• Dib Carneiro Neto
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Chovendo na Roseira Dib 2 (Foto: Divulgação)

Está quase terminando sua temporada no Sesc Belenzinho o musical Chovendo na Roseira, mais uma direção da premiada Fernanda Maia. A diretora realizou sua primeira incursão na direção geral com o agradável Canção de Amor em Rosa, que usava as músicas de Noel Rosa como ilustração para uma trama de namoricos que remetia às novelas de época do horário das seis, pela leveza, pelo tema romântico, pelas canções saudosistas. Outra esperta dramaturgia que bebia na inesgotável fonte de nossa música popular, ‘Menino Lua’ retratava o universo dos baiões de Luiz Gonzaga, o Gonzagão. Eis que temos agora Chovendo na Roseira, em que Fernanda Maia assina roteiro (dramaturgia), direção geral e direção musical, além de estar em cena com mais três músicos e quatro atores.

Não temos mais um único compositor como apoio, como foi o caso de Noel Rosa e Gonzagão. As letras de suas canções, mais do que suas histórias de vida, serviam de inspiração para as duas tramas. Agora, em ‘Chovendo na Roseira’, Fernanda partiu não da obra de um único compositor. Partiu, antes, de uma situação fictícia e só depois foi escolher músicas variadas que ilustrassem essa ficção – verdadeiras pérolas da nossa MPB. Para falar de uma menina solitária (Helena Ritto), sem atenção dos adultos, que descobre os encantos do jardim de sua casa, Fernanda Maia escolheu justamente canções que falam de natureza, de ‘fora de casa’, de sol, de água, de passarinhos, de céu, de rio e de mar.

Chovendo na Roseira Dib (Foto: Divulgação)

Não poderia ter feito melhores escolhas no repertório riquíssimo de nosso cancioneiro.  O elenco canta maravilhas como ‘A Correnteza’ (Tom Jobim e Luiz Bonfá), ‘Águas de Março’ (Tom Jobim), ‘Água’ (Djavan), ‘Estrada do Sol’ (Jobim e Dolores Duran), ‘Passaredo’ (Chico Buarque e Francis Hime), ‘A Cigarra’ (Milton Nascimento) e ‘Azul’ (Djavan).  E, claro, Chovendo na Roseira, de Tom Jobim, que dá título à peça. Os novos arranjos para essas velhas canções são sensacionais – um atrativo extra para os adultos da plateia. Além da música, destaque para os figurinos divertidos, assinados por Zé Henrique de Paula e Cy Teixeira.

O que ocorre, porém, ao contrário das duas peças anteriores, é que o fiapo de história não se sustenta muito. A menina, no jardim, conhece um passarinho (Luciana Ramanzini), uma cigarra (Caio Salay) e um sapo (Jonathan Faria). São três personagens que não se desenvolvem. Não têm falas, não têm conflitos, não têm ações. Cantam muito bem, mas é só. Senti falta, desta vez, de uma dramaturgia mais consistente. O espetáculo alinha uma bela canção atrás da outra, e é isso – mais um roteiro de canções do que uma fábula bem contada. O que salva é que esse roteiro de canções é encantador, arrebatador e consegue dar o seu recado, fazendo a plateia aplaudir muito o espetáculo, do começo ao fim. Não é pouco. Não percam.

Serviço

Sesc Belenzinho. Rua Padre Adelino, 1.000, Quarta Parada, São Paulo, tel. 11 2076-9700. Sábados e domingos, ao meio-dia. Ingressos de R$ 2,00 a R$ 10,00. Só até o dia 14/9.

Dib Carneiro Neto (Foto: Acervo Crescer)

Dib Carneiro Neto é jornalista, dramaturgo (Prêmio Shell 2008 por Salmo 91), crítico de teatro infantil e autor do livro Pecinha É a Vovozinha (DBA), entre outros. Escreva para ele: dib.colunista@edglobo.com.br