Política

Para Marina, PT usa ‘marketing selvagem’ contra adversários

Candidata do PSB chega a evento de táxi, mas participa do Dia Mundial sem Carro em Brasília

Marina assina compromisso com a União de Ciclistas do Brasil (UCB)
Foto: André Coelho/ O Globo / Agência O Globo
Marina assina compromisso com a União de Ciclistas do Brasil (UCB) Foto: André Coelho/ O Globo / Agência O Globo

BRASÍLIA - Durante palestra na “V Assembleia Geral Eletiva da Associação Nacional de Educação Católica no Brasil (ANEC)”, a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, reagiu aos ataques da campanha do PT, e disse que é preciso ter “bom senso e discernimento” diante do “marketing selvagem” que a acusa de querer “acabar com tudo”. Marina disse que vai manter e ampliar o Bolsa Família e defendeu a redução dos juros. Com uma plateia de religiosos católicos, ela foi aplaudida várias vezes. Marina disse que será presidente de todos e que o Estado é laico.

— Estão dizendo aí que vou acabar com tudo e que vou acabar com o resto. Contra o marketing selvagem. Só o discernimento. Para vocês que são religiosos, peço a Deus que os brasileiros tenham discernimento. Não dá para acreditar que uma pessoa acabar com o Fies, o Pronatec, o Bolsa Família, o 13º salário, as férias, que possa privatizar a CEF e o Banco do Brasil. Se uma pessoa pode fazer tudo isso é porque temos um país de papel? Isso fere a inteligência dos brasileiros. Nosso objetivo não é destruir a presidente Dilma ou o governador Aécio. É construir um país socialmente justo — disse Marina, irônica e provocando risos e aplausos.

Mais cedo, em entrevista ao “Bom Dia Brasil”, da TV Globo , a presidente Dilma Rousseff negou que esteja fazendo uma campanha do medo contra sua principal opositora na corrida eleitoral. Dilma disse que está apenas "alertando" a população sobre as repercussões que as propostas de sua opositora podem ter. Dilma questiona, por exemplo, como Marina manterá os investimentos sem a ajuda dos bancos públicos. Outro ponto contestado por Dilma é a independência do Banco Central.

Evangélica, Marina disse que o Brasil sempre foi um ambiente de tolerância entre as religiões e que a "guerra de 20 anos" entre o PT e PSDB está contaminando tudo isso.

— O Brasil sempre foi um ambiente de tolerância com as diferentes religiões. Não podemos fortalecer a briga entre nós. Serei presidente de todos os brasileiros. O Estado laico assegura o direito de quem crê e de quem não crê. Mas Estado laico não é Estado ateu. Sou evangélica e respeitamos a fé católica. Que Jesus possa nos abençoar — disse Marina.

Marina reagiu às críticas dos adversários ao seu programa de governo e à falta de apoio de partidos políticos para governar. Ela disse que "ninguém governa sozinho", mas que não vai dividir o governo em "pedaços", como é feito na política atual. Ela criticou a "governabilidade programática", condenando a divisão de cargos em órgãos e na Petrobras. A candidata disse que quer ganhar a eleição, mas não com base no "vale-tudo" e que seu objetivo não é "destruir a presidente Dilma Rousseff (PT) ou o candidato do PSDB, Aécio Neves.

Marina disse que a população quer a renovação da política, sem a divisão de poder entre os partidos.

— A própria presidente Dilma, que tem 400 parlamentares na sua base, disse que não tem parlamentares que deem suporte a essas propostas. Essa governabilidade pragmática, onde se consegue negociação em função de troca de pedaços que possam chamar de seus dentro do governo, dentro da Petrobras, isso não funciona. As pessoas me criticam: ela quer acabar com todos os partidos. Mas digo que quero os melhores (nos partidos) e dizem que quero acabar com os partidos. No governo, eles vão trabalhar e fazendo o que chamo realinhamento político — disse Marina, acrescentando:

— O PT, para governar sozinho, se entregou ao PMDB, na figura simbólica do Renan e de outros. Sonho que nos deem a vitória para que os que estão no banco de reserva possa entrar em campo. Espero seja mais fácil dialogar com Lula e FH do que com Sarney e ACM. É completamente diferente.

Com uma plateia católica, Marina foi aplaudida várias vezes. Marina provocou aplausos quando falou da citação de dar a outra face ao ser atacado. Ela disse que, "ao levar bofete", não ofereceria simplesmente a outra face do rosto dolorido, mas sim mostraria a face da verdade.

— Não quero ganhar perdendo. Quero ganhar ganhando. E não levar o bofete de um lado e dar a outra face (do rosto). Mas, para a face da mentida, a verdade. Para a face da corrupção, a honestidade.

Alvo de ataques dos adversários Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) por causa do seu programa, Marina disse que a sociedade não pode assinar um "cheque em branco" e a proposta foi elaborada "a várias mãos", sendo a base da aliança com o PSB de Eduardo Campos. Marina disse ainda que não se pode ter uma "atitude mesquinha de oposição ferrenha" e nem um comportamento "complacente" com a situação vigente.

Marina falou sobre Educação na palestra, defendendo ensino integral e uma Educação de qualidade. Também prometeu aumentar os investimentos em Educação, que hoje estaria entre R$ 2 mil a R$ 3 mil por aluno. Mas não disse de quanto seria esse aumento no gasto com cada aluno.

— O programa foi feito a muitas mãos. E estabelecemos que o polo estabilizador da nossa aliança seria o programa. A sociedade não pode assinar um cheque em branco. Não podemos continuar a cultura da polarização. Tudo que a gente vê é uma guerra entre o azul e o vermelho. E não queríamos entrar na guerra do amarelo e do verde. Ninguém governa sozinho, mas não se pode querer governar com base na distribuição de pedaços de espaço e que os donos os chamem esses pedaços de seus. E não se pode ter uma atitude mesquinha de oposição ferrenha e nem de situação complacente. É preciso preservar as conquistas e ampliá-las, mas sem complacência com os erros e corrigi-los. Vivemos uma crise grave, uma crise ambiental profunda — disse Marina.

A candidata do PSB disse que é preciso ter uma visão "integrada" da Educação.

— Nosso programa pensa a educação como um processo integral de educação. É fundamental investir na infraestrutura humana. Há uma falta de uma visão estratégica para a educação, para termos uma educação de qualidade para ricos e para pobres, em pé de igualdade. A educação de qualidade faz a diferença. Tiveram na Educação a única fresta de oportunidade. Os professores precisam ser valorizados simbólica e economicamente. Temos que educar as crianças na idade certa. há um déficit entre a idade que deveria encerrar o ensino e a disparidade certa e a idade que hoje está sendo propiciada seja reparada. É a educação integral. E ter a educação como uma fonte da redução das desigualdades. É muito genérico, mas existem diferenças nas regiões — disse Marina.

Ela contou que se alfabetizou aos 16 anos e que, quando se aposentar, pretende se dedicar à educação de crianças e adultos.

— Quando fui para a escola pela primeira vez, minha roupa era um vestido de chita e minha sandália era uma havaiana, pertencia a uma classe dos excluídos dos excluídos.

Ao final, o padre Marcelo Aquino disse que católicos e evangélicos eram irmãos e citou a biografia de Marina e Dilma.

— Nos sentimos irmãos cristãos católicos dos irmãos cristãos evangélicos. Nosso Papa Francisco tem falado muito no discernimento. A senhora está em casa, entre irmãos e irmãs, mas está entre cidadão -— disse ele.

TÁXI NO DIA MUNDIAL SEM CARRO

Em uma das últimas agendas na capital federal antes da eleição de 5 de outubro, a candidata Marina Silva, assinou hoje carta de compromisso com a ONG Rodas da Paz. O evento no Setor Comercial Sul foi para marcar o Dia Mundial sem Carro. Marina chegou em um táxi e depois se dirigiu à palestra na Associação Nacional de Educação Católica. Na entrada, Marina brincou com a imprensa:

— Todo mundo sabe que não sei andar de bicicleta, mas admiro muito quem faz isso.

Assessores de Marina foram pedalando do primeiro evento até o segundo.

A coordenadora de governo de Marina Silva, Neca Setúbal, comentou o erro cometido pelo IBGE no calculo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). O governo criou uma comissão de sindicância para apurar a falha. A comissão terá 30 dias para apresentar os resultados.

— Esse erro foi no mínimo estranho — disse Neca.

ATAQUES À MÁ GESTÃO DO IBGE

Marina também criticou as declarações da presidente de que o erro do IBGE no cálculo da PNAD teria sido "banal" . Segundo Marina, o órgão teria sido alvo de ´"má gestão" devido a indicações políticas. Marina rebateu Dilma, afirmando que o problema não teria sido banal.

- Lamento que a má gestão esteja prejudicando instituições que são tão respeitadas pela sociedade, como é o caso do IBGE, que sei que tem técnicos competentes, comprometidos, e que agora se veem diante de situações que prejudicam a credibilidade dessa instituição tão importante para o planejamento e feitura de políticas para resolver graves problemas do estado. Não acho que se deva tratar esses problemas todos como se fossem banais, devem ser tratados com o nível de preocupação que o problema requer e nosso compromisso é que os cargos sejam preenchidos com critérios técnicos, éticos, por comitê de busca - afirmou Marina.

A candidata também comentou o uso do Palácio do Alvorada pela presidente Dilma para gravação de entrevistas. No sábado, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), José Antônio Dias Toffoli, afirmou em entrevista que o uso constitui "vantagem indevida" da presidente sobre os demais candidatos ao Palácio do Planalto. Ontem, o PSDB afirmou que entraria com representação na Corte para impedir essa utilização .

- O problema da reeleição é exatamente o de criar confusão entre o uso institucional para o exercício da função e o uso dos meios e equipamentos do Estado para a campanha. Essa é uma ambiguidade que será resolvida com o fim da reeleição, com que estou comprometida no nosso programa desde 2010 e estou antecipando que só terei 4 anos de mandato - disse.