lado das poltronas Astúrias, design Carlos Motta, revestidas de tecido da Regatta – a tela que se vê na varanda é do pintor Paulo Whitaker

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

A varanda, que se transforma em home theater, leva sofá com tecido da Regatta.

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

Díptico de Rafael Alonso, tela de Cícero Dias e, no piso, obra de Iván Navarro decoram o hall de entrada

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

Cadeiras de Tenreiro e tela de João Pedro Vale na varanda

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

A suíte máster tem cama da Auping com cabeceira desenhada por Guilherme Torres

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

A treliça de cumaru filtra a luz e cria desenhos com sombras na área de circulação da casa

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

As superfícies revestidas de madeira e a porta amarela emolduram o jardim tropical e criam uma transição suave entre interior e exterior

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

Arte moderna alegra a mesa de jantar Jet, criada por Guilherme Torres, que dialoga com as cadeiras Tião, desenhadas em 1959 por Sergio Rodrigues. No destaque, tela de Burle Marx

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

Treliças de madeira diminuem a insolação e preservam a privacidade do corredor no piso superior

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

A arte contemporânea também habita as áreas de circulação. Da esquerda para a direita: pintura de Rafael Alonso, quadro de Cícero Dias e escultura de Iván Navarro

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

Samambaias e bromélias alegram o jardim de inverno do banheiro, que tem bancada de mármore  

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

A parede de pedra da piscina continua até o interior da sala de estar. A medida de design contribui para dissolver fronteiras entre interior e exterior

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

As confortáves poltronas Astúrias, de Carlos Motta, criam um ambiente de descanso à beira da pisicina e recebem a sombra do jardim projetado por Alex Hanazaki

Guilherme Torres - Casa em SP (Foto: Denilson  Machado / MCA Estúdio / Divulgação)

Os ambientes térreos têm amplos panos de vidro que abrem-se ora para o jardim, ora para a piscina