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Mestres e chefs cervejeiros ajudam a revitalizar áreas em Chicago, nos Estados Unidos

Cervejarias artesanais abrem suas portas para visitas guiadas e agências criam roteiros voltados para a bebida

Degustação de cervejas artesanais no gastropub da DryHop, que completou um ano em Chicago
Foto:
Mari Campos
Degustação de cervejas artesanais no gastropub da DryHop, que completou um ano em Chicago Foto: Mari Campos

CHICAGO - Desde os tempos de Al Capone, Chicago sempre esteve ligada à bebida. Parece mesmo rumo natural da história a explosão do movimento das cervejarias artesanais na cidade nos últimos anos. Em ritmo acelerado, novas casas abrem pela cidade ao longo do ano, acompanhando com intensidade um movimento que se espalha pelos Estados Unidos. A associação de cervejeiros americanos registrou em 2013 quase 2.500 cervejarias legalizadas, contra as 1.500 que existiam em 2008.

Não à toa, é em Chicago que fica o Siebel Institute of Technology, a mais antiga escola cervejeira do país, especializada em treinamentos e estudos do mercado e que forma centenas de novos profissionais da área todos os anos. Estima-se que seja aberta nos EUA ao menos uma nova cervejaria artesanal por dia; o estado de Illinois conta com mais de 80 e Chicago, hoje, com mais de 30 delas só nos limites da cidade. O calendário local conta também com eventos como o Festival of Wood and Barrel Aged Beer, em novembro, e o Chicago Craftbeer Week, em maio, cujos ingressos costumam ser vendidos em algumas horas.

Dizem que tudo teria começado com imigrantes alemães que chegaram à cidade no século XIX — Chicago abriu sua primeira cervejaria comercial ainda nessa época. Em 1900, existiriam cerca de 60 delas produzindo cem milhões de galões de cerveja por ano. A maioria delas, é claro, não resistiu à Era da Proibição.

Foi a abertura da Goose Island em 1988 que mudou os rumos da história e trouxe a cerveja artesanal de volta à cidade. Com sucesso e crescimento constantes, estimulou, ainda que timidamente no princípio, a abertura de novas empresas do gênero, como Three Floyds, Two Brothers e Metropolitan.

A mais antiga cervejaria artesanal da cidade é tão bem-sucedida que há três anos foi comprada pela Anheuser-Busch InBev por quase US$ 40 milhões de dólares. A 312 é sua cerveja mais famosa e pode ser encontrada em praticamente todo bar da cidade; Honker’s Ale e India Pale Ale completam o trio de mais vendidas da empresa.

Mas quem vai à sede da Goose Island geralmente busca seus sabores mais raros, como as coleções Vintage e Vintage Reserve, Matilda (uma pale ale de estilo belga) e a Bourbon County Stout, envelhecida em barril. Há até espumantes à base de cerveja. A cervejaria original em Clybourn opera junto com a unidade em Wrigleyville e ambas ainda são de propriedade de John Hall, o fundador original da marca.

Torneiras de chope na fábrica da Goose Island, em Chicago Foto: Mari Campos
Torneiras de chope na fábrica da Goose Island, em Chicago Foto: Mari Campos

Todas as novas cervejarias se inspiraram na trajetória de sucesso da Goose Island para abrir sua própria companhia. Muitos, como Josh Deth, sócio da Revolution Brewing Company, aberta em Logan Square em 2010, foram mestres cervejeiros da Goose Island antes de abrirem suas cervejarias artesanais.

Unidades que produziram 24 mil barris em 2013 estimam fabricar o dobro este ano. Estabelecimentos que apenas serviam cerveja artesanal — conhecidos localmente como brewpubs e tap rooms — estão começando sua própria linha de produção. Hoje você encontra em Chicago as lagers da Metropolitan, as belgas da Une Annee, as ales da DryHop e até as chamadas latin style da 5 Rabbit Cerveceria. Muitos chefs locais também abraçaram a onda cervejeira e criam menus que harmonizam em perfeição com elas. Alguns deles já se descrevem até como parte de um novo movimento batizado de culinary brewing .

A DryHop Brewers é uma das mais jovens minicervejarias. Lançada em junho do ano passado no novo bairro trendy da cidade, Lakeview (próximo ao Wrigley Stadium, do Cubs), seu gastropub produz pequenas quantidades das próprias cervejas artesanais em duas pequenas salas anexas ao bar. As tipo ale feitas sob supervisão do mestre cervejeiro Brant Dubovinik são o pretexto para lotar a casa todas as noites e nos finais de semana. Com nomes bem-humorados (Shark Meets Hipster, Batch 001, As The Crow Flies), são servidas em pints comuns ou em flights, pequenas degustações de três ou quatro delas a cada vez — em geral harmonizadas com petiscos do chef Pete Repak. E a microloja ao lado do bar garante que você possa levar para casa a sua preferida.

As cervejarias oferecem tours e muitos deles são gratuitos. Você pode simplesmente entrar no tap room (bar) e pedir um copo, mas é interessante ver como a produção de algumas delas ainda é quase amadora de tão pequena. O tour mais concorrido é o da Goose Island, aos sábados e domingos,e vale reservar com pelo menos duas semanas de antecedência para garantir o dia e hora que você deseja. Dura aproximadamente uma hora e custa US$ 10, incluindo seis degustações e o copo usado de presente.

Lakeview East, bairro com grande concentração de nanocervejarias em Chicago Foto: Mari Campos
Lakeview East, bairro com grande concentração de nanocervejarias em Chicago Foto: Mari Campos

Em Logan Square, a Revolution Brewing tem pouco mais de quatro anos de história. Para quem ficar indeciso entre tantas opções de cerveja (são mais de 60), a casa oferece degustações de sabores por US$ 2 cada. As mais famosas são a estilo americano Anti-Hero IPA, a White Ale Bottom Up Wit e achocolatada Eugene Porter. De quarta-feira a domingo acontecem tours gratuitos.

A Half Acre, em plena Lincoln Avenue, tem um belo bar onde a Alpenglow costuma ser a mais pedida. A Une Année, no badalado West Loop, ficou famosa pelas cervejas belgas e começou como um simples hobby do proprietário Jerry Nelson — hoje, suas Maya Belgian IPA e Less is More, e a Devil’s Reign, em colaboração com a DryHop, estão entre as mais pedidas. O tour ali é informal.

A Pipeworks Brewing, apesar de nova, já é considerada cult pelos cervejeiros da cidade. Em Wicker Park desde 2012, é a queridinha de muitos moradores, inclusive pela própria figura pública de um de seus proprietários, Beejay Olson (que tatuou beer geek nos dedos da mão). A casa oferece sabores inusitados como stouts com chocolate mexicano, chilli e canela.

Tantas opções pela cidade inspiraram a historiadora Liz Garibay a criar a empresa Tales, Taverns & Towns, que promove tours regulares em grupo ou privativos (preços sob consulta). Os passeios, com duração de cerca de três horas, contam de maneira bem-humorada um pouco da história de Chicago através do álcool, incluindo visitas a cervejarias e degustação de algumas cervejas artesanais ao longo do trajeto.

SERVIÇO

Goose Island: Tours aos sábados (12h30m, 14h e 15h30m) e domingos (13h30m, 15h e 16h30m). US$ 10. 1.800 N. Clybourn Ave. gooseisland.com

Half Acre: Tours aos sábados, às 11h. US$ 10. 4257 North Lincoln Ave. halfacrebeer.com

Revolution Brewing: Tours gratuitos de quarta a sexta-feira, às 18h; sábados, das 15h às 18h, e domingos, às 15h e às 16h. 2.323 Milwaukee Avenue. revbrew.com

Tales, Taverns & Towns: O próximo tour será em 10/9. US$ 30. talestavernsandtowns.com