Política Lava-Jato

Lula agiu para comprar silêncio de Cerveró, conclui PGR

Denúncia contra Lula feita ao STF cita troca de mensagem com Delcídio
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Foto: Daniel Marenco / Agencia O Globo 16/04/2016
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Foto: Daniel Marenco / Agencia O Globo 16/04/2016

BRASÍLIA — A denúncia apresentada contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Supremo Tribunal Federal incluiu dados de quebra de sigilo bancário que reforçam as acusações contra o petista. O texto da denúncia, enviado ao STF no início deste mês e mantido em sigilo até agora, foi revelado pelo “Jornal Nacional”, da TV Globo, nesta quarta-feira. A conclusão da Procuradoria-Geral da República é de que o senador cassado Delcidio Amaral e seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira, se juntaram ao ex-presidente Lula; a José Carlos Bumlai, pecuarista e amigo do ex-presidente; ao filho de Bumlai, Mauricio Bumlai, e atuaram para comprar por R$ 250 mil o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

A denúncia cita registros de ligações telefônicas entre o empresário José Carlos Bumlai e Lula, além de mensagens trocadas por Lula com o senador cassado Delcídio Amaral. Para a PGR, esses registros são indícios do pagamento de propina à família de Nestor Cerveró.

O ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, acolheu pedido da Procuradoria para fazer o rastreamento de um cheque e dois saques em espécie que Maurício Bumlai , filho do pecuarista José Carlos Bumlai, teria feito para subornar a família de Cerveró.

Com base na decisão de Teori, Janot deverá fazer levantamento sobre um cheque de R$ 49.206,77, do Bradesco, que Maurício teria usado para fazer um dos pagamentos antecipados a Bernardo Cerveró, filho de Cerveró. O cheque foi sacado em 18 de agosto do ano passado. O procurador-geral também fará o rastreamento dos saques em espécie, um de R$ 50 mil e outro de R$ 25 mil. As somas foram sacadas entre maio e junho passados. A suspeita é que o dinheiro também foi usado para comprar o silêncio do ex-diretor, que, naquele período, estava preso e negociava delação premiada com o Ministério Público Federal.

Ainda segundo a PGR, Lula se reuniu com Delcídio cinco vezes entre abril e agosto do ano passado, antes e durante as tratativas e os pagamentos pelo silêncio de Cerveró.

Em delação, Delcídio disse que Lula e Bumlai estavam envolvidos na operação de compra do silêncio de Cerveró, para tentar impedir que ele contasse aos investigadores irregularidades cometidas pelo empresário e por Lula.

Os desdobramentos da investigação podem aumentar a pressão sobre Lula. O ex-presidente é acusado de pedir a Delcídio Amaral para interferir na delação de Cerveró e impedir que o ex-diretor fizesse qualquer acusação contra o amigo Bumlai. As acusações surgiram na delação premiada de Delcídio e foram encampadas pela Procuradoria, que concluiu que o petista teve "papel central" ao impedir as investigações.

“(Lula) impediu e/ou embaraçou investigação criminal que envolve organização criminosa, ocupando  papel central, determinando e dirigindo a atividade criminosa praticada por Delcídio do Amaral, André Santos Esteves, Edson de Siqueira Ribeiro, Diogo Ferreira Rodrigues, José Carlos Bumlai”, diz trecho do documento obtido pelo "Jornal Nacional".

OUTRO LADO

Em nota, o Instituto Lula declarou que o ex-presidente já esclareceu em depoimento prestado à Procuradoria Geral da República que jamais conversou com Delcídio do Amaral com o objetivo de interferir na conduta do condenado Nestor Cerveró ou em qualquer outro assunto relativo à Operação Lava Jato.

Ao "Jornal Nacional", a defesa de José Carlos Bumlai negou as acusações e afirmou que ele nunca pagou qualquer valor a Cerveró. A defesa declarou que o ex-senador Delcídio do Amaral está vendendo informações falsas em troca de sua liberdade.

Os advogados de Maurício Bumlai informaram, também ao telejornal, que só comentarão o caso depois de terem acesso à denúncia inteira.

A defesa de Diogo Ferreira confirmou os pagamentos, mas disse que foram feitos a mando do ex-senador Delcídio do Amaral.

O advogado de Edson Ribeiro declarou que seu cliente sequer conhece Lula e Bumlai e voltou a afirmar que Ribeiro jamais participou de qualquer ato de obstrução à Justiça.

A defesa de André Esteves declarou que seu cliente não cometeu nenhuma irregularidade.